segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O PAI NATAL DA PRAÇA 8 DE MAIO

Do alto da sua chaminé de quatro metros, o Pai natal, instalado como ícone na Praça 8 de Maio, em Coimbra, se tivesse cérebro humano, em catarse, pensaria certamente: “quem sou eu, que faço aqui, os fins justificaram todos os gastos com a minha instalação? Será que consegui atrair mais pessoas à Baixa? Será que não começarei a ser um personagem “déjà vu” que já cansa o olhar, e nem as crianças acreditam em mim? Não serei um fantasma de mim mesmo?
Será que estes lojistas, cerca de oito centenas, estarão certos a continuarem a insistirem em gastos de animação? Esta continuada injecção de animação forçada levará a algum lado? Não será como tentar reanimar um velhote com 90 anos, que se encontra em morte clínica? Mesmo que ele recobre o que se espera dele para além das suas nove décadas de vida. Espera-se que, através de umas injecções rejuvenescedoras volte a ter 25 anos? É loucura não admitir que a Baixa está velha e pode competir com os novos Centros Comerciais, pujantes de vitalidade, cheios de força de capital e adorados por todos, sobretudo os mais novos, que são o futuro deste país. Continuar a querer competir com estas novas catedrais de consumo, é o mesmo que pôr a capela da nossa aldeia a pedir meças ao Vaticano. Neste caso, perguntar-se-á, então não se faz nada? É evidente que se deve fazer alguma coisa, não se pode ficar de braços cruzados. Mas o que se está a fazer está errado, é como bater em ferro frio. A primeira medida racional é aceitar que a Baixa com o comércio que existe não tem viabilidade económica. A maioria das lojas, sobretudo sapatarias e pronto a vestir, vão ter de ser reconvertidas em comércio alternativo ao que existe nos centro comerciais. Só resistirão as de marcas internacionais, o resto será paisagem, com passaporte para a falência. A Câmara Municipal, tendo em conta o melhor para a comunidade, deve desenvolver “demarches” no sentido de facilitar a reconversão daquelas lojas para outras actividades, embora, à partida, em face do Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU), tal mudança de ramo comercial se não afigure fácil. Os comerciantes instalados estão atados de pés e mãos. Não podem trespassar porque, em face das alterações do NRAU, as transmissões foram tornadas completamente inviáveis. Por outro outro lado, mudar de ramo implica novas negociações de renda com o senhorio, o que se torna, também, completamente inviável. Se não houver sensibilidade os comerciantes de rua estão entregues à sua sorte. A curto prazo será um verdadeiro cataclismo humano. A maioria do comércio de rua subsiste por obra e graça de rendas de miséria. Se os proprietários accionassem os novos mecanismos de avaliação, através das CAM, Comissões de Avaliação Municipais, a maioria das lojas encerravam em menos de um fôlego. A sua sorte é o receio dos senhorios perante o aumento desmesurado do IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis. Como o Governo quis ser mais papista que o Papa, quis mamar a montante e a jusante, acaba por não levar nada e prejudicar fortemente os centros históricos, que assim continuarão a definhar em morte lenta, e, com estas falsas medidas revitalizadoras, vai-se adiando as necessárias medidas pró-activas que poderão salvar da falência os poucos sobreviventes.
Há muito que a autarquia deveria ter criado um gabinete denominado de via-verde para instalação de novos comércios alternativos e que não existem na baixa, sobretudo apostando na hotelaria. Hotelaria de qualidade, obviamente. É por aqui que a revitalização destas zonas velhas deve começar. Mas se é assim, porque continuam a insistir na animação, nas “noites brancas”, em palhaços e outras alegorias?
Será que eu estou errado? Se calhar estou! Afinal sou só um boneco instalado na Praça 8 de Maio. Posso parecer –apenas e só parecer- que vejo mais do que os outros, mas isso será talvez por me encontrar a 6 metros do chão. Só isso poderá justificar a minha aparente clarividência. Mas não tenham ilusões, são mesmo aparências premonitórias da imagem de um boneco centenário. Por isso mesmo não me levem muito a sério”.

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