sexta-feira, 8 de abril de 2016

TERTÚLIA “COIMBRA E O MUNDO” (1)





Passava pouco mais de quinze minutos das 21h00 no Recordatório da Rainha Santa Isabel quando José Simão, convidado pela organização para presidir à sessão, ocupou o lugar de anfitrião. O presidente da União das Freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas, com a sua voz rouca e castiça, cumprimentou os “tertulianos” e congratulou-se pela vinda dos cerca de trinta presentes que responderam afirmativamente ao convite do “Ciclo de tertúlias” imaginado por Hélder Rodrigues e Isabel Garcia. “Oxalá estes encontros tragam benefícios para Coimbra, para todo o mundo e conforme o tema da tertúlia”, enfatizou o também ex-jornalista.
Depois de Simão, falou Isabel Garcia, empresária, gerente da editora Minerva e declarada mulher de causas ligada há muitos anos à Liga dos Amigos dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Como introdução, disse: “como é que nasceu esta ideia? Foi entre mim e o Hélder. Pretendemos com esta iniciativa e outras que se seguirão um olhar para dentro, de Coimbra, e outro para fora, para o mundo.”
O tema para discussão era “Coimbra e o Mundo – Perspectivas em debate”. Foram convidados quatro oradores, sobejamente conhecidos e “apaixonados por Coimbra e a sua região”, respectivamente: Américo Santos, juiz jubilado e presidente da Assembleia Geral do Clube de Comunicação de Coimbra (CCC) e membro da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, Armando Braga da Cruz, ex-locutor da RDP e presidente da direcção do CCC, Francisco Andrade, ex-atleta e treinador da Académica na década de 1960, ex-presidente da Junta de Freguesia de Olivais e vice-presidente do CCC, e Arnaldo Baptista, emérito empresário de Coimbra, pelo fulgor com que se entrega ao desenvolvimento em prol da cidade, foi nas pastelarias Vasco da Gama que tudo germinou e agora a braços com o projecto “Praxis”, a nova cerveja de Coimbra.
Seguiu-se Hélder Rodrigues, engenheiro aposentado e colaborador do Diário as Beiras. Começou por agradecer a presença de todos e esclareceu que, com este evento, “se pretende um encontro tranquilo. Pretende-se formas de ajuda, nem que seja só um bocadinho, para que Coimbra melhore”.

OS ORADORES DESAFIADOS A FALAREM DA SUA EXPERIÊNCIA

Do grupo de quatro oradores presentes, o primeiro foi Américo Santos. Explanou sobre a Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra (AAEC). Iniciou a apresentação dizendo que “Coimbra, como cidade, tem mais habitantes que Aveiro. Temos muito a mania de dizer mal de nós. Temos dois Panteões Nacionais em Portugal. Um está em Coimbra, só que neste não se gasta um tostão. 
Quando Guterres era primeiro-ministro (1995-2000) a determinada altura disse que isto era um pântano e foi embora. Nessa altura, chegou a estar cabimentada uma verba para a remodelação da Estação de Coimbra B. Alguém, com poder na cidade, disse: “não senhor! Nós queremos um metro”. Então, como se adivinha, nem tivemos uma coisa nem outra!
A AAEC propõem-se saber quantos somos. Somos 245 mil antigos estudantes. A associação existe desde 9 de Maio de 1959. Estamos situados no Largo da Portagem num andar que é nosso. Qualquer estudante que tivesse andado na Universidade –mesmo que não tivesse feito uma única cadeira- pode ser associado. O custo anual é de 24 euros.
O segundo arguente foi Arnaldo Baptista. Com grande simplicidade, começou por afirmar que “um empresário tem de ser sério e criativo. Sou um apaixonado por Coimbra. Quando viajo o negócio está sempre em primeiro lugar. Coimbra está doente. A ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, (em decreto de insolvência), e o Clube de Empresários de Coimbra refletem a patologia de Coimbra.
Represento 180 postos de trabalho. A “Praxis”, a nova cerveja artesanal, é apenas a filhota mais nova da empresa. Uma vez encerrada a Fábrica de Cerveja de Coimbra (Topázio) prometi a mim mesmo que iria devolver a cerveja à cidade. Não foi fácil. Há um deserto de ideias. Há um deserto empresarial. Tenho uma Unidade de produção em Taveiro, ao melhor da Europa. Esteve quase 8 anos para ser licenciada. Qualquer projecto, por muito inovador que seja e com as novas tecnologias, corre o risco de num ano estar obsoleto. Estas faltas de sensibilidade levam a que as coisas não avancem. A “Praxis”, para estar neste ponto, teve de contar com uma enorme paixão, uma enorme teimosia.
Temos um novo produto a Cito-Cidra. É um produto novo que só existe em Coimbra. É resultado de uma tese de mestrado. A matéria-prima é a laranja e a maçã -50/50 de cada fruto nesta combinação.
Pena foi que a Direcção Geral de Economia tenha ido para Aveiro, isto diz bem a inércia do poder local.
(No tempo de Carlos Encarnação) O projecto Crioestaminal foi para Cantanhede porque esteve na Câmara Municipal de Coimbra um ano e meio para se dar uma simples resposta. Jorge Catarino, na altura o presidente da Câmara de Cantanhede, em dois dias resolveu o assunto.
O terceiro foi Armando Braga da Cruz. “Coimbra era o centro da rádio” começou por dissertar. “Toda a rádio nacional passava por Coimbra. Lisboa acabou com a “tarde desportiva”, produzida pelos estúdios da cidade, porque fazia concorrência à Antena 1. Hoje perdemos os emissores todos. Até perdemos a transmissão da Serenata Monumental para o Internacional. Durante 17 anos tivemos sempre a transmissão da serenata para o Internacional. Hoje é a Rádio Universidade que faz a transmissão para Coimbra.
Elegemos pessoas (deputados) para defender Coimbra que nunca vimos por cá. Por exemplo, Zita Seabra de onde é?
Carlos Candal (de Aveiro e já falecido) disse um dia que Coimbra é o bidé do Mondego. O fado de Coimbra (na rádio) não aparece em lado nenhum. Somos uma ilhota artilhada. A comunicação social é extremamente importante. A RDP não está interessada em voltar atrás. As pessoas deviam ser condenadas pelos negócios que fizeram à custa da RDP.”
E o quarto e último palestrante foi Francisco Andrade. Começou por falar da Académica de Coimbra que já foi, quando atingiu o pico de notoriedade, na década de 1960. “Quer na direcção, quer na equipa, porque tinha de ser assim, eram todos estudantes. Há a crise de 1962, há a emancipação da mulher. (Enquanto atletas) Todos tínhamos vindo para Coimbra para ganhar para nos formarmos. Nessa altura, todo o indivíduo que chegasse a Coimbra era da Académica. Havia na Praça da República um determinado café ligado à extrema-esquerda. Nós sobrevivemos! Foi através disto, do futebol, que elevámos Coimbra e para o país.”

(ARTIGO EM CONTINUAÇÃO)




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