terça-feira, 1 de novembro de 2022

O FOTÓGRAFO ESTAVA LÁ… E VIU E OUVIU, OU TALVEZ NÃO?

 




Neste Dia de Finados, no Cemitério da Mealhada, uma mulher desconhecida, ainda nova e talvez viúva recente, emoldurada de preto dos sapatos até às lunetas em forma de óculos, com um ramo de rosas vermelhas em riste, em frente a uma campa rasa e encimada por um cabeçalho identificador com epitáfio sumido nas entrelinhas, num plangente choro sentido e marcante, por entre mortos esquecidos e vivos errantes, fazia-se ouvir em sinfonia sofredora e repetida:



Ó meu abençoado e desejado poder,

ó meu amor, querido todos os dias,

diz-me por onde andas, quero saber,

deixas-te-me sem despedida, sorrias,

parecias tão confiante no teu querer,

foste num Setembro, ainda dormias,

as folhas começavam a amarelecer,

tantas estrelas no Céu eram alegrias,

que vai ser de mim, sem ti, sem te ter,

pareço uma sombra cheia de agonias,

uma alma esvoaçante, perdida sem ver,

sem ânimo para erguer, sem sacristias,

sem ti, minha luz, apetece-me morrer,

preciso de ti, meu sonho de fantasias,

o que preciso fazer para te voltar a ter?

Dá-me esperança que voltarei a ter manias,

farei tudo, tudo, para seres meu, PODER.


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