segunda-feira, 30 de julho de 2007

A CULPA SERÀ DO MAU OLHADO?

O telemóvel retiniu, eram oito horas da manhã. Do outro lado uma voz angustiada de mulher. Chorava e estava tão inquieta, quase em pânico, que impressionava: “tio, tem de me ajudar! Cá em casa tudo corre mal. O meu pai está muito mal. A minha mãe mal se pode mexer. A minha filha zangou-se com o namorado, tratou-a mal e ele saiu de casa. Ela tem andado intratável, hoje foi ter com ele. O meu marido anda a maltratar-me. Tem de ajudar-me, tio…tenho de “sair”…tenho de ir a “qualquer lado”-apelava com sofreguidão.
Depressa verifiquei que não era o tio daquela mulher. Por compreensão, e talvez alguma curiosidade mórbida à mistura, continuei a ouvi-la e interroguei-a onde queria ela ir, afinal? “A uma mulher, dessas que tiram o mau olhado, tio, cá em casa anda coisa”. Vamos com calma, tentei confortar, o teu pai o que tem? “Está muito doente, tem a barriga muito inchada”. Calculei que o homem já devia ter muita idade e atirei: “sabes a idade não perdoa, de qualquer modo porque não o levas ao hospital? Quanto ao teu marido, tenta suavizar as coisas, é evidente que ele anda enervado com a vida da tua filha. Quanto à tua filha, não ligues, deixa-os arranharem-se, eles depressa esquecem a dor e vão novamente um para junto do outro, como está a acontecer. Tu estás fragilizada. Não te deixes levar nessas mulheres que dizem expurgar o mal de inveja. Elas apenas querem dinheiro. Deixa correr as coisas a natureza encarregar-se-á de refazer o equilíbrio”.
“Acha tio? Não devo fazer nada?” –Nada mesmo, repliquei. “Obrigado tio, vou fazer isso!”. Durante mais de cinco minutos eu fora, sem a mulher saber, um tio omnipresente, moral, de apoio psicológico, criado à pressão, na justa medida da sua necessidade. Não sei se se apercebeu que eu não era o tal tio, irmão da mãe ou do pai dela, mas um outro tio qualquer. O que importou ali é que a mensagem passou, e ela, pelas minhas palavras sugestionáveis ou não, ficou melhor. Não precisou de ir “à tal mulher” e amanhã, certamente, tudo vai normalizar-se, ou não. As vidas de cada um seguirão o seu rumo. Os velhos melhorarão ou piorarão, é inevitável. O marido da mulher, acalmará a sua ira, ou não. Os namorados irão recompor-se ou separar-se-ão. Tudo isto, nas sua inevitabilidade, é a vida, é a lei da natureza na sua dinâmica natural.
Quem compreender esta fatalidade inexorável, pode facilmente passar por adivinho.
Não entrarei aqui num outro mundo ainda pouco conhecido e chamado à colação em meados do século XIX, por Allan Kardec, pseudónimo de Hippolyte Rivail, iniciador e fundador da doutrina espírita, assente nas ciências e na filosofia, e mais conhecida como parapsicologia. Esse mundo, ainda pouco conhecido, apenas será comum no que toca ao desconhecido e nunca terá nada a ver com quem, aproveitando-se da fragilidade e ignorância das pessoas, extorque umas centenas de euros aos incautos crédulos.
Os olhares são simplesmente, isso mesmo… olhares. Dentro de uma panóplia diversificada, podem ser melosos de amor, famélicos de atenção, furibundos de raiva, ou luxuriosos de desejo. Mas a sua acção nunca será pragmática. Do tipo do super-homem, com a sua visão de raios x. Um olhar venenoso apenas o será se o receptor o aceitar como tal, e, nesse caso, o mau olhado será eficaz.

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