domingo, 20 de junho de 2021

MEALHADA: SE EU FOR PRESIDENTE… (3)

(Imagem retirada, com a devida vénia, do Jornal da Bairrada)




Num tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer melhor os candidatos à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a algumas questões que consideramos elementares. Depois de Hugo Alves Silva, António Jorge Franco, apresentamos agora João José Pereira Marques, candidato à Câmara Municipal da Mealhada pela CDU, Coligação Democrática Unitária. Com 46 anos, habita na Pampilhosa. É Licenciado em Matemática, ramo de Formação Educacional, Licenciado em Informática - via Ensino e Mestre em Administração e Organização Escolar. É Professor de Matemática do 3.º ciclo e secundário do quadro do Agrupamento de Escolas José Saramago - Poceirão - Palmela. Atualmente é Diretor Pedagógico de uma escola particular. É membro do PCP. Foi eleito recentemente para a Direção do Sindicato dos Professores da Região Centro. Foi presidente da Direção do CAPP - IPSS da Pampilhosa.



Mealhadenses que Amam a sua Terra (MAST): Como é o João Pereira Marques no dia-a-dia?


João Pereira Marques (JPM):

O meu dia-a-dia é parecido com o de muitos professores que trabalham longe da sua zona de residência.

Dou aulas a 200 km de casa. Espero que o próximo concurso de professores, de que estou a aguardar pelo resultado, me traga para mais próximo.

Para além da minha atividade profissional, procuro envolver-me o mais possível na vida da comunidade do meu local de residência.

Fui dirigente associativo durante muitos anos no setor social e, mais recentemente, estou envolvido no movimento sindical e no movimento associativo do setor cultural.

Procuro ainda usufruir do tempo em família.

No pouco tempo livre que me resta durante a semana, procuro ir tendo tempo para ler e usufruir da oferta cultural de Lisboa.


MAST: Tendo em conta que o PS, a partir de 1982, ganhou sempre com maioria, leva-nos a pensar que o Concelho da Mealhada, tendencialmente, é de ideologia de esquerda. A ser assim, como entende que o último vereador comunista eleito para a Câmara fosse em 1985 através da APU, Aliança Povo Unido?



É verdade, o Concelho da Mealhada tem maioria Partido Socialista desde 1982.

O último vereador eleito em listas do Partido Comunista foi eleito em 1985, curiosamente o Sr. Vereador eleito nas listas da APU, foi depois eleito vereador e presidente da Câmara Municipal da Mealhada em listas do Partido Socialista e é hoje um dos mentores de um movimento independente candidato aos órgãos autárquicos.

A nossa intervenção não se esgota na apresentação de quatro em quatro anos de listas aos órgãos autárquicos.


A nossa participação faz-se com os nossos eleitos nas assembleias de freguesia e com os nossos eleitos na assembleia municipal.

Sempre que necessário e ainda que não tenhamos nenhum deputado eleito à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Aveiro, solicitamos a intervenção dos nossos deputados, em prol dos trabalhadores e do povo.

Procuramos preparar de forma muito participada as nossas intervenções e a nossa presença em todos os órgãos autárquicos.

Reforço que a intervenção da CDU não se esgota em atos eleitorais, entendemos que o nosso papel é intervir de forma continuada junto das populações, na auscultação dos seus anseios e preocupações, honrando assim, o poder local, uma das muitas conquistas da Revolução de Abril de 1974.



MAST: A dificuldade em eleger um vereador comunista no executivo local a que se deve? Será que os eleitores do Concelho, 48 anos depois da queda do Antigo Regime, ainda têm medo dos comunistas? Será que a CDU/Mealhada, por incompetência, por falta de ambição política, por impossibilidade de dar a volta à retórica histórica, não fala a mesma linguagem popular e, por isso mesmo, não consegue fazer passar a mensagem?



JPM:
Somos uma candidatura que se assume, sem medo e sem vergonha. Somos uma candidatura assumidamente ideológica e que no seu trabalho autárquico não escamoteia a ideologia que está na sua base.


