segunda-feira, 13 de agosto de 2018

FALECEU UMA FIGURA ICÓNICA DA CIDADE

(Foto de Anabela Monteiro)




Subitamente, nos primeiros dias deste Agosto, depois de se ter sentido mal na Figueira da Foz, onde residia, foi transportado de urgência para os HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, veio a falecer há cerca de uma semana o Paula/Paulinha, um precursor do travestismo na cidade. Tinha 54 anos de idade e foi baptizado com o nome de João Paulo de Campos Lobo.
Embora o conhecesse mal na altura -mas dava para perceber-, tanto quanto julgo recordar e saber, o/a Paula/Paulinha nasceu mulher em corpo de homem. Ou seja, o seu sexo biológico não correspondia à sua orientação sexual. Com um sinal na face direita, os seus longos cabelos estendidos em cascata pelos ombros tornavam-no numa figura curiosa e polémica. De altura acima da média, com uma voz grave mas melodiosa, de fino trato, a sua forma de apresentação feminina era profundamente maneirista e delicada.
Natural da África do Sul, foi com 18 anos que pisou solo conimbricense pela primeira vez. Quem relata retalhos da sua vida é a sua grande amiga e confidente a Anita, Anabela Monteiro, que viveu a sua infância na Sé Velha e ali, no início da década de 1980, conheceu o/a Paula/Paulinha. Diz Anita: “A nossa grande amizade surgiu há 36 anos desde a altura que ela veio para Portugal. Ela é da África do Sul. Ela vivia com a mãe em São Martinho do Bispo. Quando o pai morreu tranferiu-se para o Parque de Campismo da Figueira da Foz. Ela não ficou muito bem desde que o pai faleceu, pois ele era o seu porto de abrigo. Ainda voltou uma vez para Coimbra mas acabou por assentar de vez na praia da claridade. Aqui, na Figueira, tinha algumas pessoas amigas, mas quando não estavam sentia-se um pouco só. Tratavam-na como Paula. Infelizmente por algumas pessoas era desprezada (pessoas estúpidas).


UMA OUTRA COIMBRA


Estávamos então em 1982. O/A Paula/Paulinha foi uma figura emblemática na cidade no campo do travestismo, hábito de adoptar o vestuário, os hábitos sociais e comportamentos usuais do sexo oposto. Num tempo em que tudo o que fugisse à “normalidade” era apontado a dedo, imagina-se o quanto teria sofrido por um acaso biológico que não era da sua responsabilidade.
Apesar de perpassar uma ideia para o exterior de grande liberalidade, Coimbra, no início desta década, era um burgo adormecido e profundamente conservador. Com uma movida incipiente e assente quase numa envergonhada clandestinidade impressa a selo de costumes marcados a ferros, havia quatro discotecas que, entrando pela noite dentro, sobressaiam: a “Boite” Etc, na Avenida Afonso Henriques, o Scotch, na Quinta da Ínsua, na margem esquerda do Mondego, a Oui, na Praça Fausto Correia, e o Bonzão, no Monte Formoso. Ali para os lados de Tentugal havia o Géminus, uma boite propriamente dita. Abria à noite e tinha muitas mulheres a servir com longos decotes que prometiam o paraíso numa pequena sala de diversão.
Como a furar o exclusivo dos grandes cafés que marcaram gerações, foi por volta de 1987 que o Albertino abriu o bar Quebra, nas Escadas de Quebra Costas. A seguir abriu o bar Sacristia, no Largo da Sé Velha. Talvez um pouco mais tarde abriram as discotecas Broadway, na zona da Pedrulha, e a Via Latina, junto à Praça da República.
Voltando ao personagem que deu origem a este escrito e que há pouco nos deixou, os nossos sentidos pêsames à mãe e restante família de João Paulo de Campos Lobo. Que descanse em paz!

16 comentários:

batwoman disse...

Lembro-me bem do Paulo Paulinha. Embora polémico, destaco-lhe a coragem de se assumir numa época que era difícil essa postura. Tio.

fotografias de hoje hontem e amanha disse...

Desculpe mas ela viveu grande parte da juventude dela no Bairro Norton de Matos pois fui vizinho deles.A mãe era professora e tinha 2 irmão mais novos.
é só uma correção.

Anónimo disse...

Via-o/a com frequência no Angola em frente à Estação Nova. Vi-o/a recentemente no Continente do Coimbrashopping. Já este ano. Não foi difícil de reconhecer com o seu longo cabelo preto, muito alto e acompanhado de uma senhora que seria provavelmente a mãe. Estava com excelente aspecto e gostei de rever tantos anos depois. Eu era mais novita mas recordo-me bem. Foi embora demasiado cedo. triste com a notícia!

Unknown disse...

Tive o prazer de conviver com Ela, a ultima vez a 2 anos quando nos voltamos a reencontrar na praia do Cebedelo , triste o seu olhar e solitaria...conversamos e recordamos alguns dis tempos em que tomavamos cafe na Briosa...um lugar no ceu para uma alma bondosa. Ate sempre Paulinha!

cristina disse...

Nunca teve nada a ver com travestismo. Nunca morou em S.Martinho mas sim com o pai no bairro Norton de Matos.
Frequentava a discoteca Pinto D'Douro em Santa Clara.
Amiga do seu amigo.
Saudades dos bons momentos que tivemos juntas.
Idas ao rio,bares,discotecas,e muitos muitos mais.
Paz à sua alma❤

cristina disse...

