quinta-feira, 12 de junho de 2014

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: CORTAR A CABEÇA AO MITO""OS OLHOS TRISTES DE MARINELA""SEMENTES PARA A PARTILHA"; e "RAINHA SANTA VENHA A NÓS"


REFLEXÃO: CORTAR A CABEÇA AO MITO

Tudo teria começado na década de 1930. Duarte Pacheco, ministro das Obras Públicas e Comunicações de Salazar, para renovar a política urbanística, e que dariam origem aos primeiros Planos de Urbanização do país, convida vários arquitectos de renome internacional, entre eles o francês Etienne de Gröer, que trazem para Portugal o conceito de “cidade-jardim”, em voga por toda a Europa. É então que na década seguinte de Gröer apresenta na Câmara Municipal de Coimbra (CMC) o plano “Urbanização Embelezamento e extensão da cidade”. Num dos projetos, o urbanista francês defende a ligação, em forma de avenida, entre a Praça 8 de Maio, ligando à Avenida Fernão de Magalhães, e o Rio Mondego. Em meados da década de 1960, depois de expropriadas várias habitações, dá-se início à desconstrução para abertura do canal. Certamente por dificuldades nas finanças públicas, talvez pelo rebentar da guerra colonial, as obras param poucos anos depois no início das Ruas da Moeda e Louça e nasce um buraco, quiçá amaldiçoado, que se virá a chamar “Bota-Abaixo”.
É no mandato de Carlos Encarnação, eleito presidente da autarquia e já depois de 2002, que a obra, incluindo no mesmo pacote um comboio rápido, ganha velocidade. Sob o espectro da expropriação, começam as negociações com vários residentes e alguns comerciantes entre o Largo das Olarias e a Praça 8 de Maio.
Em 2006, o então presidente da edilidade coimbrã, Encarnação, com grande encenação, sem ter garantias de aprovação governamental e sem acordo entre as três autarquias envolvidas no plano Metro Ligeiro de Superfície, Coimbra, Miranda e Lousã, recomeçou a demolição. Este ato de lesa-património que, por interesses pessoais, mesquinhos e de propaganda, muito contribuiu para o estado de necessidade da Baixa comercial e cujos custos sociais não serão mensuráveis, sacrificou a cidade e o erário público –fala-se em 150 milhões. Juntamente com promessas cheias de colocar um novo train-train em circulação na cidade vazia de humildade, ajudou a reeleger os presidentes das autarquias acima citadas. Num nem lá vou nem faço nada, passados 8 anos constata-se a monstruosidade implantada como metástase no coração da cidade e dá mesmo para acreditar na maldição do mito.
Na última reunião do executivo municipal, Manuel Machado, atual Grande Chefe dos chefes, com voz grossa na janela do palácio, anunciou que a “Câmara de Coimbra vai avançar com o projeto de execução da Avenida Central”. Fez mal? Se não, até parece! Ao ser acusado de querer continuar a destruir a Baixa pelos partidários do “ne far niente” nas redes sociais, até parece que Machado, em nome do bom senso, não decidiu o óbvio. Com todo o respeito pela opinião de cada um mas este buracão, da indecisão e símbolo da podridão política partidária, está a causar graves prejuízos nas famílias que vivem do comércio nesta zona velha. É urgente avançar rapidamente para uma solução. E tendo em conta o que está feito e o que foi destruído, salvo melhor opinião, a continuação das obras parece-me a mais ajuizada. Perante tantas aselhices políticas de Machado nos últimos nove meses, com este anúncio, bato-lhe palmas. Dá cá um abraço, pá!

 (Imagem da Web)

OLHOS TRISTES DE MARINELA

Cruzamo-nos à hora de almoço junto à sua loja, numa destas ruas estreitas, e, como sempre, trocamos umas palavras de alento mútuo. Marinela é uma pessoa de meia-idade e dedicou uma grande parte da sua vida ao comércio, na Baixa. Aqui, desde há décadas a trabalhar, começa o seu dia, umas vezes esplendoroso, outras assim, assim. À noite, e depois do crepúsculo ter estendido seu manto negro, já cansada e após arrumar tudo lá em casa e deixar a máquina a lavar, acaba a sua jornada de labuta duplicada e se deita a pensar no amanhã que há de vir mais rápido do que se quer.
Depois de vinte e cinco anos a correr para o mesmo sítio, a cumprir ordens e sempre no mesmo horário, no ano passado, Marinela foi confrontada com uma verdade já há muito adivinhada: o encerramento do negócio que constituiu parte do seu rendimento familiar e horizonte de vida -somos seres de rotinas. Depois de um tempo a calcorrear sempre o mesmo percurso fazemos dele um hábito enraizado e tomamo-lo como parte de nós. De repente, como num tremor de terra, Marinela vê o chão, aquele chão que sempre se apresentou firme, fugir-lhe debaixo dos pés. Num golpe de asa do destino –por que este deve ser um pássaro que se passeia no meio de todos livremente-, naqueles voos rasantes que vemos acontecer aos outros mas julgamos que nunca vai bater à nossa porta, tinha à sua frente uma via aberta para o desemprego. Mas a questão é como entrar num mundo de inatividade que se desconhece e que, sem apelo nem agravo, tem de se receber sem recusar? Em catarse, como reconhecer que, depois de uma vida de utilidade prática e o trabalho é muito mais do que um proveito e passa também a ser uma terapia -e o reconhecimento da pessoa enquanto membro de um coletivo-, se vai arrumar na prateira como se de um objeto velho e sem valor se tratasse? Como aceitar que a idade mental que se sente não é igual à que consta no Cartão de Cidadão e no rosto dividida em cada traço marcado pelo tempo? E agora? E agora? São as interrogações repetidas que, carecendo de resposta, como eco que se perde no vácuo e fica sem som de retorno. Após noites brancas sem pregar olho e com reuniões familiares, onde o futuro como carta de Tarot foi jogado em cima da mesa, escolheu uma vereda que, mesmo com os picos do silvado a provarem a sua carne, continuasse a sentir-se viva e fazer vibrar a sua alma.
Com muita dificuldade, empatando o que tinha aforrado e mais uns empréstimos pedidos aos mais chegados, num mês do segundo semestre do ano passado, Marinela abriu o seu negócio. Mas esta época de vacas magras, onde o pasto verde escasseia e o seco emigrou para outras paragens, não se mostra generoso com quem arrisca tudo para se sentir útil. É um tempo dividido, onde o cinzento-escuro faz apagar as cores vivas da espiritualidade e o mundo, com toda a sua carga negativa, parece poisar nos ombros de quem caminha com grande esforço e suores continuados. E se a tristeza se propaga muito mais rápido do que a alegria, é mais que certo que a mágoa, como enxurrada num cálido Agosto, vai arrastar todos. Transeuntes e lojistas, sem o sentirem, irão ser envolvidos num nevoeiro opaco e sem luz onde o presente parece passado e o futuro já começou ontem.
É por isto mesmo que encontrei hoje a Marinela de olhos tristes, sem brilho e desalentados. Mas se para amanhã, tal como hoje na tarde que se mostra macilenta e depressiva, os meteorologistas, como prescientes meticulosos que retiram a beleza da incerteza, preveem chuva e dia desprezível e sem identidade, para a semana iremos ter altas temperaturas e um Sol radioso que vai alavancar o ânimo da minha amiga. Tal como a Natureza nos mostra, nada é contínuo e infinito. Pelo contrário, tudo é dinâmico e impreciso. Temos apenas de saber esperar. Força Marinela! O Sol vai brilhar!