Nesse sentido, orgulhamo-nos do património de gestão autárquica da CDU, que apresenta inúmeros exemplos, um pouco por todo o país, da sua honestidade e competência na gestão autárquica.

Assumimos as nossas convicções que dão corpo aos nossos projetos.
Centramos a nossa intervenção, também ao nível autárquico, nos problemas e nas aspirações das populações.



MAST: Sendo comunista de convicção e liderando uma candidatura que visa a eleição, vai ser criativo na campanha eleitoral? O que vai apresentar de novo para convencer os eleitores?



JPM:

Iremos procurar apresentar as nossas propostas em contacto direto com as populações de cada uma das freguesias. Continuamos a privilegiar, com todos os constrangimentos do momento pandémico que vivemos, o contacto freguesia a freguesia, rua a rua, porta a porta.

Não ignoramos a importância dos novos meios e as redes de comunicação atual. Também nesses espaços estaremos presentes para apresentar as nossas propostas.

E sublinhamos para nós a apresentação das nossas propostas. É nelas que iremos centrar a nossa campanha.

Procuraremos, com as nossas limitações materiais, fazer chegar as nossas propostas a todos.

A qualidade coletiva das nossas listas permite-nos aspirar ao aumento do número de eleitos.

Mas o nosso trabalho não terminará no dia das eleições. O nosso coletivo continuará a seguir às eleições a estar ao lado das populações, procurando em todos os momentos intervir na promoção da qualidade de vida e da justiça social.


MAST: Um pouco rebuscado, elencado em quatro prioridades, aquando da comunicação pública dos candidatos, a CDU apresentou o Manifesto Eleitoral a traçar as linhas mestras para o concelho. De todas, quais considera prioritárias?


JPM:

A nossa prioridade sempre é melhorar a vida das populações.

Também ao nível autárquico preocupamo-nos com a justiça social.

Procuramos criar melhores condições de vida para todos, nas aldeias e vilas do concelho da Mealhada.

Assim, a CDU continuará a insistir na necessidade de criação de uma rede de transportes públicos que permita servir melhor as populações das vilas e aldeias no acesso, nomeadamente à sede do concelho, com preocupações ecológicas e de sustentabilidade.

A melhoria da Mobilidade dentro do Concelho permitirá a melhoria da qualidade de vida de todos e potenciar a utilização das infraestruturas já existentes e de outras a criar.


Temos hoje graves problemas de habitação.
Casas profundamente degradadas e falta de oferta para jovens que queiram fixar-se no concelho.
A Câmara Municipal pode e deve ter também neste âmbito uma ação mais presente e interventiva.

É preciso fazer muito mais e melhor.

Existem hoje fundos dirigidos para a reabilitação de casas. É preciso, também a este nível, não perder oportunidades para melhorar a vida das nossas populações.

Por outro lado, é necessário um plano de construção de habitação a custos controlados que permita atrair e fixar jovens, no concelho. Com políticas de integração ativa. Com políticas ativas de envolvimento na comunidade de todos e cada um. Com políticas ativas de promoção da cultura, do desporto do associativismo.



Em terceiro lugar uma aposta no desenvolvimento sustentável.

Vivemos num concelho rural, cujo potencial agrícola está muito longe de ser eficazmente rentabilizado. Também aqui a inação da Câmara Municipal não permite que se avance.

O executivo camarário parece não ter quaisquer estratégias para o setor.

Sabemos hoje que é urgente diminuir a pegada ecológica dos nossos alimentos.

A diminuição da pegada ecológica dos nossos alimentos só se faz encurtando os circuitos de produção distribuição e consumo. Isso exige uma aposta na pequena e média agricultura de proximidade.

Todos ganham e o planeta agradece.

Também aqui é necessário estar atento e ser proactivo na mobilização dos apoios financeiros disponíveis para este sector.

