O Sol, como cabelos louros esparramados, começava a estender-se pelas cercanias e prometia fazer elevar o mercúrio nos termómetros. Há pouco o relógio do torreão da Igreja Matriz da Mealhada, como a dar as boas vindas a todo o concelho, tinha batido as nove badaladas.
Com entrada de um ou outro funcionário mais relapso, iniciava-se na edilidade um novo dia de trabalho igual a tantos outros. Cá fora, no jardim municipal, ouvia-se o matraquear de ferro sobre ferro. A toda a pressa, operários tentavam pôr de pé os muitos stands de exposição para dar cobertura aos artesãos que vão participar da feira que vai decorrer entre 4 a 12 do próximo mês. Nas árvores em redor, pelo constante chilrear, a passarada parecia reclamar destes novos invasores que colocaram em causa o bucolismo paradisíaco da praceta.
No Salão Nobre da autarquia, António Jorge Franco dava o pontapé de arranque para a segunda reunião municipal do mês. Por detrás do mestre de cerimónias, em foto institucional, Marcelo Rebelo de Sousa, como vigilante moral da boa ética republicana, sem se comprometer, parecia interrogar a razão da cadeira de Luís Tovim, vereador do PS se encontrar vazia, sem ser substituído pelo seguinte na lista.
E, naturalmente, começou-se pelo período de Antes da Ordem do Dia, ou seja, um tempo exclusivamente dedicado aos vereadores, da maioria e oposição, para, sem marcação prévia, falarem livremente de diversos assuntos relativos ao concelho.
Era uma agenda curta; onze pontos , apenas, marcavam a convocatória.
Sem nada de relevante, digno de nota, depressa se chegou ao fim. Foi uma reunião morna e sem chama.
Rui Marqueiro, o institucional “incendiário” de serviço”, no ponto 10, acerca da alteração da Rua dos Barreiros, ainda ensaiou uma provocação: “Arruamento a pedido é uma chatice...”. Mas Franco, o chefe da Protecção Civil, com um lacónico “ó senhor doutor, tenha paciência...não comece...”, cortou a pequena chama que parecia ir eclodir do “velho” leão sempre pronto para um comentário irónico e provocativo.
E VEIO O TEMPO DOS MUNÍCIPES
Já com a agenda concluída entrou-se no tempo de intervenção do público.
Interveio um sujeito de Barrô, bem parecido e bom falante (que nem lembro o nome).
Assim como a engraxar o presidente, começou por dizer que tinha estado ali há cerca de um mês e meio a falar de um “estacionamento armadilhado” junto à Estação de Caminhos de Ferro e a semana passada já foi colocada lá uma placa de paragem autorizada para táxis. Disse mais, o que faltava ainda era uma listagem no chão para os automobilistas não serem apanhados com uma contra-ordenação de 60 euros.
Continuou o fulano com a mesma lenga-lenga de polir o lustro, armado em curador, recomendou que se tomassem providências para que o artesanato produzido por Natália Morais, de Barrô, de 86 anos, não se perca nas calendas do esquecimento. Recordou que, na nossa condição privada e pública, é nossa obrigação zelar pelo passado histórico. “Não deixem morrer o saber fazer, não deixem desaparecer uma arte manual que, provavelmente, será a mais antiga e representativa do concelho da Mealhada”, acrescentou.
Pelo presidente António Franco, pelos vereadores Gil Ferreira, com o pelouro da Cultura, e Hugo Alves Silva foi dito que concordavam inteiramente e que, para além de conhecerem muito bem a mestra e o seu trabalho, iriam desenvolver esforços para que a sua memória não se perca.
Prosseguiu o natural de Barrô com o melaço. Agora para elogiar o bom trabalho desenvolvido pelo serviço de obras da Câmara Municipal, desde o funcionário comum até à chefe de Divisão. Pela sua recente experiência na aprovação de um projecto de arquitectura – em que houve um falhanço clamoroso do arquitecto privado e autor da planta -, disse o munícipe que, contrariamente ao que, por vezes, se propaga na voz popular, ficou muito impressionado pelo atendimento .
O presidente agradeceu e afirmou que, sempre que ficamos satisfeitos, tal como contrário negativo, devemos dar conhecimento superior. É bom para a auto-estima dos serviços, Enfatizou António Franco.
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