SEMENTES PARA A PARTILHA

No sábado passado, durante todo o dia e junto à Igreja de Santa Cruz, quem passou na Praça 8 de Maio foi confrontado com umas mesas alinhadas em forma de banca e várias mulheres e algumas crianças a oferecerem, com o custo de um euro, uns pequenos queques de chocolate e com um creme em cima, em forma de coroa.
Mas o que é isto? Interroguei. Em conjunto responderam a Adélia Silva e a Carla Marques: “há uns anos tivemos a ideia de fazer uns pequenos bolos e com a sua venda poder proporcionar à Cáritas Diocesana de Coimbra a possibilidade de poder ajudar mais crianças carenciadas na compra de livros e materiais escolares. A invenção correu tão bem que fomos ampliando para outras formas de financiar ainda mais alunos. Foi assim que convidámos vários “padrinhos” para apadrinharem este projeto tão altruísta. Até agora já temos 75 benfeitores. Foi graças a estes beneméritos que já apoiámos 68 crianças do Bairro da Rosa, Ingote e outras carenciadas de artigos essenciais à sua formação intelectual. Com a crise que vivemos, os nossos apoiantes começaram a experimentar dificuldades e as dádivas decresceram. Foi assim que evoluímos para outras formas de financiamento. Mas, espere, vem ali a Dr.ª Graça Ferreira e que é a responsável pelo projeto “Sementes do Saber”, já agora, fale com ela.”
Vou então falar com a Graça, que por sinal é uma graça de mulher. Já ouvi uma parte desta bonita história das bocas da Adélia e da Carla. Conte-me mais, senhora diretora. Como é que surgiram aqui tantos adoráveis e apetitosos queques de chocolate?
Responde a Graça Ferreira: “a ideia base é chamarmos a comunidade social a participar na ajuda a quem menos tem. A responsabilizá-la, educa-la para a partilha. Repare, falamos de um bolo que custa um euro! Aceitamos também um pequeno contributo ou doação de livros. Mas, sem fugir à sua questão, perguntava-me como conseguimos tantos bolos. Foi assim: contactámos o senhor Lúcio, do café A Brasileira, para ver se nos poderia auxiliar. Foi incrível! Disponibilizou-nos gratuitamente um milhar de pastéis para vendermos aqui e com a possibilidade de virem mais. É fantástico, não é?
Aproveitava este contacto para, em nome da Cáritas Diocesana de Coimbra, agradecer a disponibilidade manifestada pela Câmara Municipal de Coimbra e a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e, mais uma vez, ao senhor Lúcio d’A Brasileira. A todos o nosso muito obrigado!”

(Imagem da Web)

RAINHA SANTA VENHA A NÓS!

Maria de Lurdes Mateus mora há muitas décadas, tantas tantas que já lhe perdeu a conta, no Largo da Freiria e mesmo ao lado da antiga rua dos sapateiros. Como a maioria dos conimbricenses é devota da Rainha Santa e vê com desagrado o divórcio crescente, nos últimos anos, entre a procissão da padroeira e a Baixa da cidade. “Ainda sou do tempo em que, por volta de 1950, o cortejo passava na Rua Eduardo Coelho. Com o argumento da via ser estreita alteraram o percurso e, com pompa e circunstância, passou para as ruas da calçada e a finalizar na Igreja da Graça, na Rua da Sofia. Agora, e desde há dois anos, o préstito só vai até à Igreja de Santa Cruz, na Praça 8 de Maio! Porquê? Por que razão a Rua da Sofia não é contemplada e respeitado o trajeto adotado desde há meio século? Será que a recente distinção, pela Unesco em Património Universal da Humanidade, da antiga rua dos colégios não deveria fazer pensar melhor os “arautos da intriga da Confraria”? Por este andar, qualquer dia, a imagem da veneranda nem chega a sair do convento!”, enfatiza Lurdes Mateus com pesar.


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