Assim é necessário que concretizemos projetos de regadio, é urgente que se projete a realização do emparcelamento e que se promova a instalação de jovens agricultores e a dinamização dos mercados com estratégias de promoção do consumo local.


Propomos a criação de um gabinete próprio para ajudar os agricultores a aceder aos fundos com o compromisso de aproveitar todas as oportunidades do próximo quadro comunitário de apoio.

É necessário que saibamos valorizar os ativos de enorme valor do nosso município. Também no sector agrícola é necessário fazer mais e melhor, promovendo o desenvolvimento económico.


Outra prioridade será a criação de um plano específicos de valorização do Complexo Termal do Luso e Mata Nacional do Buçaco.


Contra a nossa vontade, as águas do Luso estão hoje na posse de uma empresa multinacional. A sua sede da empresa deixou sequer de estar no Luso e não sabemos o seu futuro.

Infelizmente, por responsabilidade do Partido Socialista (mas não só), aqui e no governo, não se acautelou o interesse público.

É muito importante a valorização do Complexo Termal do Luso, pela sua centralidade na economia da freguesia do Luso e do Concelho. Esta valorização deve ser conjugada com o investimento público na Mata Nacional do Bussaco. Pela sua importância como espaço público do Concelho, Região e do País. Pela sua importância para o desenvolvimento sustentável. Pela sua importância para a conservação das espécies. Como espaço estatal de promoção da biodiversidade. Pela sua importância como espaço adjacente às termas do Luso.

A Mata Nacional do Bussaco deve ser um espaço central para a promoção da qualidade de vida no Concelho e Região. Para isso é necessário investir na sua manutenção e salvaguarda, dotando-a dos recursos humanos necessários para a limpeza e valorização das suas infraestruturas, mas também na promoção adequada das visitas turísticas, na sua utilização enquanto espaço educativo.


Para o desenvolvimento económico do Concelho é também fundamental que se avance para a certificação do Leitão da Bairrada.

Esse é também um dos nossos compromissos.

Avançar, juntamente com os agentes económicos, para a certificação do leitão da Bairrada.

É uma marca central da economia local. Precisa de ser devidamente protegida e valorizada.

Este projeto, de enorme importância, pode dinamizar todo o setor agropecuário, privilegiando os modos de produção sustentáveis e apostando na pequena e média agricultura.


MAST: A Câmara da Mealhada, do ponto de vista financeiro, é das poucas a nível nacional que, para além de ter uma almofada financeira de cerca de 8 milhões de euros em depósitos a prazo, encerrou 2020 sem dívidas a fornecedores. Se for eleito para presidir os destinos dos mealhadenses, vai manter a mesma política de aforro, ou vai investir mais em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do Concelho?


JPM:
A gestão equilibrada, do ponto de vista financeiro, é fundamental para que seja possível concretizar os investimentos necessários ao Concelho.

A nossa prioridade é a melhoria das condições de vida das populações.

A criação de almofadas financeiras não melhora a vida das populações.



MAST: Concorda com a decisão de construir uma nova sede concelhia no montante de 6 Milhões de euros?


Os munícipes devem ter acesso facilitado a todos os serviços municipais.

Os trabalhadores do município devem estar instalados num edifício adequado, que permita a melhoria das suas condições de trabalho e, com isso, a prestação de mais e melhores serviços a todos os cidadãos.

O atual edifício, pela sua dimensão, obriga a que alguns serviços do município funcionem em espaços dispersos pela cidade. Esta solução poderá criar constrangimentos quer aos trabalhadores quer aos cidadãos que precisam de ver resolvidas as suas questões nos serviços municipais.

A nova sede da Câmara Municipal deve ser amplamente discutida quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista técnico. Só assim se criará uma solução adequada para as próximas décadas.




MAST: Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar. Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a gastronomia e os vinhos?


O concelho deve ser visto como um todo. Só o desenvolvimento integrado do Concelho é sustentável em termos futuros.

O Luso e as suas termas são centrais no que respeita à promoção da atividade turística no Concelho.

