terça-feira, 3 de outubro de 2017

RESULTADOS ELEITORAIS EM COIMBRA: PORQUÊ ASSIM? (VISTO DA MINHA JANELA)

(Imagem da Web)




Como é público nas notícias, Manuel Machado, recandidato pelo PS, ganhou a Câmara Municipal de Coimbra com 35,46% e conseguiu eleger 5 vereadores.
Antes de prosseguir, parabéns e glória ao vencedor. Durante os quatro anos que se avizinham, quer se tivesse votado nele ou não, para todos os efeitos legais e de respeito pela cidadania, Machado é o nosso presidente.
Continuando, tentando dar explicação a várias questões, nomeadamente entender os resultados, comecemos pelo vencedor: Manuel Machado.
E nada melhor do que formular a primeira pergunta:

Sabendo-se que, enquanto timoneiro neste últimos quatro anos à frente do município, o seu desempenho foi tudo menos unânime, porque ganhou este candidato com tão folgada margem sobre o segundo contendor, Jaime Ramos, o pleito eleitoral?

Iniciemos a resposta com uma apreciação geral sobre Manuel Machado. No tocante à avaliação profissional, pelo pouco que sabe uma pessoa que nunca trabalhou com ele, este representante do PS é um economista sério e que coloca o rigor diariamente nas suas contas. Já no desempenho político, no tocante a concursos directos atribuídos a correlegionários e apoiantes, muito há a (mal)dizer. Ainda que tudo dentro da legalidade, a verdade é que os socialistas de coração, justos e de boa fé, torceram o nariz a esta prática discutível do ponto de vista ético e a sua nomeação para segundo mandato não gerou consensos.
Machado, de semblante carregado e sorriso contido, é um homem apagado. Alheio a grandes manifestações populares, detesta agrupamentos e, em recolhimento, abriga-se no silêncio de um gabinete. Como todos os solitários, é um perfeccionista eficiente. Céptico, só acredita no que vê, por isso mesmo delega pouco e gosta de examinar tudo antes da assinatura de despacho.
De voz grossa e bem colocada, falando pausadamente, usa o timbre como arma de dominação e tenta impressionar quem o ouve.
Homem culto e de larga experiência política, conhece Coimbra como poucos. Apesar de detestar o contraditório, pelo conhecimento global, facilmente contradiz alguém que contrarie a sua opinião. Embora tenha perfeita noção da hipocrisia à sua volta, gosta da subserviência de quem o rodeia. O poder é o seu mundo e sem ele sente-se um náufrago.
Tal como em 2013, quando ganhou a edilidade ao PSD/CDS, foi candidato por exclusão de partes. Ou seja, em Coimbra, o PS não detém grandes quadros de nome sonante que possam competir com a oposição laranja. Por isso mesmo, nessa altura e tal como agora, foi um candidato de recurso, uma reserva para grandes conflitos, já a acusar algum desgaste e cansaço. Perante o número de votos contados, ganhou a Câmara mas não conquistou nem seduziu o eleitorado citadino.
Devido a um superavit anunciado -lucro do exercício, em que as receitas são maiores que a despesa-, distribuindo milhões a IPSS´s e relvados sintéticos a clubes de futebol na área da cidade e realizando obras de conjuntura, soube cativar o eleitorado suburbano.
Tendo como principal opositor o médico Jaime Ramos, inteligente, carismático de obra feita em Miranda do Corvo mas “estrangeiro” em Coimbra, facilmente fez troar o toque a reunir pelas trompas às tropas socialistas em torno de Machado.
O declarado bom desempenho económico do Governo Nacional, mesmo em espírito de agregação, acabou por influenciar o eleitor e beneficiar o actual vencedor da cadeira municipal.

E sobretudo para a Baixa? Foi bom ou mau este resultado eleitoral?

Tendo em conta a elevadíssima falta de popularidade de Machado na Baixa da cidade, por incrível que pareça, ganhou o candidato que mais pode fazer pelo futuro da zona histórica e retirá-la do apagamento letárgico em que se encontra. Com várias obras estruturantes iniciadas e prometidas, desassoreamento do rio, abertura total da denominada Avenida Central, conclusão do metro ligeiro de superfície sobre pneus, prometido pelo Governo, Machado está preso à conclusão de pelo menos estas três obras públicas.

