sexta-feira, 25 de junho de 2021

MEALHADA: SE EU FOR PRESIDENTE… (4)




Num tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer melhor os aspirantes à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a algumas questões que consideramos elementares. Depois de Hugo Alves Silva, António Jorge Franco, João José Pereira Marques, apresentamos agora Gonçalo Melo Lopes, candidato pelo Bloco de Esquerda. Gonçalo Lopes, de 32 anos, natural e residente na Pampilhosa, é licenciado em História da Arte e mestre em Turismo, Território e Patrimónios pela Universidade de Coimbra. É formador desde 2016 e guia de turismo desde 2018.



Mealhadenses que Amam a sua Terra (MAST): Como é o Gonçalo Melo Lopes no dia-a-dia?


Gonçalo Melo Lopes (GML): O meu dia-a-dia não difere do quotidiano das outras pessoas. Tenho a sorte de trabalhar naquilo que gosto, seja a dar formação ou a realizar visitas guiadas. No tempo livre gosto de estar em família, com amigos, viajar, fazer formações para me atualizar a nível profissional e pessoal. Dedico boa parte do meu tempo livre à política, porque gosto de lutar por causas, encaro-o como um trabalho cívico. Ninguém do Bloco de Esquerda da Mealhada, vive exclusivamente da política, fazemo-lo por gosto e porque queremos melhorar o concelho da Mealhada.


MAST: A sua candidatura, tendo em conta a sua jovialidade, pretende ser, acima de tudo, um abanão no situacionismo geracional? A política activa não deve ser para velhos? Sente-se preparado para ganhar a Câmara?


GML: Na minha opinião, a idade representa apenas um número. Ninguém nasce autarca e todos os que são agora mais velhos também já foram novos quando porventura iniciaram as suas experiências políticas. Quando somos jovens e entramos no ativismo político, isso pode ser visto como uma vantagem, porque não se trazem vícios de trás e podemos contribuir com novas formas de fazer intervenção política, trazendo novas causas e um entusiasmo e energia que podem ser mais fortes. Mas a política ativa deve ser para todos e todas, independentemente da idade. O que interessa é a seriedade com que se faz política. Sinto-me preparado para assumir qualquer responsabilidade que os munícipes assim desejarem.


MAST: A dificuldade em eleger nas últimas décadas um vereador à esquerda do PS para o executivo mealhadense deve-se a quê? A incompetência, por falta de ambição política dos candidatos, a impossibilidade de dar a volta à retórica histórica, por os concorrentes não falarem a mesma linguagem popular e, por isso mesmo, não conseguirem fazer passar a mensagem?


GML: Para responder à primeira parte da sua questão, só os eleitores conseguirão responder e justificar para dizer o porquê de não votarem o mais à esquerda possível. Não acho que seja por falta de ambição dos partidos, ou da mesma linguagem política. Se assim fosse, os eleitores não mudavam o sentido de voto. O Bloco de Esquerda, que de 2013 para 2017 conseguiu triplicar o número de votos, quer dizer que a mensagem chegou a mais pessoas, agora com o trabalho efetuado na Assembleia Municipal, União de Freguesias com os nossos eleitos, as pessoas sabem o valor do Bloco, e espero que isso se reflita nas urnas em 2021 e que o Bloco consiga representatividade em todos os órgãos autárquicos a que apresenta candidatura.


MAST: Apresentando-se a defender os valores do Bloco, e liderando uma candidatura de um partido que esteve muito bem representado na Assembleia Municipal por Ana Luzia Cruz nos últimos quatro anos, sente o peso da responsabilidade acrescido? Que novos valores e ideias vai defender para convencer os eleitores a votarem em si?


GML: A Ana Luzia Cruz tem feito um trabalho excelente na Assembleia Municipal, tem sido a porta-voz de muitos munícipes que fazem chegar até ao Bloco os seus problemas e que através de nós exigem esclarecimentos. A Ana Luzia Cruz mostra ousadia e não tem medo de denunciar o que tem de ser denunciado, aliás , essa é a matriz do Bloco de Esquerda Nacional, ela faz o seu papel de deputada municipal de forma exemplar e isso mostra a força do Bloco. Se com uma deputada municipal eleita, o trabalho está à vista, se o Bloco aumentar a representatividade, a força do Bloco será maior e os munícipes beneficiam dessa força, porque o Bloco pode e faz a diferença. Não faço promessas políticas, a única coisa que posso prometer, é o que faço no meu trabalho, é dar o meu máximo e o meu melhor, para que o concelho da Mealhada tenha o progresso desejado, tudo o que for para melhorar a vida dos munícipes, irei certamente apoiar. O Bloco de Esquerda vai apresentar compromissos, que serão transformados em propostas, porque temos a certeza que as propostas que iremos apresentar serão benéficas para todos e todas.


