No dia 5 de Junho passado, decorreu na Câmara Municipal, com a presença do presidente Carlos Encarnação, uma sessão, no salão nobre, sobre o tema: “A baixa de Coimbra: que futuro? Estratégias de revitalização comercial”. Neste debate, a determinado momento, foi aflorado o problema da insegurança, quer dos transeuntes à noite, quer dos estabelecimentos comerciais. Claro que, porque é politicamente correcto, logo saltaram alguns defensores para calarem tamanha afronta: “que disparate, a Baixa não tinha problemas de insegurança”. O facto de –na altura- acontecerem demasiados pequenos furtos, -através da técnica do arame, que consiste na introdução de um fino fio metálico por entre portas ou montras e, com ele, surripiar, desde ouro a uma bela camisola- tal demanda não seria, nem preocupante, nem indiciadora de que a segurança iria descambar. Apesar de alguns comerciantes presentes mostrarem preocupação por tal anomalia, tal inquietação não teria razão de ser. Seria pura especulação. Até porque eram poucas as queixas chegadas à PSP. Acontece que, infelizmente, os profissionais do comércio estavam certos: hoje, a Baixa, durante a noite, está transformada num território sem ordem, onde impera a lei do arrombamento, o roubo e do pequeno furto qualificado. Nestes últimos 3 meses largas dezenas de lojas foram assaltadas com recurso a violação de portas e arrombamento de grades de protecção. Esta mesma noite última, de 9 para 10 de Setembro, cinco casas comerciais foram violentadas. É rara a manhã em que alguns comerciantes não sejam presenteados com esta realidade dolorosa. Ser assaltado passou a ser uma espécie de roleta russa: apenas se espera que não seja em breve, mas intui-se que, pelo andar da carruagem, tal inevitabilidade é fatal como o destino da única bala sair disparada.
Há duas semanas, numa destas ruas do centro histórico, durante amanhã, em pleno horário comercial, uma jovem, filha da proprietária do estabelecimento, foi abordada por um indivíduo, que, com o maior à vontade, a apalpou e tentou beijar. Talvez porque ela tivesse resistido ao estupro e começasse a gritar, o individuo, com a maior descontracção abandonou o estabelecimento e a vítima. Passados menos de trinta minutos, como se estivesse no seu território e agisse impunemente, voltou novamente à loja, arrastou a rapariga para uma zona pouco vísivel e novamente tentou forçá-la a manter com ele relações sexuais forçadas. Novamente valeu o sangue-frio da menina que, quase já seminua, lhe aplicou uma joelhada no “calcanhar de Aquiles” do homem, ou seja, entre pernas. Apesar da queixa na polícia, o meliante passeia-se calmamente nas ruas da baixa e vai ao desplante –pasme-se- de mandar beijos, gestualmente, à violentada.
Em jeito de balanço, tentando chegar a uma conclusão, acerca desta anormalidade, começarei por atribuir aos comerciantes muita responsabilidade, sobretudo ao serem negligentes e pensarem que o facto de terem grades de ferro no estabelecimento, bastará esse artefacto de segurança para dormirem descansados –e refiro-me, nomeadamente, também a mim, porque também senti na pele o ter sido visitado pelos amigos do alheio…porque não liguei o alarme. Há também muitos comerciantes –vá-se lá saber porquê- que não denunciam os furtos, nem admitem que se fale dessa ocorrência anómala passada com o seu estabelecimento
Depois e, sem cair na demagógica tese de atribuir culpas à PSP, a verdade é que durante a noite a zona histórica não é policiada por esta polícia. Desde que o comando desta polícia de segurança pública foi transferida para a Solum é notório a falta de efectivos para prevenir a delinquência e fazer face à criminalidade cada vez mais notória, quer seja de dia ou de noite.
Uma coisa é certa: tudo indica que o recurso ao pequeno furto, ao arrombamento e ao roubo qualificado irá aumentar. Basta atentar no cenário económico, na conflituosidade nacional, ao nível do desemprego. Bem pode o ministro da Administração interna continuar a pregar a confiança…aos peixes.
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