quinta-feira, 7 de abril de 2016

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA



POR MÁRCIO RAMOS


Coimbra, em termos turísticos, faz-me lembrar a Coreia do Norte. O regime desse Estado, na movimentação, faz com que os visitantes percorram certos monumentos que mostram a suposta grandiosidade do país e o seu ditador. Não estamos em ditadura mas a Lusa Atenas é parecida nesse aspecto, o turista só vê a Universidade, o Largo da Portagem e a Igreja de Santa Cruz. Havendo tanto para ver, de enorme beleza e relevo histórico, o restante é descartado. Não vejo muitos estrangeiros a ver a Igreja de Santo António dos Olivais e poucos visitam a última morada da nossa Padroeira, no Convento de Santa Clara-a-nova.
Embora aqui, no artigo do blogue, se fale de uma matéria específica, a falta de turistas numa zona classificada como Património Mundial da UNESCO, acho que o problema relatado é mais uma consequência. A origem é outra. Vou mostrar:
Parecendo frio e duro vamos a factos. Como querem que os turistas visitem a Rua da Sofia, se é só uma via, como as centenas ou milhares existentes em Coimbra? Parece contra-senso? Não o é! Passo a explicar. De que vale uma artéria ser considerada Património Mundial da Humanidade se o que esteve no fundamento da classificação -a sua monumentalidade histórica- está inacessível ao público? Sem isso, a antiga rua dos colégios e só mais uma entre centenas
Uma igreja no meio desta artéria foi intervencionada. Foram gastos alguns milhões de euros. As obras supostamente já estão acabadas e, vá-se lá perceber, o monumento mantém-se fechado ao público. Mais à frente, para quem vem da Praça 8 de Maio, temos duas basílicas, uma sim está sempre aberta, a outra, feita centro comercial e que ainda restam vestígios da antiga igreja, não tem acesso.
Continuando, o colégio militar, antigo quartel, muitas vezes está fechado. O Palácio da Justiça não se pode visitar –e porque não? Seguindo a rota, subindo uma rampa e umas escadas, deslumbramos o imponente templo de Santa Justa, (in)justamente fechado.
Já não falo dos colégios onde os monges estudaram e não podem ser visitados, pois estão ocupados, mas o que vale os turistas irem visitar esta artéria da cidade classificada se o que devem ver esta fechado, ou interdito? Um problema leva ao outro. Depois há ainda blocos que não foram requalificados e de grande relevo.
A falta de turistas nesta zona é só uma consequência de vários factores, desde monumentos fechados, interditos, passando por outros que não são requalificados.
Mesmo na Alta classificada, há igrejas encerradas onde os turistas passam ao lado e que podiam e deveriam ser visitadas. Um dos exemplos claros é igreja de S. Salvador, perto do Museu Nacional Machado de Castro e da imponente Sé Nova
Se há culpados nesta matéria, de longe, não serão os visitantes ou operadores turísticos, mas sim a Universidade de Coimbra e o poder político.
Querem a Rua da Sofia com turistas? Há que os cativar. Não é assim, apresentando monumentos de grande relevo histórico degradados e fechados ao público, que os vão conquistar.

1 comentário:

Francisco Bettencourt disse...

Um Clube do Património em Coimbra

Existe na Escola Básica Eugénio de Castro de Coimbra um Clube do Património, que promove periódicamente, desde 2009, visitas guiadas para os seus alunos, possívelmente aderentes do clube, que são um autêntico roteiro histórico de grande qualidade, mostrando aos mais jovens o património da cidade com explicação sucinta mas sapiente da história e demais pormenores do que se está a ver.

Não faço ideia de quem partiu tão brilhante ideia, mas este magnífico exemplo devia ser seguido, não só por outros estabelecimentos de ensino, mas motivar o pelouro da Cultura da CMC para apoiar este projecto e fomentar projectos semelhantes de modo a sair-se deste marasmo em que a cidade caiu no que respeita a dar a conhecer o que Coimbra foi, é e poderá vir a ser como pólo cultural e histórico de grande relevância nacional.

Todas as visitas do Clube do Património estão no Blogue oficial do Clube do Património da Escola Básica Eugénio de Castro, que merece uma visita demorada para se avaliar como se pode com simplicidade, algum trabalho e muita sabedoria e empenho,
uma coisa magnífica. Bem hajam todos os membros do Clube do da Escola Básica Eugénio de Castro!

http://clubepatrimonio.blogs.sapo.pt/