terça-feira, 17 de novembro de 2015

ATRÁS DE SEXTA-FEIRA TREZE OUTRA PIOR VIRÁ





Escrevinhei este pseudo-poema, que transcrevo mais abaixo, em Novembro de 2009. Tropecei hoje nele por acaso e, fazendo analogia com o que aconteceu agora, nesta última deste ano e com os atentados em Paris, verifiquei que aparentemente o mundo está muito pior. O que retratava eram minudências comparativamente com a violência dos nossos dias. Não deixa de ser curioso que quase tudo o que aqui fazia referência já desapareceu. Se em seis anos tanto (ou pouco) mudou em Portugal, como será de aqui a mais meia-dúzia?
Num exercício um bocado absurdo, vou elencar:

Já não tenho animais e o “pintas” morreu de leishmaniose;
Já não moro na mesma casa e a minha vida levou uma volta;
Já não temos um primeiro-ministro mentiroso –considerando que por governo chumbado no Parlamento é um "primeiro" não existente;
Este ano, neste Novembro, temos um clima de veraneio e, contrariamente ao outro, parece Agosto;
O arrumador foi arrumado por uma série de parquímetros;
O café do meu bairro, tal como tantos outros estabelecimentos, encerrou e agora é uma loja de chineses;
A Simone, a simpática empregada brasileira, foi trabalhar para outro lado;
O cliente que chorava sentado na mesa, mais que certo, ou está em tratamento psiquiátrico ou suicidou-se;
O Eduardo, o lojista da retrosaria Edunor, já encerrou e mudou de profissão;
OAspirante”, um companheiro diário da Baixa, morreu afogado no Mondego;
O Sócrates de hoje e primeiro-ministro na altura continua a evitar dizer toda a verdade, a omitir;
O Benfica, numa esperança enorme, anseia-se que vá ganhar.


SEXTA-FEIRA 13

Palavra, até me levantei muito bem-disposto,
Barbeei-me, tomei banho e o pequeno-almoço,
dei comer aos animais, acariciei-os com gosto,
sorri para o cão “pintas”, julguei-me um moço,
para ser verão, só faltava mesmo ser Agosto;
No rádio do carro, o locutor falava de política,
contava que o primeiro-ministro afinal mentiu,
quando falou aos deputados no Parlamento,
comecei a sentir-me mal, até o carro fugiu,
olhei o céu, grossas nuvens no firmamento;
Estacionei, o arrumador estava mal-humorado,
Dizia que ultimamente não dava pró tremoço,
ninguém o reconhecia, estava tudo meio fanado,
ia desistir do trabalho, não dava para o almoço,
estava constipado, tinha uma dor, estava lixado;
No café, o patrão estava de olhares sombreados,
a Simone, o sol sempre a brilhar, estava tristonha,
sentado na mesa, um homem tremia, olhos alagados,
chorava a bom chorar, farto da vida enfadonha,
talvez de ser tratado pior que cão escanzelado;
Na loja, ao lado, o Eduardo estava à porta alquebrado,
olhava os transeuntes com cara de tristeza redobrada,
os poucos que passavam, iam distraídos, alheados,
vestidos de solidão, olhavam a pedra acinzentada,
só o “Aspirante”, louco, sorria na rua dos desencantados;
Pode ser que estas nuvens negras sejam do dia de azar,
amanhã, dia 14, pode ser que haja sol resplandecente,
certamente, outra notícia, afinal Sócrates estava a evitar
dizer toda a verdade, a omitir, ministro eleito não mente,
vai ganhar o Benfica, toca a esquecer, vão todos comemorar.

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