A valorização do Complexo Termal do Luso, como já lhe referi anteriormente é uma das nossas prioridades.
É muito importante dar passos consistentes na valorização do património edificado do Luso.

Para isso é necessário agir em articulação com os agentes económicos locais, procurando criar novas dinâmicas de desenvolvimento mais próximas dos agentes locais. A história tem-nos mostrado que os “grandes investidores externos” chegam com grandes promessas e partem deixando grandes desilusões.

A valorização do complexo termal deve ser conjugada com o investimento público na Mata Nacional do Bussaco.

Esta valorização do Luso – Bussaco deve ser articulada com estratégias muito bem definidas de dinamização das marcas centrais da economia da Mealhada.

É aqui que entra, na nossa perspetiva, a certificação do Leitão da Bairrada.

Esta certificação é muito importante para o sector da restauração, mas deve também integrar o setor agropecuário. Deve constituir-se como fator de desenvolvimento sustentável, dinamizando a pequena e média agricultura.



Mas também é muito importante a aposta na cultura, na formação de públicos, numa oferta de atividades culturais de reconhecida qualidade.


No que à cultura diz respeito é necessário apoiar ativamente o trabalho de todos os agentes culturais do concelho: os grupos de teatro e as filarmónicas. As associações ligadas ao Carnaval, os ranchos folclóricos e as associações que localmente desenvolvem um trabalho de muita qualidade na promoção da cultura e na preservação da história.


O concelho tem ao seu dispor, felizmente, espaços culturais de qualidade. O Cineteatro Messias é um espaço com muita qualidade, que é necessário utilizar de forma mais participada. É preciso que as associações ligadas à cultura possam estar presentes neste espaço municipal.
No futuro próximo também estará disponível o cineteatro da Pampilhosa. Será com certeza um espaço e uma associação que, com a sua dinâmica, marcará o futuro cultural do Concelho.


É preciso trazer os alunos das escolas a estes espaços para que neles usufruam, com as suas famílias, de uma oferta cultural diversificada e de qualidade.

É preciso criar parcerias com entidades locais, regionais e nacionais que se traduzam numa oferta cultural diversificada. Que traga os munícipes à Mealhada ou que vá ao encontro dos munícipes nas diferentes freguesias.

Que promova a utilização e a valorização dos espaços públicos. Que promova a vida em comunidade.

Que seja fator de melhoria da qualidade de vida.



MAST: Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da Mealhada? Se sim, de que forma?


JPM:

A desertificação combate-se melhorando a vida nas aldeias.

Da oferta de transportes públicos de qualidade, à melhoria dos arruamentos e à criação de passeios que melhorem a mobilidade segura de todos.

Combate-se também melhorando o apoio às associações locais.


MAST: Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de repovoamento local, a autarquia adquirir prédios velhos, abandonados e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?


JPM:

O problema da habitação, até pela nossa matriz marcadamente ideológica, é uma nossa preocupação desde há muito.

A habitação social é uma proposta nossa de longa data.

A habitação social não se esgota na construção de edifícios. A integração de novos agregados seja na cidade, seja nas vilas ou aldeias do concelho, deve ser sempre acompanhada de processos de integração cuidada, acompanhada por políticas sociais ativas.


MAST: Fala-se há muito da vinda da marca Continente para a Mealhada. Tendo em conta o impacto no comércio já instalado, é a favor ou contra?


JPM:

A instalação de novos supermercados no concelho deve, em primeiro lugar, cumprir com todos os requisitos legais.

Nada nos move contra a instalação desta ou daquela marca.

No entanto não hesitamos em afirmar que entendemos que o desenvolvimento da Mealhada não deve fazer-se à custa de salários baixos.

No nosso entender a criação de grandes espaços comerciais pode comprometer a viabilidade económica do comércio local de proximidade (tem sido este o registo que temos constatado nas ultimas décadas) e colocar em causa, também, os investimentos municipais que a Câmara Municipal já fez e pretende vir a fazer em Mercados Municipais.

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