sábado, 17 de maio de 2008

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS


(Foto retirada do blogue "Piolho da Solum")


Acabo de receber a newsletter do jornal mais antigo de Coimbra, em funcionamento, “O Despertar". Fundado em 1917, este jornal foi recentemente adquirido por Lino Vinhal, do jornal Campeão, à família de Fausto Correia. Nesta informação electrónica, é dito que no dia 18 de Maio é comemorado o Dia Internacional dos Museus. Lembra-me também que “aproximar o público dos núcleos museológicos de Coimbra é o grande objectivo da autarquia que, nesse sentido, convida a população a visitar este fim de semana, de forma gratuita e acompanhada, estes espaços que, excepcionalmente, se vão manter abertos até à meia-noite. O Dia Internacional dos Museus é assim assinalado em Coimbra com um programa diversificado e apelativo que, segundo Mário Nunes, vereador da cultura, deve funcionar como um incentivo à cultura e como uma forma de criar novos hábitos na população”.
Ao receber este convite, ainda que indirectamente, da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), aparentemente fico contente, ou seja, tudo indica que a autarquia está preocupada com o meu grau de iliteracia e interesse cultural e, por isso, neste dia de festa, apela para que visitemos os museus. Porém, há um senão. A cidade tem o Museu Nacional da Ciência e da Técnica Doutor Mário Silva (MCT) em coma agonizante. Desde a última exposição, há cerca de dois anos, que está encerrado ao público. Então, como entender esta ilusão festiva em forma de apelo? Não se faz festa em casa quando um nosso ente familiar está agonizante. Quando isso acontece, manda o bom senso, direccionarmos as nossas forças para a revitalização do endémico tentando salvá-lo. Ora, neste caso, a autarquia faz a festa, deita os foguetes, esquece o doente em câmara ardente, e dá como acabado que o MCT morreu. O que me admira é o vereador Mário Nunes –sendo um homem reconhecidamente de cultura, na cidade, que muito admiro, já o escrevi antes- não ter uma palavra a dizer ou uma frase escrita sobre este assunto. Que a cidade pouco se importe, mesmo arrogando-se cidade-museu, de conhecimento, e de cultura, não é novidade. Que a Assembleia Municipal se marimbe para o assunto também não admira. Que o presidente da edilidade, Carlos Encarnação, assobie para o lado, também não provoca engulhos. Que a oposição, centralizada no deputado por Coimbra e também vereador na autarquia,Victor Baptista, tenha prometido em 10 de Março deste ano, em reunião do executivo, “que levaria o assunto ao primeiro ministro e não admitiria que Coimbra perdesse este valioso museu”, e, ao que parece, até agora nada fez, também não escandaliza. O que me deixa de boca aberta é Mário Nunes, que ao longo dos últimos 25 anos tanto defendeu as nossas Alta e Baixa de Coimbra, que aos poucos se vão esboroando e desaparecendo, dando razão aos seus críticos, quanto a mim injustamente, que o apodam de “vereador dos ranchos”, escrevendo como colunista neste jornal, não se referir minimamente a esta morte anunciada. Como entender este silêncio? Quererá mostrar que, individualmente, historiadores, pessoas sensíveis, acutilantes e defensoras do nosso património, como por exemplo, Vasco Pulido Valente, Manuel Maria Carrilho, quando empossados em vestes políticas dão uns péssimos ministros da cultura? Será o caso de Mário Nunes? Será o “fato político-partidário” que lhe causa incómodo, o afoga e não lhe dá liberdade de expressão? Só ele poderá responder. Uma coisa é certa, com o seu passado de independência, de responsabilidade cultural, Coimbra esperava muito mais do cidadão Mário Nunes, bancário, trabalhador-estudante, presidente do GAAC, escritor e uma pessoa que, pelo seu passado, admiro. Enfim! Fica o homem com a sua responsabilidade moral, vai-se um museu Nacional importante para a cidade. Em suma, perdemos todos!
(CARTA ENVIADA AO DIÁRIO DE COIMBRA, PARA PUBLICAÇÂO NA COLUNA "FALA O LEITOR")

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