quarta-feira, 5 de abril de 2017

FOI-SE O VALA DA ACADÉMICA (E UMA VALA FICOU NA NOSSA MEMÓRIA)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Inserido na página da necrologia, ontem, acompanhada com uma fotografia dos anos de 1970, o Diário de Coimbra (DC) deu a notícia: “Faleceu Vala, antigo futebolista da Académica”. Em desenvolvimento contava-se a história do emérito futebolista conimbricense, que também chegou a jogar no Beira Mar e no Pampilhosa, e que foi posteriormente funcionário dos CTT em Coimbra.
Hoje, na página dos funerais, sem foto, novamente o jornal escreve que “António José Lino Vala, antigo futebolista da Académica e do União de Coimbra, faleceu com 65 anos, conforme noticiámos ontem. (…) O corpo encontra-se depositado hoje, a partir das 14h00, na capela mortuária da Igreja de S. José (Nova) e o funeral realiza-se amanhã (quinta-feira), pelas 9h30, para o Complexo Funerário Municipal de Coimbra, em Taveiro.
Conheci Vala nos finais de 1960 e princípios de 1970 quando ele jogava na Académica. Eu era miúdo, trabalhava no então desaparecido Café Mandarim. Lembro-me ainda do seu rosto de homem simples, como outros da época, os irmãos Campos, o Belo, o Andrade, o Rui Rodrigues, o Nené e outros que agora não recordo. As décadas passaram e nunca mais ouvi ou li qualquer linha sobre a sua pessoa. Talvez por isso, pelo anonimato da sua vida posterior à de jogador de futebol e agora pela notícia curta da sua morte nos jornais da cidade, me levasse a escrever esta crónica. O que estranho é nem sequer haver uma foto actual. É óbvio, e não contesto, que poderia ser a sua vontade derradeira e prosseguida pela família. No entanto, tenho para mim que este esquecimento por todos os meios de informação entre 1970 e hoje, 5 de Abril de 2017, não deveria acontecer. Num tempo em que os futebolistas da actualidade, em que ganham e facturam milhões, e são capa de jornal quase diariamente, pessoas como o Vala, que na década de todas as revoluções sociais quase pagaram para jogar, mereciam um outro tratamento público.
É certo que no DC de ontem era citada a Direcção da AAC/OAF, em que esta “endereça as mais sentidas condolências” à família do antigo jogador”. Porém, no meu entendimento, isto é pouquíssimo.  Mesmo sendo-lhe guardado o tradicional minuto de silêncio em jogos na próxima semana, o organismo da AAC/OAF tem uma obrigação moral para com Vala e outros antigos jogadores da cidade que, sobretudo nessa época, jogaram praticamente por amor à camisola.
Coimbra é uma cidade bi-polar. Num dos pólos, no radical da notoriedade bacoca que advém de todo o nacional "porteguesismo", tanto dá o nome a uma rua de um “cromo”, cujos feitos foram unicamente girar em torno da academia a pedir uma moeda, como pode bajular, desencadeando homenagem atrás de homenagem, com busto erguido, a uma personalidade cujo feito mais notório foi estar presente num governo nacional e continuar a pertencer a um grande partido. Mas nem todos merecem o mesmo endeusamento. No outro extremo, intencionalmente e implícito, a urbe esquece os simples, aqueles que, sem se baterem a elogios públicos, dividindo a sua sobrevivência com a colectividade, são o que eu chamo a “gente humilde do povo”, a matriz identitária de um lugar habitado. Esforçados trabalhadores divididos em várias áreas, encontram no labor o único meio honesto de sobreviverem.
O ex-atleta José Vala, que nos deixou agora precocemente, no mínimo, merece ter a autarquia representada no seu funeral e, em reunião próxima do executivo municipal, ser referenciado, a título póstumo, como um dos atletas que ajudou a construir a história da cidade.
À sua família enlutada, em nome da Baixa -se posso escrever assim, já que foi um calcorreante destas pedras-, em nome da cidade, os nossos sentidos pêsames. Que Vala descanse em paz. Uma grande salva de palmas para o humilde mas grande jogador da Académica.

5 comentários:

Andrea disse...

As fillhas do Zé Vala, Andrea e Joana, gostariam de agradecer esta homenagem ao nosso pai. Obrigado Luis Fernandes.

JMREIS disse...

Grande Vala.. Era fã.. Não sabia foi Mister Niza que me disse.. Paz sua Alma.. Estou triste

Andrea disse...

JMREIS - Obrigado pela sua mensagem! Eu e a minha irmã agradecemos o sentimento.

Andrea disse...

JMREIS - Obrigado pelo comentario. Eu e a minha irma agradecemos o sentimento! Andrea

Eugenio R Santos disse...

Vim aqui parar, Cusco, ao ver no canal 11 o Caldas/AAC, chamou-me a atenção o nome do treinador do Caldas. Pretendia saber se existiam laços de parentesco com o falecido José Vala com quem partilhei a mesma mesa de café algumas vezes, acompanhado com o José Rachão aquando da sua passagem pela Académica, sendo na altura meu colega de turma na Brotero estando o José Vala a frequentar o ISCAC. O José Vala foi um dos meus ídolos no futebol para o qual morreu com o trágico acidente em que o pai faleceu. Tudo o resto é demasiado óbvio pela alegria que deixou de ter.