quarta-feira, 16 de julho de 2008

A FÉ SALVADORA



No dia 14 do corrente o Jornal Público, publicava a primeira grande entrevista de Ingrid Betancourt, a colombiana, agora libertada e que foi presa na selva pelas FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, durante quase sete anos.
Retirei algumas passagens, dessa entrevista, que considero bastante interessantes, sobretudo sobre o ponto de vista antropológico.
“(…) Passei por coisas terríveis. Acho que o pior foi ter percebido que os seres humanos podem ser tão horríveis com outros seres humanos. Num ambiente de solidão espiritual, quando à minha volta não havia mais do que inimigos agressivos, aprendi a não reagir como reagia antes. Tive de aprender o silêncio e a baixar a cabeça. Só podia falar com a virgem. Bravo Maria. Descobri que podemos ser levados a odiar uma pessoa, a odiar com todas as forças do nosso ser e, ao mesmo tempo, a encontrar o alívio através do amor. Dizia: Por ti, Senhor, não vou dizer que o odeio. Por vezes um guerrilheiro vinha sentar-se junto de mim, cruel, abominável, e eu era capaz de lhe sorrir. (…) Nunca, nunca, nunca perdi a fé. Deus esteve comigo do primeiro ao último dia da minha horrível experiência. E continua comigo. Eu rezo todos os dias. Desde o momento em que fui libertada peço-lhe que nos conceda o milagre de libertar os outros reféns como fez connosco. Porque para mim foi um milagre”, extracto da entrevista de Ingrid Betancourt.
Depois de lermos estas palavras, sendo crentes ou não, temos de admitir que a fé, para além do ponto de vista de análise antropológica, tem realmente muita força anímica e espiritual. Francamente, depois destas palavras sinceras, deste abrir de coração, desta confissão extraordinária, poderá alguém argumentar contra a fé? Pouco importa se é um dogma –proposição apresentada como irrefutável- e os dogmas, na sua carapaça, petrificantes e herméticos, são limitadores da gnose, do conhecimento, e do livre questionar.
Mesmo havendo agnósticos –aqueles que professam o agnosticismo, sistema filosófico segundo a qual o espírito humano ainda se encontra impossibilitado de alcançar a origem da vida-, ou ateus –aqueles que, no seu cepticismo ou incredulidade, negam a existência de qualquer divindade, como por exemplo Deus-, qualquer um seguidor destes sistemas, de denegar a fé, perante uma confissão destas, fica desarmado.
Uma coisa teremos de admitir, as religiões e a fé a elas coadjuvadas, no âmbito da antropologia têm uma força inegável. Uma força imanente ao ser humano que, nas ocasiões de maior desespero, como é o caso, constitui a esperança de salvação.
Por mais que se discuta a religião, entre prós e contras, fechando-se num cepticismo, não se pode negar os seus efeitos como sendo um “milagre”, absolutamente necessária à humanidade e, pela sua força redentora, impossível de a dissociar da condição do homem.

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