quarta-feira, 11 de junho de 2014

EDITORIAL: CORTAR A CABEÇA AO MITO

(Imagem da Web)


Tudo teria começado na década de 1930. Duarte Pacheco, ministro das Obras Públicas e Comunicações de Salazar, para renovar a política urbanística, e que dariam origem aos primeiros Planos de Urbanização do país, convida vários arquitectos de renome internacional, entre eles o francês Etienne de Gröer, que trazem para Portugal o conceito de “cidade-jardim”, em voga por toda a Europa. É então que na década seguinte de Gröer apresenta na Câmara Municipal de Coimbra (CMC) o plano “Urbanização Embelezamento e extensão da cidade”. Num dos projectos, o urbanista francês defende a ligação, em forma de avenida, entre a Praça 8 de Maio, ligando à Avenida Fernão de Magalhães, e o Rio Mondego. Em meados da década de 1960, depois de expropriadas várias habitações, dá-se início à desconstrução para abertura do canal. Certamente por dificuldades nas finanças públicas, talvez pelo rebentar da guerra colonial, as obras param poucos anos depois no início das Ruas da Moeda e Louça e nasce um buraco, quiçá amaldiçoado, que se virá a chamar “Bota-Abaixo”.
É no mandato de Carlos Encarnação, eleito presidente da autarquia e já depois de 2002, que a obra, incluindo no mesmo pacote um comboio rápido, ganha velocidade. Sob o espectro da expropriação, começam as negociações com vários residentes e alguns comerciantes entre o Largo das Olarias e a Praça 8 de Maio.
Em 2006, o então presidente da edilidade coimbrã, Encarnação, com grande encenação, sem ter garantias de aprovação governamental e sem acordo entre as três autarquias envolvidas no plano Metro Ligeiro de Superfície, Coimbra, Miranda e Lousã, recomeçou a demolição. Este acto de lesa-património que, por interesses pessoais, mesquinhos e de propaganda, muito contribuiu para o estado de necessidade da Baixa comercial e cujos custos sociais não serão mensuráveis, sacrificou a cidade e o erário público –fala-se em 150 milhões. Juntamente com promessas cheias de colocar um novo train-train em circulação na cidade vazia de humildade, ajudou a reeleger os presidentes das autarquias acima citadas. Num nem lá vou nem faço nada, passados 8 anos constata-se a monstruosidade implantada como metástase no coração da cidade e dá mesmo para acreditar na maldição do mito.
Na última reunião do executivo municipal, Manuel Machado, atual Grande Chefe dos chefes, com voz grossa na janela do palácio, anunciou que a “Câmara de Coimbra vai avançar com o projecto de execução da Avenida Central”. Fez mal? Se não, até parece! Ao ser acusado de querer continuar a destruir a Baixa pelos partidários do “ne far niente” nas redes sociais, até parece que Machado, em nome do bom senso, não decidiu o óbvio. Com todo o respeito pela opinião de cada um mas este buracão, da indecisão e símbolo da podridão política-partidária, está a causar graves prejuízos nas famílias que vivem do comércio nesta zona velha. É urgente avançar rapidamente para uma solução. E tendo em conta o que está feito e o que foi destruído, salvo melhor opinião,  a continuação das obras parece-me a mais ajuizada. Perante tantas aselhices políticas de Machado nos últimos nove meses, com este anúncio, bato-lhe palmas. Dá cá um abraço, pá!

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