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Hoje, enviado por um meu amigo, recebi um convite para assinar uma petição pública, destinada a todos os portugueses de bem”, “Para Julgamento e Condenação de José Sócrates pelos malefícios causados ao país”.
Antes de continuar, como ressalva, afirmo que sou liberal. Desde 1975, creio que já votei em todas as forças políticas desde a direita à esquerda. Normalmente, para as legislativas, tento ouvir todos os debates e voto naquele partido cujo líder me oferece mais confiança e se identifica com os meus pontos de vista. Para as autárquicas sempre votei no candidato que me parece defender melhor a minha terra, pouco me importando o partido a que pertence.
Para as presidenciais, posso dizer que votei Cavaco Silva para o primeiro mandato e já não votei nele no segundo. No tocante a José Sócrates, no primeiro mandato em 2005, já não me lembro, não sei se votei nele, mas é muito provável que o tivesse feito. No segundo mandato, tenho a certeza, não votei na sua reeleição.
Depois desta ressalva vou continuar. Pouco interessa para aqui, mas quando me convidam para assinar uma petição pública –e hoje este instrumento, que deveria ser de excepção, está transformado numa regra de vulgaridade, há petições públicas para tudo-, confesso, pela futilidade em que está transformada, já tenho algum apriorismo e, para além da justeza que a acompanha, socorro-me também da minha intuição.
Ora quando recebi hoje este convite imediatamente a minha luz intuitiva se acendeu: estamos perante mais um fogacho, um assoberbar de justiça popular –antes de continuar, para melhor se perceber, andei em direito uns anos e interrompi. Não tenho a certeza de que algum dia irei concluir o curso, mas uma coisa sei, apesar de saber muito pouco de legislação, dentro de mim está uma alma de advogado. O que quero dizer com isto é que, apesar de todos termos esta clarividência, facilmente intuo a diferença entre o justo e o injusto e sei para que lado se inclina a balança.
Como se sabe, este tipo de manifestação justicialista ocorre sempre em alturas de grandes crises, sobretudo sociais. A necessidade de queimar culpados na fogueira é enorme. Ou melhor, é humana. Precisamos de bodes expiatórios para tapar o buraco da nossa própria incapacidade e frustração. Então, também sabemos que é nestas alturas que em nome da justiça se cometem as maiores barbaridades. Basta socorrermo-nos da história. Se lembrarmos as atrocidades da Revolução Francesa, em 1789, depois por cá o Vintismo, em 1820, e, mais recentemente, lembremos o que aconteceu durante o PREC, Processo Revolucionário em Curso, em que, em nome da justiça popular, se cometeram atrocidades que, bem no fundo, pretenderam sempre beneficiar materialmente alguém, ou seja, instituições, partidos políticos, ou pessoas particulares.
Voltando à necessidade de “julgar e condenar José Sócrates”, atiro uma pergunta inocente: e é só ele? Então e ou outros?
Sendo justo, todo este descalabro começou logo no início da Revolução de Abril e com quem veio a seguir. Falando nos primeiros-ministros, começou nos Governos Provisórios de 1974/76, com Adelino da Palma Carlos, Vasco Gonçalves, Pinheiro de Azevedo e até Almeida e Costa.
Depois já na III República, a partir de 1976, com os seguintes, como Mário Soares e desde Cavaco Silva até António Guterres e sem esquecer o nosso brilhante presidente da Comunidade Europeia, Durão Barroso, que nos abandonou a troco de um ordenado de 25 mil euros.
Sendo justos, José Sócrates foi apenas mais um que foi para a cadeira do poder para se beneficiar pessoalmente, a sua família e os seus amigos. Mais, ainda, alguém acredita que o actual primeiro-ministro, Passos Coelho, vai fazer diferente? Basta atentar nas nomeações que têm sido feitas e publicadas no Diário da República, e já agora nas denúncias públicas de Marinho Pinto, Bastonário dos Advogados, contra as entradas de favor da actual ministra da justiça.
Chegado aqui urge fazer uma pergunta: quem elegeu todos estes líderes para comandar o país? Fomos todos nós, não é verdade? Então, a meu ver, temos tanta culpa como eles –esta forma de culpar os políticos lembra-me o actuar dos bancos. Durante anos, estas instituições bancárias andaram a oferecer dinheiro a toda a gente para comprar casa. Foram estas entidades que, enquanto emprestadoras, mediaram os contratos entre as partes e avaliaram a coisa a adquirir pelo comprador. Agora, nos casos de incumprimento e uma vez que o valor desceu, os bancos, lavando as mãos como Pilatos, procedem como se nunca tivesse intervindo neste processo familiar de gestão danosa.
Então, em resumo, o quero dizer com toda esta argumentação? É que nada resolve julgar um ou outro político que passou no poder. O que é necessário é inverter e avaliar o processo de eleição futuro.
Toda a gente sabe que o actual sistema que nos rege está viciado. A diferença entre o Estado Novo e a Democracia é que se no autoritarismo do primeiro não havia liberdade, e a pouca que havia era gozada com grande responsabilidade, na segunda, em Democracia, em nome da liberdade, caiu-se na libertinagem, tanto social como económico-financeira. E, pior, é que não há vergonha e todos se albergam debaixo do chapéu democrático –e aqui gosto sempre de lembrar um pequeno pormenor de somenos: Salazar poderia ter sido um filho da mãe, mas esteve até 1968 no poder e viveu e morreu pobre.
Quer se queira quer não, todos estes políticos que nos lixaram e continuam a tramar, depois de1974, são o proporcional resultado deste sistema sistémico e sem ordem, onde por alturas de eleições as bandeiras partidárias se elevam ao vento e os gritos de admiração e pancadinhas nas costas se confundem.
Se queremos acabar com isto, a meu ver penso que é o que irá acontecer, é acabarmos por sair do euro, vivermos à nossa custa e com as nossas possibilidades. Certamente, a continuar assim, iremos sair com o rabo entre as pernas e muito pior do que estamos hoje. E os nossos políticos actuais não sabem? Claro que sabem! Só que, para salvar os seus interesses e dos amigos, continuam a enganar-nos a todos.
Não faço a mínima ideia quem lançou esta petição pública para julgar José Sócrates. Quase aposto que será uma pessoa bem intencionada, mas, provavelmente, neste momento, já há uma carrada de oportunistas a embarcarem no comboio para ajustarem contas com o ex-primeiro-ministro e com o Partido Socialista.
Mal da justiça –que desgraçadamente já está tão no descrédito- se respondesse a este tipo de solicitação popular. Se assim fosse, passávamos a ter os tribunais a funcionarem por encomenda. Seria uma justiça carregada de revanche e vingança, onde a cegueira imperava e ódio dava cartas –não quer dizer que, no actual sistema, andemos muito longe, mas ainda falta.
Haja bom senso, sobretudo!
1 comentário:
Esse, deverá levar um correctivo exemplar(e na mesma sequência julgar os restantes), para mostrar a todos que hoje usam e abusam do Estado que o povo eleitor e contribuinte está atento. Talvez assim quem para lá vá tenha outro sentido que não o oportunismo
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