MAST: Sintético, elencado em algumas bandeiras apontadas para a mudança, foi apresentado o Manifesto Eleitoral do Bloco a traçar as linhas mestras para o Concelho. De todas, quais considera prioritárias?


GML: Todas as propostas são importantes, no entanto, uma das bandeiras do Bloco em 2017 e que agora se volta a repetir, e que, na minha opinião já devia ter sido implementada, é a criação de uma rede de transportes públicos, para que nenhuma freguesia fique para trás. O único meio de transporte disponível é o comboio, mas não existe uma ligação entre freguesias. Por exemplo, uma pessoa que viva na freguesia da Vacariça e que queira ir ao Centro de Saúde da Pampilhosa ou tratar de algum serviço na Mealhada, tem de ir e voltar de táxi, pessoas com reformas baixas, gastam bastante dinheiro só por causa das viagens, o mesmo se passa com outras freguesias, por isso urge criar uma rede de transportes públicos, criar mais acessibilidades para pessoas com mobilidade condicionada. O concelho da Mealhada não pode excluir nem discriminar, o concelho deve ser inclusivo, para todos e todas. Assim também é importante criar oferta de habitação publica digna, e não se limitar apenas aos bairros sociais.


MAST: A Câmara da Mealhada, do ponto de vista financeiro, é das poucas a nível nacional que, para além de ter uma almofada financeira de cerca de 8 milhões de euros em depósitos a prazo, encerrou 2020 sem dívidas a fornecedores. Se for eleito para presidir os destinos dos mealhadenses, vai manter a mesma política de aforro, ou vai investir mais em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do Concelho?


GML: Quando não se investe é fácil ficar com almofada financeira, não quero dizer com isto que se esbanje dinheiro, no entanto, é necessário investir de forma controlada e sustentável, não se pode entrar em loucuras, estamos a viver uma fase pandémica, não sabemos quanto tempo ainda vai durar, no entanto, é importante desenvolver o concelho, para não ficar estagnado, torna-se necessário criar infraestruturas . Outros concelhos já o fazem há mais de 20 anos, sabendo concorrer a programas nacionais e comunitários e nós temos de ser capazes de fazer o mesmo, sendo que já vamos com atraso.


MAST: Concorda com a decisão de construir uma nova sede concelhia no montante de 6 Milhões de euros?


GML: Sei que o atual edifício não cumpre a legislação das acessibilidades. Não é um edifício inclusivo e não cumpre, por isso a lei. Pessoas com mobilidade condicionada não conseguem deslocar-se aos serviços pretendidos da câmara. Tal como o edifício está, é não só um perigo para as pessoas que se deslocam lá como para quem lá trabalha. Se este foi o melhor momento? Não sei. Voltando ao que disse anteriormente, sei que concelhos vizinhos com edifícios similares já os reestruturaram e modernizaram há mais de 20 anos, garantindo assim o respeito pela lei... Concordo, pois, com a construção de um novo edifício, mas a informação sobre ele até agora é muito reduzida, o que não permite tecer ainda uma opinião mais aprofundada.


MAST: Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar. Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a gastronomia e os vinhos?


GML: O turismo é importante para o desenvolvimento do concelho, sabemos que a nível de Património Natural, o Bussaco poderá ser o ponto de partida para motivar o visitante a conhecer outros pontos turísticos do nosso concelho, das suas várias freguesias… Cada vez mais se trabalha em rede, penso que devemos articular o turismo no concelho em rede. Mas sabemos que muitos turistas chegam ao Aeroporto, viajam de comboio ou autocarro para outros pontos do país, e ao não investir numa rede de transportes públicos, que favoreça a mobilidade do turista no nosso território, o que acontece, é que o turista sai na Mealhada, prova um pouco das iguarias da sua gastronomia e vai-se embora, porque não oferecemos uma alternativa válida para pernoitar 1 ou 2 noites no nosso concelho. Estamos próximos geograficamente de vários pontos de interesse, e sabemos que cada vez mais o visitante é exigente com aquilo que procura para visitar. O enoturismo é das áreas turísticas que mais está a crescer e o concelho da Mealhada deve apostar no enoturismo e nos chamados passeios gastronómicos, já que temos a sorte de estar num concelho riquíssimo a esse nível.

