A primeira vez que falei com ela, na net, a sua conversa era de fazer chorar as pedras. Os seus vocábulos eram repetidos à exaustão: tristeza, solidão, desilusão, saudade, mágoa, infelicidade, desdita, nuvens grossas, ofuscadas e escuras, cinzentas, choro, lágrimas, tempestades, aborrecida, abandono, esquecida, estática, dramatismo, melancolia, vazia, tormenta, desigual, desânimo, amordaçada, envelhecimento.
São demasiados adjectivos para uma pessoa só. Mas é a verdade. Não há dúvida de que a minha amiga carrega consigo uma carga negativa insuportável. Sem dúvida que está profundamente depressiva. Mas com as sucessivas conversas comecei a aperceber-me que as suas palavras negras e melancólicas são, por um lado, uma permanente chamada de atenção, como se com elas usasse uma bandeira, sistematicamente em riste e quisesse dizer em mensagem cripto-verborreica: “estou aqui, por favor ajudem-me, estou só, não me abandonem”. Por outro, é um discurso hábil que pretende persuadir, seduzindo numa lábia entrosada na própria pessoa. Ela não se apercebe que se viciou na sua própria tristeza. É possível que numa primeira fase ela manipulasse a tristeza a seu bel prazer, porém, na continuação, sem que ela se dê conta é o manto diáfano da solidão que, como um vírus, se instala, se aloja e toma conta dela.
A depressão é uma pescadinha-de-rabo-na-boca. Anda-se em círculo, vai-se alimentando e esta vai crescendo até submergir a pessoa. Um dos exemplos mais comuns: uma pessoa está depressiva, apetece-lhe comer –sintoma mais comum da depressão que paradigmatiza a carência de afecto-, então come, come, vai engordar mais e, com essa obesidade, com excesso de tecido adiposo, vai sentir-se mais deprimido ainda e só pára quando não couber nas portas. A depressão toca a todos, não haverá ninguém que numa determinada fase da vida não a tivesse conhecido. Simplesmente não nos devemos deixar vencer por ela. Todos sabemos que a depressão é, psicologicamente, um estado mental caracterizado pela persistência de vários sintomas, entre eles a apatia, o desânimo, a melancolia, o cansaço crónico e a ansiedade.
Há quem a considere a doença do nosso século. Porém uma coisa é certa, seja doença ou não, a verdade é que é com disciplina mental que se consegue ultrapassar esse enfraquecimento intelectual. Com regras que possam reger o nosso comportamento, elevando a autoestima, com ocupação contínua da mente, escrever, pintar, ler, andar, conversar, ir ao cinema, são terapias ocupacionais das mais indicadas. Por exemplo deve recorrer-se a exercícios mentais permanentes onde se oblitere frases que nos conduzam à melancolia –como as que enumero no primeiro parágrafo do texto. Curiosamente, creio, que a Internet não ajudará ninguém, antes pelo contrário, a ultrapassar esta letargia. Os chats são, penso, ansiolíticos, que colmatam a ansiedade provocada pela solidão. Serão uma sensação de um acompanhamento virtual para quem está vazio de amor e sozinho de ninguém. O “consumo” exagerado deste virtuosismo leva inevitavelmente a uma maior solidão. Todos devemos ter atenção. Quem anda por aqui sabe do que falo. E quem viaja nestas ondas, por mais que diga que não, está só e procura algo ou alguém. A consciência para uma melhor racionalidade começa por nos apercebermos dos nossos exageros.
Dirão vocês, e muito bem; bem prega frei Tomás…
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