segunda-feira, 2 de maio de 2022

MEALHADA: HOJE HOUVE REUNIÃO DE CÂMARA MUNICIPAL

(imagem do jornal online Bairrada Informação)



O dia estava lindo, com o Sol a beijar à surrelfa todos vereadores através da vidraça. Na parede em frente, Marcelo Rebelo de Sousa, em pose institucional, assim ou nem tanto, parecia contente no abrir da Reunião de Câmara Municipal. Ao longo da sessão, chamaria a si os mais diversos semblantes, de serenidade, de estupefacção, de preocupação e até de sorriso mordaz. O nosso Chefe de Estado, como se fotografasse tudo, esteve sempre atento.

Ao bater das 9 badaladas na igreja matriz da Mealhada, António Jorge Franco deu início ao Período de Antes da Ordem do Dia.

Rui Marqueiro, ex-presidente e agora vereador da oposição, a abrir as hostilidades em forma de interpelação, como disco riscado a fazer lembrar aquele slogan publicitário “no meu tempo...” começou por fazer a já conhecida introdução “constou-me que… constou-me que...”.

Lá no alto, Marcelo, pelo imaginário brilho dos olhos, como a adivinhar divertimento, parecia esfregar as mãos de contente e como a querer dizer: “vamos ter cena. Vamos ter cena!

E assim indicava quando o actual vereador do Partido Socialista, fazendo alusão a alguma invasão indiscreta no interior dos serviços camarários, disse que tinha um email endereçado ao presidente da edilidade e acusando este de, ilegalmente, delegar competências em funcionários.

Numa reviravolta de centenas de graus, como se estivesse a teatralizar, Marqueiro, como se estendesse uma ilusória passadeira vermelha ao seu sucessor, vestindo uma opa de humildade, enfatizou: “peço desculpa, é com amizade que o digo”.

Perante um desempenho tão real do vereador, adivinhava-se, na parede em representação, Marcelo estaria a apertar a barriga com tanto rir.

António Franco, em resposta a tão inusitada e tamanha generosidade do socialista, interrogou: “penso que não votou em mim… pois não?

Luís Tovim, vereador da bancada socialista, interpelando o chefe da mesa acerca das comemorações recentes sobre o 25º de Abril, sobre o Movimento Mais e Melhor, disse: “a campanha eleitoral já acabou”.

Franco, remetendo a alusão para a Assembleia Municipal, e para o presidente do hemiciclo, exclamou: “o professor Carlos Cabral tem dado muito à Mealhada, e é um bom amigo”.


E COMEÇOU O PERÍODO DA ORDEM DO DIA


Sem munícipes para intervir no tempo de audição do público, passou-se para o primeiro ponto. Como é hábito, começou-se pela aprovação da acta anterior.

Palavra puxa palavra, e, numa discussão acesa em odiozinho de estimação, veio ao de cimo o azedume nunca curado entre Rui Marqueiro e Filomena Pinheiro, vice-presidente, relativo ao período do após 2013, quando a vice-presidente, depois de não poder concorrer por limite de mandatos na equipa de Carlos Cabral e ter estado ao serviço da autarquia durante cerca de vinte anos, foi sumariamente despedida e impedida de voltar para o anterior cargo que exercia na Escola Vasconcelos Lebre pelo então vencedor das eleições. A anterior vereadora e vice-presidente, e antes disso funcionária da edilidade, depois de um litígio aberto, seria indemnizada em 35 mil euros.

Perante o perigo de “incêndio” alastrar a toda a mesa, o bombeiro de serviço, António Franco, puxou da mangueira e, jogando apelos à extinção da polémica, abafou as chamas.

E veio o ponto 4, “Anulação da deliberação tomada na reunião extraordinária da Câmara Municipal de Mealhada, de 24/09/2021.

No caso, tratava-se de confirmar a não aquisição dos terrenos destinados à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, para esta instituição construir uma valência destinada a doenças mentais. Esta deliberação tinha sido avançada em reunião de Câmara no tempo de Rui Marqueiro, enquanto presidente do executivo na altura.

Hoje, sobre esta anulação, insurgindo-se contra a medida proposta, diria Marqueiro: “não tenho qualquer dúvida de que a Câmara Municipal vai perder.

Sublinharia ainda com ênfase: “aposto a minha vida em como a Câmara vai perder.

Sobre este assunto comentaria Franco: “o senhor vereador, às vezes, faz provocações. Não vale a pena...

Retorquiu o ex-chefe da edilidade: “não estamos na missa. Acho optimismo a mais. Sou eu que sou pessimista!

Seria aprovada a anulação.

E veio o ponto 6: “Pedido de autorização para permuta dos Lotes 1 e 45 da ZIP”

No caso, tratava-se de aprovar um alargamento de prazo para troca de dois lotes entre duas empresas instaladas na Zona Industrial.

Afirmaria Marqueiro: “acho melhor os senhores falarem com o senhor. Se não o fizerem, faço eu...

Acrescentaria ainda: “eu tenho as maiores desconfianças em relação à empresa (…). O que eu não admito é que ninguém seja vigarizado com a minha ajuda.

Aparentemente a mostrar alguma desarticulação da bancada socialista, seria aprovado com maioria, com o voto contra de Marqueiro e votos a favor dos dois correlegionários, respectivamente, Sónia Leite e Luís Tovim.

E, com a pressa em sair de Rui Marqueiro bem expressa, deu-se por finalizada a reunião. (Lá na parede, Marcelo, novamente muito tranquilo, parecia querer revelar: eles podem, todos, discutir e guerrearem muito e até ao exagero, mas no fim, como moleiros no mesmo moinho, acabam todos em abraços. Isto é política, a arte de parecer)

 

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