A velhinha seguia à minha frente. Juntos entrámos na estação dos CTT, na Avenida Fernão de Magalhães, em Coimbra. Depois de transpormos a porta central, entramos num ampla sala cheia de luz e onde o vermelho é o rei da cor.
A senhora estancou perante um marco de lata, que, como sentinela muda, dividida em três botões, pretende nos canalizar para três opções diferenciadas. Logo ali a idosa, como burro que olha para um palácio, vacilou entre o atirar à sorte para qualquer uma das escolhas ou nenhuma. Como estava ao seu lado foi muito fácil ir em seu socorro. “O que pretendia?” -interroguei. “Enviar esta carta para a Angola, o meu filho, o meu querido filho, está lá a trabalhar!”, confidenciou-me numa voz amargurada, carregada de sentimento, como só uma mãe sofre e sente. “É este botão…o de “atendimento geral”, repliquei. E a mulher retirou uma senha com o número correspondente. Eu cliquei e extraí o seguinte.
Na longa sala moderna e cheia de pigmentação de apelo aos sentidos -onde os livros, como mulheres da vida, se oferecem a quem está disposto a pagar para gozar uns momentos de prazer acompanhado/sozinho- estariam uns quinze clientes à espera que o seu número aparecesse no médio plasma central.
Encostei-me numa estante de livros e, sub-repticiamente, como caçador a vigiar a presa, fui vendo como se comportava a senhora já de idade. Pelo seu ar inseguro, como animal fora do seu habitat, reparei que estava perdida neste mundo moderno, impessoal, de luz e cor. Aguardei que chegasse a sua vez, representada no número que era o inferior ao meu. E apareceu a piscar no placar central. A senhora viu que era o seu, o problema era como chegar ao destino. Anunciava lugar de atendimento 5. E como procurar em quase uma dúzia de guichets um número que até de óculos se vislumbrava mal? Mais uma vez, como bom samaritano, embora igualmente perdido como a senhora, como bússola que perdeu o magnetismo, lá andámos a percorrer a grande sala à procura do lugar cinco.
Em conversa com um amigo que trabalha nos CTT, comentando este facto ridículo e caricato, contava-me ele que estes novos ecrãs em plasma fazem parte da “nova imagem” que os Correios querem mostrar à força toda aos seus clientes.
E onde fica o lado prático da leitura? Ao menos, pensando na anciã que ajudei, coloquem por cima dos plasmas um rectângulo visível com o número para ajudar na orientação dentro da loja. Este exemplo, que infelizmente é já um paradigma, faz-me lembrar certas torneiras de lavatórios em alguns centros comerciais. Até conseguirmos que elas deitem água, durante alguns minutos, fazemos festas em tudo o que é sítio. Costumo dizer que estas bicas são só para inteligentes. E os burros como eu, onde ficam?
Tenham dó! Não me façam mais estúpido do que eu já sou!
(ESTE TEXTO FOI ENVIADO PARA O SÍTIO www.ctt.pt. QUEM SABE NÃO MUDE QUALQUER COISA?)
3 comentários:
É por esse motivo que eu em certas casas de banho, para não fazer figura de parva, abstenho-me de lavar as mãos.Problema que um toalhete na carteira não resolva.Falando mais a sério, constato esta situação na superficie em que faço as compras e em que temos de pesar as frutas e as verduras.As pessoas ficam a olhar para a balança sem saber o que fazer, uma vez porque infelizmente não sabem ler , outras porque não estão habituadas. E o desabafo delas é sempre o mesmo, falta aqui um empregado
Ana Soares
Obrigada, Ana, por ter comentado. Se não se importar, leia em título o que respondi acerca da sua resposta.
E quem disse que o progresso é sempre para melhor?!?
E o que mais irrita nisto tudo é a vontade de mecanizar as coisas, eliminar o factor humano, esquecendo-se que as coisas são para as pessoas e não para os mecos do marketing mostrarem os seus projectos!
O principal são as pessoas, mas as pessoas cada vez mais são ostracizadas pela sociedade das quais são parte integrante!
Levantem-se as vozes!!!
Reclame-se!!!
Enviar um comentário