quarta-feira, 18 de maio de 2022

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA MEALHADA: A ESTRELA DA NOITE

 





Numa sala meio-vazia do CineTeatro Messias onde reinava o bocejo, afinal estava em causa uma Assembleia Municipal Extraordinária para aprovação de três actas desaparecidas no passar do testemunho do velho para o novo executivo, respectivamente, do ano de 2021, com as datas de decorrência de 29 de Junho (sessão ordinária), de 20 de Setembro (sessão extraordinária) e 30 de Setembro (sessão ordinária).

Para encontrar as ditas perdidas nos longos corredores bucólicos da administração pensou-se em várias soluções. Desde chamar o ex-padre exorcista Humberto Gama para desmanchar o mistério e exorcizar o paço do concelho, até mandar vir o C.S.I – Las Vegas, a mítica série de investigação, para deslindar o “estranho caso das actas desaparecidas”, pensou-se em muita coisa e em varias soluções. Depois de muita noite mal-dormida a contar carneirinhos, à mistura com sonhos de duendes e fantasmas, Carlos Cabral, o presidente da Assembleia Municipal, fez aprovar uma moção para que fosse pedido um parecer à CCDRC, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Centro, para que fosse deslindado o imbróglio.

Ora esta sessão Extraordinária de hoje foi convocada expressamente para que os deputados se pronunciassem e votassem o (des)aparecimento das transcrições pelo modo proposto pela CCDRC, o novo “Governo Civil” da Regionalização que se aproxima a todo o gás, ou melhor, a toda a pressa, já que os liquefeitos estão pela hora da morte.

Pelo chover em chuva molhada contado com pouca graça, já se adivinha o (des)alento de todos os presentes. Como carentes de afecto em busca de um carinho, olhavam uns para os outros em busca de um brilho espiritual que servisse de ponte e lhes renovasse a disposição. Qualquer coisinha servia, desde que acabasse com aquele enfastiamento, pareciam dizer, sem dizer, obviamente.

Foi então que das calendas do mistério, passo entre passo, assim mais ou menos devagarinho, surgiu um vulto parecido com alguém muito conhecido.

Ouviu-se um colectivo clamor de surpresa. Não! Não! E outra vez não.

Jamais poderia ser a esfinge que se pensava ser. Era impossível ser quem se adivinhava parecer. Durante oito meses, nunca apareceu em qualquer encontro com os deputados. Por que razão iria logo hoje, numa noite tão desenxaibida? Só se fosse um milagre de Nossa Senhora do IC1, questionavam em solilóquio alguns deputados mais ortodoxos e fervorosos.

Durante segundos que pareceram minutos a maioria deixou cair o queixo com estrondo. Bum!

E o vulto, lentamente, pelos passos de um descrente, desacompanhado e sozinho, como se gozasse completamente com o assombro trazido à histórica sala de teatro, encaminhou-se para o palco e sentou-se atrás de Carlos Cabral, o presidente da Mesa. E de repente ouviu-se um murmúrio alongado e alguém disse: é mesmo ele! É o Rui Marqueiro! Aleluia! Aleluia!


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