Começo por cumprimentar o senhor presidente. Embora não sendo eleitor na freguesia de Almalaguês, possuo uma casa em Outeiro de Vera. Para quem não sabe, Outeiro de Vera é uma pequena aldeia multissecular com cerca de três dezenas de habitantes e a dois minutos da sede de freguesia. É um lugar encantador que, pelas muitas casas antigas em pedra e pelas suas gentes, facilmente nos faz recordar as reminiscências do passado. É uma povoação rural com uma única rua. As casas, muitas delas centenárias, foram construídas ao longo da artéria principal e com um pequeno largo a meio. Como há mais de 150 anos não havia automóveis, esta pequena aldeola foi pensada para ser percorrida por carros de tracção animal. Daí a sua artéria principal e única ser muito estreita e no seu términos, ao fundo, não ter saída. Com a democratização do automóvel, aqueles foram sendo, progressivamente, substituídos por muitos cavalos, mas invisíveis ao olho humano. É assim que, se por um lado, os autóctones ainda, muito que poucos, utilizem os irracionais para puxarem os carros, os habitantes mais novos, os que vieram da cidade e, diariamente, para trabalharem, retornam ao grande centro e, à noite, novamente, numa mimética continuada, regressam de automóvel à sua aldeia de eleição. Porém há um senão: não há lugar para estacionar os veículos que os levam a trabalhar na grande cidade. Então, há muitos anos que, em desenrascanço, os novos habitantes de Outeiro de Vera deixam os seus veículos à entrada da povoação num terreno particular, que apesar da forçada boa vontade do proprietário não consegue permitir mais do que quatro carros.
Há quatro anos foi posto há venda um terreno mesmo no centro da povoação. Uma parte com um decrépito barracão e outra parte, de agricultura, em baixo, junto ao rio. Ou seja, o primeiro dará uma excelente pequena praça e o segundo um bom parque de estacionamento. Foi assim que antevimos, eu e um outro habitante da aldeia. Se melhor o vimos melhor o imaginámos. Depois de falarmos com o proprietário do terreno em vias de ser alienado, propusemos à anterior presidente da Junta de Freguesia de Almalaguês que o adquirisse, que não deixasse passar esta oportunidade única e de contribuir para a revitalização deste pequeno lugar de sonho. Como a verba pedida, nessa altura, era de 15000 euros, a presidente, mostrando abertura, declarou que, apesar da Junta não ter possibilidades financeiras, iria desenvolver demarches junto da Câmara Municipal, no sentido de tornar viável este projecto. O tempo passou e com ele esta ideia se esfumou. Entretanto, após eleições, esta senhora foi substituída pelo senhor presidente Victor Costa. Há cerca de dois anos, aquando de uma assembleia de freguesia numa aldeia próxima de Almalaguês, novamente eu e outro morador de Outeiro de Vera, interpelámos, no sentido da sensibilização, o presidente do executivo da freguesia, para esta oportunidade de não deixar que aquele terreno caísse nas mãos de um qualquer particular. Também desta vez o senhor presidente Victor Costa se mostrou sensível ao nosso apelo e prometeu desenvolver esforços para que se concretizasse esta compra. Mostrou-se de acordo que, para evitar a desertificação destes pequenos núcleos suburbanos, era necessário ir ao encontro das necessidades de quem lá mora e, sobretudo, para que estes pequenos lugares históricos, revivências da memória, não morressem aos poucos, mesmo à frente dos nossos olhos. Para que um dia as gerações vindouras pudessem in loco ver como viveram os seus antepassados.
Passado todo este tempo, constato que tudo continua na mesma. Ou seja, o terreno continua à venda, à espera que um qualquer particular o adquira.
Assim sendo, no sentido do interesse público, venho, por este meio, lembrar o senhor Presidente da Junta de Freguesia de Almalaguês de que, a qualquer momento, este terreno pode ser alienado para um qualquer particular e, desse modo, porá fim a um plano que, do ponto de vista de desenvolvimento futuro e de um necessário progresso, é fundamental.
Com os melhores cumprimentos.
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