quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

PINA PRATA E A CEGUEIRA DO OURO

  Há muito que reconheço no ex-vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), e outrora presidente da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC), uma capacidade inata de se antecipar ao próprio futuro. Eu sei do que falo. Trabalhei com ele na ACIC. É um homem com uma capacidade política fora do comum. Quase dotado de presciência. Um estratega espectacular. É um pensador que, antecipadamente, pondera todos os contras e constrói cenários dentro duma rejeição possível. Coimbra –se…se…, mais à frente explico estas reticências- teria muito a ganhar se tivesse um presidente camarário como ele. Pina Prata é um homem muito para além dos políticos do seu tempo. É mestre em “show-of”, sabe antecipar-se aos seus adversários políticos. Sabe criar expectativas nos eleitores, como um publicitário sabe criar falsas necessidades; ainda que não passem disso mesmo: expectativas vãs. É um sofista, um guerrilheiro da dialéctica urbana. Quem não se lembra das suas frases-chavão “empreendedorismo”, “autoestima” e “amar Coimbra”? São frases lançadas no ar, tipo bomba de Carnaval, que fazem barulho, mas não passam de isso mesmo, sem qualquer acção prática. São palavras que tentam ir ao encontro das necessidades de quem as ouve, que tentam funcionar como dogmas sem explicação e, ao mesmo tempo, justificar uma atitude proactiva –outra palavra que Pina Prata adora. Foi assim com Manuel Machado, que, com este bem orquestrado programa pseudo social, muito contribuiu para a sua queda em 2002, na CMC, era então, desde 1998, Pina Prata presidente da ACIC. É agora com a criação do seu site de apelo à cidadania do povo de Coimbra. Mais uma vez, aos olhos dos conimbricences, este homem, saído da bruma demagógica, veste a armadura de D. Sebastião, e de site “em punho” surge como salvador da Lusatenas, na defesa dos ofendidos e descamisados.
Porém. E aqui é que reside o busílis da questão. Pina Prata não controla a sua ambição. A sua sede de conquista não tem limites. Só o infinito o contenta. A nível regional é um Santana Lopes, para melhor. Pina Prata, como o ex-primeiro ministro não joga no acaso. Tem um grande carisma e convence com uma dialéctica estudada ao pormenor. Aposta forte e sempre prevendo os diversos cenários. Sabe que é um bom “general”. Sabe fazer-se rodear de todas as tropas necessárias para ganhar as sucessivas escaramuças. Mas chegado à batalha final perde a guerra. Os seus generais-ajudantes de campo, apercebendo-se que ele não olha a meios para alcançar os fins, abandonam-no, por se sentirem utilizados, ou porque não partilharam, em seu proveito, dos despojos da conquista que tinham previamente idealizado. Foi assim na ACIC, onde os seus outrora amigos do peito são hoje seus inimigos de estimação. E o mesmo se passou na CMC, a sua destituição de vice de Carlos Encarnação não foi mais do que uma antecipação deste. Carlos Encarnação, como sósia-figurante do desaparecido Abecassis, presidente da Câmara Municipal de Lisboa na ida década de 1980, parece que, de olhos meio cerrados, está sempre a dormir, mas quando menos se espera o “dolente” acorda estremunhado e parte a louça toda em seu redor. Mas sabe resguardar-se dos estilhaços. A destituição de Pina Prata, em 2005, não foi mais do que um antecipar, por parte do actual Presidente da CMC, de grandes problemas que iriam surgir num futuro próximo. Por acaso, para o bem e para o mal, esses imbróglios ficaram aquém das expectativas. Resumiram-se à novela “IParque” –parque industrial e tecnológico, a construir em Taveiro- e pouco mais. Mas Carlos Encarnação, ao destituí-lo, esperava um terramoto de grau 8, na escala de Richter. Felizmente, para Pina Prata, não passou de grau 4. Às vezes as placas tectónicas de grande porte podem ser amparadas por outras de ínfima dimensão e podem impedir o seu movimento de cataclismo. Foi o que aconteceu. Essas placas, desprezíveis, do ponto de vista de importância, devido à sua implicância directa, são por vezes o suporte que impede a deslocação e a queda da superstrutura e ampara o movimento de todo o centro nevrálgico da terra. E foi o que aconteceu aqui também. Essas desprezíveis e miseráveis placas, que nunca deixarão de o ser, evitaram um terramoto.
Deixando as metáforas convulsivas sísmicas, volto então a Pina Prata. Sinceramente, reconheço-lhe imensas qualidades. Às vezes ponho-me a pensar o que seria Coimbra se este homem fosse verdadeiramente um estóico em relação à sua desbragada ambição pessoal. Infelizmente não é. É um materialista demasiado ambicioso. Quem perde é ele, que nesta triste odisseia, acaba por não ser tomado a sério por ninguém. Mas, o mais grave, é que perdemos todos muito mais. Coimbra perde muito em não ter à frente dos seus destinos um homem com a sua inteligência. Escrevo isto com tristeza e lamento.
Porque é que Deus –sem ofensa para os crentes-, sendo o supra ente transcendental-divino-“político” de eleição, não fez o homem perfeito à Sua imagem e semelhança? Tenho a certeza que foi para nos castigar a todos. Só pode.

3 comentários:

Anónimo disse...

Engraçado..., acompanhei a campanha eleitoral e fiquei exactamente com esta ideia acerca do Eng. Pina Prata.

Cidadão de Coimbra

Sónia da Veiga disse...

Não posso dizer que tenha acompanhado a campanha eleitoral de perto, mas confesso que certos membros da equipa me apelaram por conhecer a sua integridade e foi com pena que não vi qualquer interesse de Coimbra no seu programa.
Decidi ser mais activa na sociedade e colaborar nessa equipa, mas agora deixou-me com medo de não ser esse o melhor caminho... Ou melhor, não ser esse o líder que gostaria para pessoas que estimo, para a cidade e, acima de tudo, para mim e para os meus...

Anónimo disse...

Nunca tinha visto uma descrição tão precisa e completa desse senhor. Senhor não... é uma palavra muito sofisticada para tal pessoa!! Quem o conhece e lida com ele de perto, sabe que tudo o que está escrito é a mais pura das verdades... Infelizmente há pessoas assim.... Viva Coimbra!!!