Meu caro Doutor Cavaco Silva, dirijo-me a V.Exª porque estou profundamente indignado consigo. Calma! Eu explico. Nas últimas eleições presidenciais, em que foi eleito, tenho uma vaga ideia de, aquando do discurso de vitória, ter referido que era o presidente de todos os portugueses. Foi assim não foi? Se não foi, corrija-me. Esteja à vontade, não se iniba. Ora, se não me rectifica, é porque estou certo. Nesse caso, vou continuar. O que corrói as entranhas da minha indignação é o caso que lhe vou contar a seguir. Apesar de não esperar nenhuma resposta de Vocelência, tenho quase a certeza que o que aconteceu foi mesmo um lapso. Só pode ser. Certamente um descuido de algum assessor seu menos avisado. O que lhe vou descrever a seguir, em resposta do seu gabinete, creio, não podia ser exarado por si. Com franqueza, não acredito. Tenho por si uma estima grande e a certeza de que é um homem sério. E afirmo-o com convicção. Daí, eu estar certo de que foi um descuido dos “homens do presidente”. Não quero ter a prosápia de lhe dar conselhos –quem sou eu para isso?!- mas que o amigo deveria endereçar desculpas ao visado, lá isso devia. Mas o senhor, na sua sapiência, fará o que bem entender. Vamos então aos factos que já estou a esgotar a sua paciência:
O “DIÁRIO AS BEIRAS” é um jornal de Coimbra que há 14 anos, diariamente, com o esforço que se entende de todo o pessoal que trabalha na sua feitura e distribuição, coloca nas casas, nos cafés de bairro, nas ruas, nos becos, nas vielas, nos recantos, praças, pracetas, largos e larguinhos da Lusa Atenas um jornalismo sério que em nada fica atrás de um qualquer outro jornal nacional. Diariamente, a par de outros que não vale a pena enunciar, é o acompanhante do meu café da manhã. Digamos que é o açúcar que me adoça o espraiar das minhas manhãs. Já entendeu, não é verdade?! Continuando, acontece que o “meu” “Diário as Beiras” comemora hoje 14 anos –obrigado senhor presidente pelos parabéns, já estou mesmo a ver que V.Exª não sabia mesmo-, então, vai daí, o “meu” jornal solicitou uma entrevista a V. Senhoria para incluir na edição de hoje, dia 15 de Março de 2008, e “no âmbito do aniversário do jornal, pretendia pôr o Presidente a falar de coesão regional, numa região de seis distritos intrinsecamente diferentes, mas com projectos e ambições próprias de gente que se recusa a baixar os braços perante as adversidades” –estou a citar o Jornal, retirando a opinião abalizada e indignada da minha conterrânea e chefe de redacção, Eduarda Macário. Continuando a citar esta senhora, “E foi em nome desses milhares de portugueses que têm a sua vida –boa ou menos boa- nesta vasta região, que o “DIÁRIO AS BEIRAS” solicitou uma entrevista ao senhor Presidente da República. (…) Ao solicitado o Sr. Presidente mandou dizer que só dava entrevistas “a jornais nacionais”. Confesso que não queria acreditar” –quem diz isto é a minha conterrânea Eduarda Macário, mas faço delas as minhas palavras. “Não tanto pela recusa, mas mais pela justificação. Até compreendo. Afinal, esta pode ser uma forma que o Presidente tem para se “livrar” das inúmeras entrevistas que lhe devem ser solicitadas pelos órgãos de comunicação social espalhados pelo país. (…) Não é esta uma forma infeliz de discriminação? Discriminação dos órgãos regionais de informação. Discriminação dos profissionais. Mas, acima de tudo, discriminação dos leitores que, também, são portugueses…e de boa cepa, como diz o Bispo de Coimbra.”
Ora, como já viu nas palavras escritas da minha correligionária, sendo eu leitor e defensor do jornal, é evidente que estou indignado. “Errare humanum est” e o senhor Presidente da República, mesmo no desempenho do seu alto cargo, não está imune. Assim sendo, e como V.Exª sabe que quando erramos devemos humildemente pedir desculpa, venho por este meio convidá-lo a retratar-se perante o “DIÁRIO AS BEIRAS” e os seus leitores. No que toca à minha pessoa, pode o senhor ficar descansado que já está perdoado. Sei que não vai voltar a fazer isto a mais nenhum jornal…"estrangeiro”.
Um grande abraço do seu admirador.
LUIS FERNANDES
(COIMBRA)
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