segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

EDITORIAL: OS NOSSOS BECOS DO CRACK






 A notícia já tinha vindo plasmada no Diário de Coimbra (DC), do dia 27 do mês passado, com o título de primeira página: “Tráfico na Baixa está a desesperar moradores”. No interior do caderno duas residentes davam conta da sua impotência para resolver o problema que as afligia. Citando o DC, “Na opinião das moradoras, um dos pontos de atracção do tráfico para o centro histórico está relacionado com o funcionamento do gabinete de apoio aos toxicodependentes da Cáritas Diocesana de Coimbra no Terreiro da Erva. Em tempos, chegaram a circular abaixo-assinados contra aquela unidade que, todavia, não surtiram qualquer efeito.” ontem, domingo, dia 2 do corrente, no Jornal da Noite, foi a televisão SIC a pegar no mesmo assunto.
Como já vem sendo hábito, os moradores –e até alguns comerciantes- desvalorizam e culpam quem trabalha arduamente para tentar minorar este problema. Refiro obviamente as instalações da Cáritas e os seus técnicos que, num ambiente perfeitamente hostil e sem reconhecimento, dão o corpo ao manifesto para tentar evitar o mal maior. Porque já escrevi sobre este mesmo assunto, não vou perorar muito sobre a injustiça que recai sobre quem tanto se esforça para salvar vidas na ponta da navalha e tentar dar alguma segurança a quem se julga legitimamente com direito a tê-la –e na minha opinião, já que quem se deve importar não liga, fazem  muito bem em chamar a atenção publicamente através dos media para o efeito. O que não se pode é continuar a morder a mão de quem tanto nos ajuda.
Hoje, na Baixa, as conversas eram recorrentes em interrogação: “viste ontem a reportagem da televisão? Ó pá, isto está cada vez pior! Quem é que aguenta viver aqui? Por outro lado, não se viu lá, a prestar declarações, um vereador do executivo, nomeadamente o do pelouro, não se viu ninguém da PSP a dar a cara! Que peça tão pobrezinha! Até parece que a SIC só está interessada no alarme social”.
Quanto a mim, e afinando pelo mesmo diapasão, trabalhos televisivos como este da SIC são perfeitamente dispensáveis. Tem um efeito de deflagração mortífero para todos os envolvidos. Mata tudo à superfície e seca o que restar de vida no interior da terra –volto a aflorar o direito inalienável dos moradores à sua segurança. Na minha opinião, o canal de televisão não pode é ser instrumentalizado e, tal como aconteceu ontem, apenas parecer interessado nos conteúdos para chamar a atenção ao telespectador para o seu telejornal. Tal como qualquer meio de informação, e muito mais este meio audiovisual que gera um impacto maior na colectividade, tem obrigação de manter uma equidistância entre o facto e quem se queixa. Depois, para se avaliar o que está a ser feito deve ouvir os operadores no terreno, no caso a Cáritas, a Câmara Municipal e as polícias.
Quem quiser apreciar com olhos de ver saberá que razão do tráfico de droga ter aumentado no eixo Praça 8 de Maio, Terreiro da Erva, Largo das Olarias, para além das várias crises social e económica, se deve sobretudo a dois factores: a desertificação de moradores na Baixa da cidade e o ambiente decrépito e de escombros que se amontoa naquela zona. Tenham atenção a estas duas premissas e os toxicodependentes deixarão de se fazer notar –não desaparecerão por milagre, mas não darão tanto nas vistas. Acho também que, sabendo todos que será escassa a família que pelo menos não tenha um drogado no seu seio, era bom que não fôssemos todos tão egoístas e, como se fosse um assunto dos outros, enterrássemos a cabeça na areia. Este problema de gravíssimas consequências é para ser discutido com honestidade. Deixemo-nos de tentar chutar a bola para canto. Pode ser?


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1 comentário:

Anónimo disse...

Totalmente de acordo consigo Luis,não se apresentam soluções só se alarmam as pessoas com estas noticias.Por exemplo,em certa altura diz-se na reportagem que tratam mal as pessoas e insultam-nas.Já passei milhares de vezes na rua direita e nunca tal me aconteceu,ou seja,a «má-educação» não é exclusiva desta rua acontece em qualquer uma outra da cidade.Não estou a defender a permanência destes doentes no local,mas se existisse uma verdadeira preocupação por esta chaga social dos nossos dias que é a toxicodependencia,se houvessem mais apoios e ajudas ás diversas «cáritas» desta cidade talvez se vissem resultados.
Abraço,Marco