Homem que nasceste sem saber,
cresceste vestido de cidade,
mesmo sabendo que vais morrer,
vives envolto na tua vaidade;
Caminhas erecto, olhando só através do teu olhar,
sentes o centro do mundo no teu umbigo,
julgas-te o maior no meio do teu pensar,
não ligas, sobretudo, se é um “Zé ninguém”, não é contigo;
Na tua barriga, na careca luzidia está a tua auto-valorização,
falas grosso, ou fininho, frases bem timbradas e sonoras,
todos te devem escutar como se fosses padre em oração,
pareces um pavão, na tua pose, uma grande ave canora;
Pensas que és de uma estirpe única e superior,
os mais novos, a teu ver, são vã glória, são “cepa fraca”,
para nada prestam, são ociosos, nem para o amor,
interrogas: “que futuro para esta gente de “caca”?;
Nem de cócoras, forçadamente, te sentes igual,
quando alivias o físico, por necessidade, em aflição,
olhas para o lado, em catarse, e até te parece mal,
um homem como tu, original, a imitar o povão;
Quando arqueado na bengala os anos te carregam,
com passo trôpego, titubeante, caminhas na solidão,
só sorris àqueles que, lembrando outro tempo, o teu ego elevam,
para a maioria és azedo, abespinhado, muito duro de coração;
“Este mundo é muito injusto”, em lamúria, amiúde confessas,
“não há respeito para pessoas importantes da minha condição”,
umas vezes lamentas, outras vezes, em fúria, pedes meças,
“eu sou a memória, o passado, o futuro, a alma da nação”;
Com um Criador, só teu, interrogas, negoceias à toa,
em vão não aceitas porque hás-de desaparecer,
“sempre fui generoso, dei esmola, e até uma alma boa,
porque não me preservas, ó Deus!, porque hei-de eu morrer?”;
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