terça-feira, 2 de outubro de 2007

BAIXA DE COIMBRA: ESCOLHER O MAL MENOR



  Na 2ª feira, dia 1 de Outubro, um comerciante da Baixa, com o coração ao pé da boca, emotivamente, de improviso, denunciou o que, a seu ver, constitui uma profunda e descarada omissão das instituições responsáveis pela segurança dos seus munícipes, na prevenção e no combate ao crime contra o património. Sendo ele também uma vítima, referia-se, nomeadamente, aos assaltos constantes e diários, durante a noite, a lojas e a residências. Perante os autarcas, e, em particular o Presidente da Câmara e alguns vereadores, em tom acusatório, referiu a insensibilidade e o pouco empenho no desempenho para que foram legitimamente eleitos.
Uns dias antes, este comerciante falou pessoalmente com um dirigente de uma entidade ligada aos comerciantes a dar-lhe conta de que iria desenvolver “demarches” no sentido de abanar as consciências adormecidas dos políticos partidários, com assento parlamentar na autarquia. Deu-lhe conta de que a situação era insustentável. Humildemente, tentou mostrar-lhe a necessidade de ser a sua organização a liderar o processo, uma vez que aparecendo alguém, fora do sistema, a reivindicar segurança, tal acto, perante os comerciantes, mostraria, a nu, mesmo que sendo injustos no seu juízo de valor, a ineficácia de um ente vocacionado para o “lobing” perante a administração.
Este dirigente declinou tal convite, assim como mostrou profunda aversão ao facto de se darem a conhecer os assaltos na Baixa ao público em geral e, em particular, na imprensa. Referiu que tais anomalias, quando “escarrapachadas” nos jornais eram muito prejudiciais ao Centro Histórico. “Afastava ainda mais as pessoas, pelo sentimento de insegurança que causava nos leitores”. Ao ser-lhe perguntado se, a seu ver, se deveria estar calado, aquele dirigente enumerou as várias reuniões havidas com a administração encarregue da segurança da urbe e ainda outras que estavam programadas proximamente.
No mesmo dia, o tal comerciante orador de improviso na Assembleia, contactou o presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu, ao qual expôs o mesmo assunto. Deste, recebeu total apoio, bem como ainda alguns conselhos na melhor forma de fazer passar a mensagem.
Depois destas duas tomadas de posição tão diferentes entre si, nomeadamente a posição de um dirigente de uma organização ligada à defesa do comércio e do Presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu, tentemos, por momentos analisar o procedimento de um e de outro. Ou seja, no caso do dirigente, deverão ser postos, imaginariamente, nos pratos de uma balança, os dois males – o prejuízo causado à Baixa pela divulgação das notícias, por um lado, e, por outro, os repetidos assaltos aos comerciantes. Assim sendo, qual destes males, não sendo nenhum deles de estimação, qual se deve optar? Qual é o menos gravoso? Penso que isso é evidente. Menos para o dirigente. Para ele e outros, deve-se enterrar a cabeça na areia, no buraco do politicamente correcto e fazer o jogo do “faz de conta” de que “no lo passa nada”. Afinal o que é que são umas dezenas de lojas assaltadas? Pouca coisa. O que interessa é que pareça que está tudo bem. Afinal sempre existiram mártires. E os comerciantes assaltados, em nome da nomenclatura deveriam estar calados. "Estafermos! A porem o interesse individual acima do bem comum. Por aqui se vê a crise do patriotismo e, neste caso, da cidadania". Na óptica deste dirigente, cidadania não é denunciar. Nada disso. É precisamente o contrário: calar. Mesmo que sacrifique a maioria em prol de uma minoria. Isto quer dizer que é preciso, com urgência rever o Direito Constitucional. Está tudo mal.
Para o Presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu, uma salva de palmas. Esteve e está muito bem, sempre ao lado dos mais prejudicados.

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