A freguesia da Vacariça, outrora sede de concelho, possui o Museu Agrícola, Palacetes dignos de registo, possuía um Mosteiro, de que atualmente só resta a Igreja. A freguesia da Pampilhosa rica em cerâmica, com o papel do caminho-de-ferro que ajudou a desenvolver a freguesia, possui património industrial que deve ser aproveitado e para se visitar… e este ano é o ano do turismo ferroviário. A Casa Rural Quinhentista, merece uma visita a quem vem ao nosso concelho. São apenas alguns exemplos, mas poderia dar muitos mais. Há turistas que gostam mais de visitar uma região pelo seu património natural, outras pelo enoturismo, então, devemos tudo fazer para atrair as pessoas a pernoitar no concelho da Mealhada. Quem nos visita, deve ser atraído para não só almoçar e/ou jantar num restaurante do concelho, mas também a fazer as suas compras no comércio tradicional. Para isso é necessário criar incentivos, criar visitas guiadas ao concelho da Mealhada, promover o cicloturismo. Com a atividade cultural podemos ter um concelho criativo e assim reforçar a competitividade, identidade e a diferença no concelho da Mealhada.

Os turistas procuram uma experiência singular nos locais que visitam e a cultura possui essa capacidade de proporcionar às pessoas essa experiência singular. Em colaboração com as associações locais pode-se criar uma programação cultural diferenciadora e atrativa para o turista. Temos que criar as melhores condições não só para quem vive no nosso concelho, mas também para quem visita, porque se uma pessoa gostar da experiência que teve, recomenda-a a outros e isso é a melhor publicidade. Se não proporcionamos uma experiência agradável, o turista não a vai recomendar.


MAST: Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da Mealhada? Se sim, de que forma?


GML: É preciso criar medidas para combater a desertificação, torna-se necessário criar habitação social/acessível nas várias freguesias, com enfoque para a regressão da desertificação destas áreas, muitos habitantes do concelho da Mealhada, preferem ir viver para concelhos vizinhos como Anadia, Penacova e Coimbra, porque é lá que encontram trabalho ou porque encontram maior e melhor oferta ao nível do aluguer de casa. É preciso apostar na criação de emprego, em apoios para os casais jovens que cá se queiram instalar, na oferta de habitação social.


MAST: Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de repovoamento local, a autarquia adquirir prédios velhos, abandonados e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?


GML: É à volta da casa que muitas vezes se cruzam as questões de propriedade e onde se acentuam as desigualdades sociais. Não ter acesso a habitação adequada é talvez a mais séria manifestação de exclusão social e a privação habitacional é uma das formas mais graves de pobreza. É essencial aumentar substancialmente a habitação social em vários lugares do concelho da Mealhada com rendas acessíveis e controladas e torná-la mais justa e acessível. E devem existir bolsas específicas e edificado adaptado para responder aos moradores com deficiência. O concelho da Mealhada possui inúmeros edifícios abandonados que a autarquia deve adquirir e transformá-las em casas para arrendamento de forma controlada e não criar bairros sociais, porque os bairros sociais são sempre uma forma de exclusão.


MAST: Fala-se há muito da vinda da marca Continente para a Mealhada. Tendo em conta o impacto no comércio já instalado, é a favor ou contra?


GML: Já se fala na vinda do Continente há alguns anos, no entanto, mais importante que a vinda da marca Continente é criar estratégias para incentivar a compra no comércio local, criar estratégias para o dinamizar em todo o concelho. É urgente resolver a situação do Mercado Municipal da Pampilhosa, que já devia ter sido inaugurado há alguns anos. O Bloco de Esquerda já questionou o presidente da câmara sobre este assunto na Assembleia Municipal de 2 de maio de 2020 (feita por videoconferência), o qual se limitou a dizer que ao longo dos anos tem sido contactado por várias superfícies que desejam instalar-se no concelho da Mealhada.


 

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