quinta-feira, 5 de junho de 2014

"MEMÓRIAS DA MINHA ESCOLA PRIMÁRIA"



Durante a manhã, passou hoje na TVI, no programa "Você na TV", o filme sobre "Memórias da minha escola primária". No mesmo vídeo pode ver-se duas situações diferenciadas. Uma mostrando as declarações de uma senhora que, na altura e enquanto aluna, seria oriunda de uma família citadina, senão com algumas posses, pelo menos, com uma visão de futuro. Ou seja, quer o pai quer a mãe teriam vistas alargadas sobre o que seria melhor para os filhos. Certamente entenderiam que só uma aposta forte na formação e no conhecimento dos primogénitos os prepararia para vida. Tal como hoje, a formação intelectual continua a ser a ferramenta estrutural, essencial, para a pessoalidade, incluindo a felicidade. Se calhar, digo eu, hoje, por um lado, pela facilidade de a conseguir, a formação, acaba por não se lhe dar o devido valor –só o que custa adquirir se valoriza. Por outro, provavelmente e ainda que não esteja por dentro das matérias lecionadas, os programas de ensino escolar hodiernos estarão mais virados para fora –com uma excessiva preocupação de ministrar informação exterior- do que para dentro do indivíduo –sabendo todos o profundo desconhecimento do nosso ser, enquanto pessoas de sentimentos e relacionamentos vários e necessário assentes no humanismo. A ser assim, o ensino básico, enquanto primeiro e principal na formação da personalidade, não estará direccionado para complementar e vincular os princípios educacionais e os valores para a cidadania recebidos em casa pelos pais –a par da religião. Quero dizer que nas últimas décadas, por fortíssimo enviesamento e recalcamento, houve uma excessiva preocupação em retirar e esvaziar os alunos das cargas ideológica e religiosa do ensino do primeiro ciclo. Isto quando o ideário e o religioso, ambos, imbricam na mesma sensação de humanidade, nos costumes e nos valores morais. Isto é, confundindo e embrulhando tudo no mesmo saco, esqueceu-se que na ideologia, “contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas”, está a essência do indivíduo. Não sei se consegui explicar-me, mas pretendo mostrar que, contrariamente ao Antigo Regime, que, resultado da época e em excesso, apostava fortemente nos valores tripartidos de “Deus, Pátria, Família”, a Democracia em Portugal, nas suas últimas quatro décadas, perseguindo um metafísico conceito absoluto de independência individual, empenhou-se deliberadamente, pela negação, no esvaziamento total da ideologia. Ou seja, a meu ver, há uma preocupação em formar cidadãos mundanos e nenhuma prevenção em criar pessoas bairristas.
O “artista”, “chorão”, que conta a sua “estória” de pobre e aparece no vídeo, por acaso, sou eu. Sem ofensa para ninguém, antes fosse o personagem rico, mas as coisas são o que são. Embora as memórias tenham um peso enorme na minha vida, recordo cada momento porque os escrevi em crónica, não me sinto mal nem ressabiado, aliás sinto-me orgulhoso por ter ultrapassado toda a pobreza da época e ser o que sou. O que consegui ser, porque somos o resultado de várias premissas.
Podemos interrogar por que, a convite da TVI, aceitei contar tudo isto frente às câmaras. Por um motivo muito simples: para que os nossos filhos e netos tomem conhecimento de que, se hoje vivemos momentos menos bons, os seus ancestrais viveram muitíssimo pior. E eles, os jovens, têm de saber. É imperioso que saibam!

1 comentário:

LUIS FERNANDES disse...

Ilídio Ferreira deixou um novo comentário na sua mensagem "Memórias da minha escola primária":

Bom dia amigo Luís.
Se não me engano, na semana passada alertavas num dos teus artigos que quinta-feira, dia 5, iria sair na TVI uma reportagem sobre a "tua" escola da Lameira de S. Pedro e que tu irias ser o entrevistado.
Hoje quando cheguei a casa não fui ler Questões Nacionais como é meu habito, fui logo direitinho ao programa da TVI para ver se por lá estava o que eu procurava -só mais tarde é que vi que no Questões Nacionais também lá tinhas colocado a gravação. Segui com muita atenção o relato das tuas memórias. E quando, nos teus momentos mais comoventes sobre o que estavas a contar, talvez ao lembrar-te dos tempos bem difíceis por que passaste, eram as lágrimas que saiam com mais facilidade do que as palavras. Também uma lágrima correu pela minha face ao ver este filme e as tuas declarações, porque eu também sou dessa época e, igualmente, passei mais ou menos aquilo que tu passaste. O teu relato fez-me recuar no tempo.

PS: Curiosamente a tua professora, a D. Odete, era prima da minha mulher.
Um abraço... e ate Julho!

Ilídio Ferreira Lopes
Philadélfia
Estados Unidos da América