quarta-feira, 20 de outubro de 2010

EDITORIAL: FORNICAÇÕES DE COELHO

(IMAGEM DA WEB)




 Começo por dizer que dentro do universo de eleitores, considero-me medianamente informado. Isto, dentro do que o matraquear constante de informação possibilita. Penso que na nossa história recente, pelo excesso de notícias, nunca foi tão difícil formar opinião. Por este debitar constante de comunicação num só sentido, inconscientemente, sentimos um esgar de repulsa. Estou convencido que, a continuar assim, provavelmente, cada vez mais estaremos menos receptivos a ouvir e a interessar-se pelo que se passa no dia-a-dia. É uma frustração completa saber que, perante o aparente conhecido, cada vez maior é a certeza no desconhecido. Não sei vaticinar o futuro, mas creio que este exacerbado fluir de informação trará consequências negativas nos tempos vindouros. Cada vez mais o homem, pela sua saúde, para fugir à ansiedade e intranquilidade, se alheará do que se passa à sua volta. Cada vez mais o indivíduo terá a noção de que não passa de uma marioneta a ser conduzida por fiozinhos invisíveis tocados de cima.
É evidente que, assente nestas fontes de (des)informação sempre a jorrar, estão empresas poderosíssimas com um alcance de manipulação social que transcende um comum mortal como eu.
E comecei com este blá, blá, blá, para dizer que o espectáculo, em jeito de informação, que gira em torno do OGE, Orçamento Geral do Estado, é simplesmente decadente. E tanto o é por parte do Governo, que sabe que vai mandar para o charco o resto do que resta da ex-classe média.
Hoje temos um país a três velocidades. No topo, estão os reformados de luxo deste sistema sistematizado sistémico. Os políticos de carreira bem colocados em empresas públicas; os directores gerais; os grandes grupos económicos, incluindo a banca, que com esta crise continuam a engordar e a apertar cada vez mais o consumidor médio –aquele que trabalha e aufere um salário e, com dificuldade o gere, gastando tudo o que ganha.
A seguir, na segunda velocidade, está a desgraçada classe do meio –incluindo os funcionários públicos, quadros mínimos e médios, e trabalhadores independentes-, a única que verdadeiramente trabalha, consome e, através de taxas e impostos, paga neste país. É uma espécie de bigorna em casa de ferreiro: está a sempre a levar martelada. Depois, em último, numa espécie de cauda do pelotão, estão os desempregados, os reformados com aposentações baixas e médias, os contemplados com RSI, Rendimento Social de Inserção, e outros dependentes do Estado.
Se os da segunda velocidade, os da classe média, sempre estiveram tramados e continuam a estar cada vez mais apertados, os últimos, os desempregados e os subsidiados com RSI, por pressão política contínua e também por impossibilidade de o Estado continuar a dar sem nada exigir em troca, progressivamente, vão-lhes sendo retiradas regalias.
Perante “a necessária aprovação do Orçamento, pelo superior interesse da nação, caso contrário o país entrará no caos” –lengalenga que nos é vendida ao quilo pelos políticos partidários de carreira, e banqueiros, com ordenados acoplados a chorudas reformas e detentores da primeira classe, porque, em caso de chumbo, temem que os seus interesses sejam afectados-, o que assistimos por parte do novo líder do PSD? Uma atoarda de afirmações titubeantes. O que temos vindo assistir por parte de Passos Coelho é simplesmente um defraudar de esperança. Surgiu ao eleitorado como um “homem novo”, pleno de energia, um político da nova vaga. Em poucos meses, emaranhando-se numa revisão constitucional que ninguém entende como necessidade absoluta num momento de tão elevada crise económica, progressivamente, foi queimando o capital político adquirido. Agora, em volta da aprovação do Orçamento, faz umas “píveas” à coelho, faz que monta, desmonta e volta a montar. Ameaça, volta a ameaçar, blasfema contra o aumento de impostos para o próximo ano, para a seguir já admitir o aumento do IVA. Aos poucos vai deixando cair a máscara, ou largando a pele, e mostrando que é mais um político de polé. É mais do mesmo. É mais um político fraco, sem tomates pretos, sem força para se assumir contra os barões do partido e os seus interesses pessoais. Este tem sido o problema deste PSD. Um partido oligárquico, onde os líderes recentemente eleitos, no aquecimento, começam por prometer muito, para logo a seguir no arranque se ficarem exangues pela desistência. Tem sido sempre assim nas últimas décadas. E Cavaco Silva nas décadas de 1980/90 não foi diferente. A única dissemelhança desse tempo é que havia muito dinheiro vindo da Europa, e em tempo de vacas gordas todos governam bem. Estes são mesmo os políticos que temos. E por essa razão ou outras o país está como está.
 Se Pedro Passos Coelho fosse mesmo feito de uma massa que não tem nada a ver com os seus antecedentes chumbava este Orçamento. Mas, ao que tudo indica, num desgaste incompreensível e que vai acabar com a sua liderança à frente do partido, vai acabar por aprovar o Orçamento através da abstenção. Pobre Coelho que, a passo, vai acabar caçado.
Porca miséria para estes políticos de garrucha. Bem podemos continuar à espera de alguém que pegue os destinos do país como verdadeiro comandante que, em estoicidade, se preciso for, pelo seu futuro, dará a vida. Já não há cepas que dêem essas colheitas de excelência. Salazar, lá na tumba em Santa Comba, deve estar a rir-se a bandeiras desfraldadas.

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