quarta-feira, 26 de abril de 2017

FLASH'S DO QUOTIDIANO

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(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



É meio-dia desta quarta-feira, o Sol está a pique e a bater com toda a força. Não se sabe se o seu efeito calórico será responsável por irónicas palermices de alguns humanos. A Praça do Comércio, enquanto plataforma logística de pessoas que ali tomam várias direcções, está calma. No ar um perfume aflorado sublinha que estamos estamos na estação das flores. Em frente à Igreja de São Tiago, a contemplar o nada, talvez inventariando o passado e contando os dias do futuro, vários idosos perscrutam o vazio do tempo.
De repente um irado grito atravessa o largo de ponta-a-ponta: “você olhou para a minha mulher! Isso não se faz! Está a ouvir?”. Era um homem pequeno, deslambido, sem formusura que se visse e, enquanto espécime masculino, sem graça. Estava acompanhado com uma rapariga mais ou menos torneada, talvez para mais, e com um decote pouco pronunciado onde se adivinhavam dois seios assim, assim, talvez mais para o Assim (com maiúscula). Logo a seguir juntou-se ao duo, em coro afinado de setas com pontas afiadas, um mulato, talvez mais para o negro, mais que certo seu amigo. Em crescendo de agressividade, a uma só voz, pareciam querer bater num velho que, pachorrento, sentado num banco de madeira, teria cometido o sacrilégio de, sem pedir licença, olhar para a "propriedade" do outro.
Se, por um lado, contrastava a violência verbal dos dois acompanhantes da dama na direcção do carregado de anos, por outro, impressionava a passividade do idoso, que nem a boca abriu.
Prosseguiam os ofendidos: “você tem alguma coisa que olhar para as mamas da minha mulher?
Como não houve reacção do velhote, sempre com a pseudo-estampa de musa a fazer de pára-choques visual, o trio encaminhou-se para a Rua Eduardo Coelho, quem sabe, em busca de mais um olhar de lascívia de um outro qualquer ancião carecente de sexo a quem pudesse encenar mais uma “mise-en-scéne” no grande palco que é a cidade.

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