quarta-feira, 12 de abril de 2017

EDITORIAL: UM CÃO VALE MAIS DO QUE UMA PESSOA?




Depois de ter recebido vários e-mails de alguns comerciantes e pessoas anónimas, hoje, quarta-feira, funcionários do Canil municipal levaram consigo a cadela Preciosa de Sónia Monteiro, a rapariga “acampada” na Praça do Comércio, há cerca de dois meses e que, pelos vistos, está para estar.
E fizeram mal em levar o animal? Pretendo fazer uma crítica aos serviços? Não senhor, fizeram muito bem! Segundo testemunhos que ouvi, o canino estava a decair na saúde, dia-após-dia. Ao que parece não estava desparasitado e estava a ser mal-alimentado e, porque lhe era dada, ingeria água conspurcada do lago da Praça 8 de Maio.
Então, se está tudo em conformidade, sendo assim, por que raio escrevo sobre o assunto? Perguntará quem me lê?
Peço-lhe, leitor, pense comigo: A rapariga, Sónia Monteiro, de 36 anos, alegadamente a sofrer de distúrbios mentais, está há cerca de dois meses “acampada”, num banco de madeira, em frente à Igreja de S. Tiago. Apesar do enorme sofrimento e de tudo fazerem para resolver esta situação, os pais não conseguem sensibilizar as autoridades para o problema da filha, isto é, para que seja realizado o internamento compulsivo -ainda hoje, se tiver tempo, vou mostrar aqui o pungente desabafo dos progenitores desta mulher que aparentemente parece estar plena das suas faculdades mas está completamente desregulada psiquicamente.
Já escrevi duas crónicas sobre o assunto -que foram lidas por milhares de pessoas-, já enviei para todas as televisões e jornais locais e nacionais. A mulher, para desespero dos seus mais queridos, continua lá entregue à sua sorte.
Continue a pensar comigo: Para internar o animal bastou uns e-mails e, a correr, veio a autoridade sanitária em defesa do cãozinho e, mais que certo, a esta hora estará a ser mais bem cuidado que a sua dona, para seu azar, de raça humana. Se fosse bicho era tudo mais fácil. Não é irónico? continuamos com o humanismo em queda e o "animalcentrismo" em ascensão.
Continue a pensar comigo: Por muito amor e respeito que tenhamos aos quatro patas, alguma coisa não bate certo. Concorda comigo? Estamos a transformar-nos em quê? Completamente abertos para as questões dos animais e insensíveis para o sofrimento dos humanos? É isto? E ninguém faz nada? Ninguém diz nada? Que estranho mundo é este em que estamos a viver?
Será que não estamos a fazer da Baixa um enorme jardim zoológico? Onde a alimária tem toda a protecção e as pessoas estão ao abandono? Afinal, entre uns e outros, quem é a besta?

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