Há dias, em resposta a uma longa entrevista do encenador de teatro de “A Escola da noite”, António Barros (AB), em que zurzia a torto e a direito, em tudo o que mexia na cultura, desde Filipe La Féria a Quim Barreiros, desde o Vereador da Cultura da CMC, Mário Nunes até aos ranchos folclóricos. Excepto o teatro, de que faz parte, tudo o resto é, a seu ver, uma porcaria de cultura baixa, destinada a iletrados, como no seu entender é o povo. Nas suas declarações, depreendia-se ser um escândalo o Departamento da Cultura de Coimbra, timonada por Mário Nunes, conceder subsídios a estes grupos desde 1000, até 9000 euros, que, a seu ver, eram puras “macaqueações”. Como lhe respondi em carta publicada no Diário de Coimbra, com o título “O Bombista Suicida da Cultura Coimbrã”, este senhor Barros não conhece nada, não sabe nada do que se passa dentro destes grupos. Não sabe, certamente, que a maioria deles são constituídos por cerca de duas a quatros dezenas de pessoas, onde se incluem muitas crianças. Nalguns deles estas crianças aprendem música. Não deve saber que a maioria de saídas destes ranchos só é possível graças a trocas de espectáculos entre si, precisamente porque não existe dinheiro para “cachet”. O trabalho cultural destes eméritos grupos deve-se praticamente só ao seu amor às suas terras e à carolice desprendida de interesses financeiros pessoais. Em quase todos os grupos, exceptuando o acordeonista –porque é mais raro- todos trabalham pró bono. Até as roupas que vestem são pagas do seu bolso, assim como as deslocações, na maioria dos casos, são feitas nos seus automóveis e a expensas próprias. Já não falando do tempo despendido, quantas vezes com licenças sem vencimento para poderem acompanhar os seus grupos em saídas para fora.
Como dizia eu, então, este senhor Barros escandalizava-se completamente, pondo-se em bicos de pés, por estes grupos terem uma pequena fatia de subsídio da Câmara Municipal de Coimbra -mais que justa, e só peca por ser ínfima. A seu ver, só o teatro, e nomeadamente o seu, teria direito a receber subsídios e ainda mais: o Teatro da Cerca. Este Teatro está-lhes prometido e, pessoalmente, não contesto esta decisão. Coimbra precisa de boas salas de espectáculos, não só teatrais melodramáticos, mas também teatro de Revista à portuguesa.
Acontece, agora, que a “Escola da noite” foi contemplada, pelo ex-Instituto das Artes, na importância de 100 mil euros. Ou seja vinte mil contos em moeda antiga, saídos dos nossos impostos. Esta notícia está plasmada no Diário da República de 3 de Janeiro deste ano, conforme refere o Diário de Coimbra de 04 deste mesmo mês. Então interrogo: estará satisfeito o senhor Barros? Só espero, como todos os conimbricenses, que esta verba seja bem aplicada na cultura de que tanto se faz apregoar, quase como pastor adventista. Tenho de ser justo, a “Escola da Noite”, como outros grupos de teatro, têm feito um bom trabalho em prol da arte cénica, ressalvo. O que entendo é que, por vezes, para reivindicar algo que nos pertence por direito legitimamente, não precisamos de arrasar tudo à nossa volta, inclusive o Vereador da Cultura, Mário Nunes. As suas decisões, no seu cargo, não foram as mais justas? Não sei, se calhar não. Mas, como é costume, se tivessem sido outras, certamente, teriam sido contestadas na mesma. Quem consegue contentar Gregos e Troianos? Obviamente, ninguém. Porém, uma coisa é certa, este homem merece o nosso respeito, muito tem feito pela cultura em Coimbra, nomeadamente à frente, durante muitos anos, no GAAC, Grupo Arqueológico de Arte do Centro. Chamar-lhe vereador da anticultura, como fez António Barros, é baixo e rasteiro. É sobretudo uma profunda falta de respeito.
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