E OUTRO GRANDE VENCEDOR É...?

O troféu do segundo melhor, sem dúvida, vai para José Manuel Silva, do movimento independente “Somos Coimbra”. Partindo da rectaguarda de todos, o ex-bastonário, arguto e inteligente, soube perceber com facilidade as fragilidades dos dois maiores contendores, Machado e Ramos, e foi capaz de retirar dividendos da guerra aberta.
Como diria um conhecido, a vingança serve-se fria. Lembro que Silva chegou a ser badalado para cabeça-de-lista do movimento Cidadãos por Coimbra (CpC), que não foi aceite por, alegadamente, ser social-democrata e que levou a uma série de demissões. Como se sabe, o movimento escolheu outro candidato: Gouveia Monteiro, que não foi eleito.

E OUTRO, NEM VENCEDOR NEM VENCIDO, É...?

A taça para o “nem sim nem não”, vai para Francisco Queirós, representante da CDU, e que no anterior mandato, servindo de muleta ao PS, ocupou a vereação da Habitação no executivo municipal. Perdendo votos em relação a 2013, sendo agora nomeado novamente à justa, dá para ver que o eleitorado não gostou muito do seu desempenho. Que se cuide para 2019. Se continuar na mesma linha de pouca demarcação partidária, a CDU corre o risco de perder o assento. Ficou o aviso intercalado entre as cores vermelha e rosa.

E OS GRANDE DERROTADOS SÃO...?

O maior vencido deste pleito eleitoral, sem margem para dúvida, foi Jaime Ramos, candidato em representação da coligação “Mais Coimbra”, PSD/CDS/PPM/MPT.
Seguro, confiante, de sorriso fácil, utilizando o charme como arma de convencimento, Ramos, médico, empresário e empreendedor social, é um pragmático, prático e eficiente, que nesta batalha pela conquista do castelo conimbricense levou uma lição para contar em Miranda do Corvo. Nunca o título do seu livro “Não basta mudar as moscas” foi tão a propósito. Deu para ver que antes da mudança vem o namoro dos apoiantes. E foi o que Ramos não soube fazer. Talvez por excesso de confiança, usando um parafraseado verbal um pouco para o truculento, conseguiu hostilizar os seus prováveis eleitores e criar anticorpos. Para piorar, na abertura de uma creche em São Martinho do Bispo sem licença de utilização, pareceu mostrar que o cumprimento da lei é para os outros.
Para complicar ainda mais a sua caminhada autárquica, aceitou Passos Coelho na campanha sabendo-se que o actual presidente do PSD, em vez de constituir uma mais-valia, é um activo tóxico em potência.
Tal como Machado está para o PS, Ramos serviu o PSD como “última reserva” já que também este grande partido -excluindo Barbosa de Melo, ex-presidente camarário- não tinha mais ninguém pronto a ser crucificado na cruz. O médico de Miranda serviu como “carne para canhão”, infantaria para abater. Passos Coelho usou Ramos. E com este acto arrumou para sempre a ambição política de um homem que sonhou um dia conquistar Coimbra.
Especulando, quem teria ficado com dores de barriga de tanto rir na noite das eleições, foi Barbosa de Melo, ex-presidente da edilidade por renúncia de Carlos Encarnação em 2011 e que viria a perder a cadeira para Machado em 2013.

OUTRA CAIXA DE LENÇOS VAI PARA...?

Outro grande perdedor foi o movimento Cidadãos por Coimbra, que largou a mão do único vereador eleito que detinha no executivo.
Por manobras ideológicas de controlo do poder e fé numa esquerda identitária que nem sempre move moinhos, destruiu-se um projecto que poderia ter sido uma grande alternativa na cidade.
Embora pareça mal rir perante a desgraça de alguém, em face deste fracassado plano, com gritos histéricos a ecoar, presumivelmente, haverá muita gente de sorriso de orelha-a-orelha e, mesmo sendo ateus, em longa lucubração, adivinha-se, a cogitar que Deus escreve direito por linhas tortas. Desde o anterior vereador, Ferreira da Silva, passando pelos deputados à Assembleia Municipal, até ao agora eleito José Manuel Silva, e ainda Norberto Pires, todos, à sua maneira, alegadamente, renegados e maltratados.

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