terça-feira, 28 de agosto de 2018

ADEUSINHO MÊS DE AGOSTO…





Lentamente, como caracol em folha de couve, o ano percorre o seu tempo. Como nevoeiro que se instala e depressa se evapora, o mês de Agosto está a chegar ao fim. Com o seu final anunciado vai-se um pouco de nós. É como se com ele fosse um pouco da nossa vida e o passado fosse mais passado. É certo que ao escrever isto estou a ser parcial, afinal comemoro o aniversário neste mês e talvez seja por isso que sinto a nostalgia, o sentimento da melancolia, ou talvez uma saudade de um marco que dura pouco e é tão marcante na minha existência.
É tão curto o mês de Agosto! É talvez a unidade de tempo mais desejada e, no entanto, como gelado que se come rapidamente em lambidelas de prazer, parece esvair-se por entre os dedos. Quase sem darmos por isso, à noite, verificamos que o pôr-do-sol se instala mais cedo e o crepúsculo poético, aquele prazer que nos invade em entrar pela agradável noite dentro, avisa que, até ao final do ano, vai ser cada vez mais rigoroso a cortar na luz solar.
A cidade, que neste período de férias troca os nativos por outros turistas do mundo de calções pelos joelhos e mochilas às costas, aos poucos, regressa à normalidade. Substituindo o pálido branco imaculado de quem nos visita, passamos a conviver com a cor do amendoim torrado no rosto dos nossos vizinhos. Reparamos que vêm muito mais calmos. Parecem encarar o berço que o viu nascer ou acolheu no seu seio com outra forma cordata de ver. Estão mais assertivos, menos críticos na acutilância, perderam o pessimismo galopante que os caracterizava, e, se preciso for, durante um curto espaço de tempo e até a raiva voltar, até davam um beijinho na pêra do regedor do paço.
O estrangeirismo, que durante esta altura tomou conta dos nossos sentidos, das nossas ruas, dos nossos becos e ruelas e foi o nosso oxigénio, evapora-se como glaciar em clima tórrido e dá lugar à nossa língua-mátria, que contra ventos e marés de alteração, que com defeitos e virtudes é nossa e gostamos muito dela.
Nas lojas comerciais, paulatinamente, vai-se abandonando a irritante interrogação em espécie de vocativo: “Bom dia! Fala português?
Os restaurantes, perdendo as tropas de infantaria com as listas na mão, a imitar o Algarve e a interrogar os passantes “Is it for lunch?” (é para almoçar?), vão tornar-se mais consociáveis. As esplanadas, que foram centro do mundo no nosso centro da urbe, tornam-se mais locais sedentarizados e a considerarem novamente o seu cliente de muitos anos.
Para os empresários de hotelaria é o tempo de embainhar as espadas até meados do ano seguinte e, no anunciado descanso do guerreiro, entrar numa espécie de hibernação e catarse para avaliar o que correu de menos bem.
O mês de Agosto é o mês dos festivais de Norte a Sul, das festas de aldeia, das romarias sacras e profanas. É o pico de união entre as gentes que estão cá e outras que vem de fora. Os emigrantes mais velhos - que vieram por uns dias, e que cada vez são menos pela força do desligamento dos filhos e netos a Portugal, cujos costumes e cultura popular não lhes diz nada no outro lado da fronteira e que já nem falam português - continuam a sonhar vir morrer à sua terra-natal.
Mesmo correndo a contra-gosto, é o Agosto, o mês mais universal e democrático, que nem que seja pelas ilusórias “vacaciones” concorre para uma igualdade sociológica.
Até para o ano, mês de Agosto!

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