Os ponteiros do despertador marcam uma linha recta nas 06H00, e, com o seu barulho ensurdecedor, acorda toda a família na casa de Célia Ferreira, nos Carvalhais de Cima. Esta povoação, dormitório da cidade, fica a seis quilómetros do Largo da Portagem. O seu filho João José, de 12 anos, aluno da escola Eugénio de Castro, vai ter de apanhar o autocarro das 07H00 para conseguir chegar a tempo ao estabelecimento de ensino, próximo do comando da PSP, cujas aulas começam às 8H30. É que o próximo ónibus só passará às 07H40 e chegará à Baixa às oito. Se apanhar este transporte, como já aconteceu e acontece a outros miúdos de toda a zona envolvente de Pereiros até Almalaguês e que frequentam as escolas Eugénio de Castro, Brotero e Vale das Flores, chega sempre com 10 minutos de atraso. Então as mães terão de escolher: ou optam por se levantar a quase meio da noite ou deixam que os miúdos carreguem faltas sistematicamente.
Então surge a interrogação: O que poderia fazer Manuel Oliveira, administrador-delegado dos SMTUC, para evitar este absurdo? Bom, para começar, se fosse possível, colocar-se no lugar de uma das mães destes alunos. Depois desta imaginária transmutação, alterar o horário do autocarro das 07H40 para as 07H30. É que nestes 10 minutos reside toda a diferença. Se houvesse esta mudança, tão urgente como o pão que alimenta a boca, já os estudantes chegariam a horas certas sem necessidade de se levantarem ao romper da aurora. Mas, a ser assim, porque não são alterados os horários? A página tantas Manuel de Oliveira nem sabe?! –interrogo eu, assim com cara de parvo. “Ai sabe, sabe! Já levámos este assunto à administração pessoalmente e até fizemos um abaixo-assinado…e até agora nada!” –quem falam assim, em coro, são a Isabel e a Célia. “Sabe, os Carvalhais de Cima, em termos de transporte urbano, sempre foi um filho menor de um Deus grande e omnipotente. Sempre foi assim. Se calhar será maldição. Olhe que tantos sofremos para conseguir ter autocarros a passar aqui. Agora que temos, para além de serem escassos, estão desajustados nos horários. Olhe que na volta das crianças, no retorno das escolas para os Carvalhais, é a mesma coisa. Só existe uma carreira às 17H00. Então acontece o impensável. Se uma criança só tiver aulas durante a manhã terá de andar a vadiar nas zonas comerciais, a fazer tempo, até às 17H00. Bolas, nós até entendemos que terá de haver contenção de custos, mas isto não está certo. É uma injustiça o que estão a fazer com todas as famílias destas zonas!” –indignam-se as duas moradoras dos Carvalhais de Cima.
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