Nunca teve nada a ver com travestismo. Nunca morou em S.Martinho mas sim com o pai no bairro Norton de Matos.
Frequentava a discoteca Pinto D'Douro em Santa Clara.
Amiga do seu amigo.
Saudades dos bons momentos que tivemos juntas.
Idas ao rio,bares,discotecas,e muitos muitos mais.
Paz à sua alma❤

Unknown disse...

Boa noite a respeito do Paulo/a, nada tenho a dizer, a não ser que era um excelente ser humano e um amigo/a para a vida.Não há que comentar o género , mas sim a essência. Quero ainda retificar que o Paulo/a aos 13 anos já fazia parte da minha vida enquanto colegas no colégio S. Pedro.

Maria disse...

Também te conheci por volta de 1988. Nessa altura moravas em Coimbra no bairro Norton de Matos e eu tb. Bebemos alguns cafés no Sambabaia e no Vasco da Gama com amigos em comum. Eras uma pessoa muito gentil, simpática e educada. DESCANSA EM PAZ

zeze abelhao disse...

"Conheci" a Paula/Paulinha, nas ruas da Baixa de Coimbra e mais tarde na zona do Samanmbaia, onde pensava eu que morava. Posteriormente via na Figueira da Foz, por diversas vezes... Alguém que na verdade não foi compreendida e até muitas vezes desprezada. Que descanse em Paz, pois durante a vida terrena, realmente o seu descanso não foi muito, já que afinal Coimbra tinha mesmo muito pouco de liberal...

Fatima maria disse...

Para ti Paulinha flores para o Céu.eras uma boa e simpática amiga.

💐💐💐🌻🌻🌻🌼🌼🌼

Unknown disse...

Meus sentimentos

zulmira disse...

Gostei muito da sua publicação. Obrigado e continue

Anónimo disse...

Agora cantam hinos de louvor, depois de morto. Bem sofreu e eu bem vi às mãos dessa gente de merda de Coimbra. Porque são todos uma merda. Todos muito machos para depois terminarem muito fêmeas à beira do rio... Paz à sua alma e que seja muito feliz onde está. Porque neste plano existencial não foi, e foi muito achincalhado. Até um dia, Paulo.

Anónimo disse...

De facto é verdade. Coimbra era e é, ainda hoje, comandada e habituada por um bando de palhaços que querem é ter mais uns que outros, especialistas em destruir o que quer que seja de bom . Refugiada em moralismos bacocos. Cambada de bêbados refugiados numa universidade que já conheceu melhores dias. Médicos na sua maioria incompetentes... Que para se dar ares de finos dizem quimioterápia em vez de quimioterapia. Vi cada cena nessa cidade. Depois uma falta de respeito pelos outros. Se as opiniões divergem, espera aí que a cacetada vem a caminho. Eram muito maus com o Paulo/a. Espero que tenha encontrado a paz que sempre mereceu. Está claro, quando ele passava pareciam coelhos a sair das tocas para ver...e sempre com crueldade no coração. Nunca conheci gente tão má e grosseira, se é que se pode chamar gente. Intrometidos, sempre com razão, sempre com certezas. Se não tivesse saído daí tinha uma vida de merda, cheio de dívidas, como a maioria. Especialistas em arrotar a postas de pescada quando comeram sardinhas. Frequentei aí os ditos melhores colégios... Uma merda completa. Uma ignomínia. Só interessavam as kakás, as kikis e os mémés, filhos de alguns srs doutores de segunda categoria ou advogados de porta de cadeia, com doutoramento em má criação. Podia percorrer todos os dicionários de língua portuguesa que não conseguia adjectivo suficientemente forte para classificar essa gente e a sua maldade. Metediços, rotineiros. E nunca aceitam a diferença. E se alguma há, lá vem porrada das mais desvairadas formas. Ainda há pouco passei por alguns sítios frequentados por esses menininhos da época... Ainda lá continuam velhos e decadentes com já eram... Sem nunca terem feito nada de jeito na vida. Acabaram os papás e as mamãs e o dinheirinho também. Vivem na merda que sempre foram. Os mesmos que eram indecentes para o Paulo/a. Estão velhos e sujos. Feios, porcos e maus. cheios de razão como sempre. Com a cara velha, tisnada pelo álcool e o tabaco. Uma sinfonia de horrores. Os meus parabéns ao bloguista por tocar neste assunto. Essa gente é odiosa. Deviam ter em mente que o ser humano é a mais preciosa de todas as criações. Mas é mais fácil infernizar e diabolizar a vidas dos outros do que parar para pensar. Foge à '' normalidade '' então queimas se na fogueira. Alguns muito pios à sombra da Rainha Santa...se calhar deviam ir combater para a ucrânia pois o grão patriarca da igreja ortodoxa diz que combater na ucrânia,. apaga todos os pecados passados. Esses estúpidos têm filhos como eu...será que gostariam que os tratassem como tratavam o Paulo/a? Nem vendidos como merda davam para estrumar a terra. Peço que me desculpem quem deve desculpar. Senão, temos pena. Até sempre Paulo/a.

Anónimo disse...

Pois, são uma merda as gentes de Coimbra. Nem vendidos como esterco davam rendimento. Pobre Paulo, que descanse em paz. Foram tão maus para ele...será que essa gente se é que são gente, não têm remorsos do que lhe fizeram?

Anónimo disse...

Gostei da sua lembrança, Luís Fernandes.