domingo, 20 de junho de 2021

REDES SOCIAIS: AS NOVAS ARENAS ROMANAS

 

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Conforme é público, hoje, domingo, numa carreira dos SMTUC, Serviços de Transportes Urbanos de Coimbra, um motorista do autocarro, alegadamente, assediou com propostas menos próprias a única passageira presente.

A viajante gravou a cena em vídeo. Que o tivesse feito para servir de prova, se validada, para apresentar em juízo, nas instâncias próprias, estou certo, todos estamos de acordo.

Ora o que fez a alegada ofendida? Dirigiu-se a uma entidade policial e apresentou queixa e esperou que a justiça percorresse o seu caminho e desse cumprimento à sua participação na indignidade? Se fez isto não foi só. Pegando na “arma” de prova que a acompanhava publicou ou deu a publicar o vídeo no Instagram.

Ao fazer a publicação numa rede social o que procurava a alegada vítima? Justiça? Ou, pelo contrário, incendiar, espalhar o ódio por milhões de pessoas?

Para piorar, uma imprensa sem escrúpulos, sem pinga de vergonha, que busca somente o maior número de “likes”, teve o despudor de publicar as imagens na íntegra, em que se vê o rosto do alegado agressor. Este trabalho da dita imprensa deve merecer o nosso maior repúdio.

Pode até parecer que estou a desvalorizar, a branquear, o acto criminalizável. Nada disso. O que quero dizer é que não podemos esquecer os direitos de um arguido.

Está em marcha um movimento justicialista/fundamentalista, que valorizando os fins sem levar em conta os meios, em tese ilusória, persegue os interesses do colectivo como bandeira existencial e desvaloriza os direitos do indivíduo. O que interessa é que alguém seja condenado para acalmar as hostes sedentas de sangue. Gerando com este “julgamento” popular enormes injustiças por este mundo fora, esta transposição é, em paradigma, a negação de justiça como a primeira de todas as virtudes.

Hoje as redes sociais estão transformadas em arenas romanas. São fornos crematórios onde, sem julgamento prévio e justo, se incineram vidas.

Antes de mais, é preciso não esquecer que, por um lado, o assédio sexual é intrínseco a todos os animais, racionais e irracionais. Por outro, a criminalização é ainda uma norma recente. Por outro ainda, duvido muito que este condutor, para além de uma admoestação, venha ser condenado em tribunal. Passando uma vista de olhos pela matéria, para se provar, de facto, o assédio é preciso muito mais do que uma simples conversa que vai um pouco mais longe do que o piropo. Mas vamos deixar o processo para quem sabe.

E agora vamos falar da página da Câmara Municipal de Coimbra (não oficial). Desde logo de manhã deste domingo choveram várias (muitas) publicações com o vídeo a mostrar o rosto do arguido e acompanhadas com frases eivadas de ódio, por exemplo, assim: “as pessoas de Coimbra são uns porcos”; “os condutores dos autocarros são todos iguais”; “se eu lá estivesse havias de ver o que te acontecia, meu porco”.

Por isto tudo, qualquer publicação que mostre o rosto do condutor, ou que transmita ódio a toda a classe profissional ou à cidade não serão aceites.

Comentários na mesma linha procedimental, a mesma coisa, ou seja, serão apagados.

Muito obrigados.

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