sexta-feira, 8 de novembro de 2019

BAIXA: ENCERROU A SAPATARIA ROMEU (A CASA-MÃE)






Encerrou esta semana a sapataria Romeu, na Rua Visconde da Luz. Na montra de vidro pode ler-se que qualquer assunto pode ser tratado no “Outlet” - na Rua do Corvo, que se mantém aberto.
A sapataria Romeu, que ainda é uma marca conceituada no comércio da Baixa, foi nos últimos sessenta anos uma das grandes catedrais comerciais na zona histórica. Se prometer não chorar, só para lembrar alguns desaparecidos que estão gravados na nossa memória, falamos do Saul Morgado, da Casa Bonjardim, das Galerias Coimbra e da Casa São Tiago, do Último Figurino, os Marthas, o Eldorado e o Infinito, o café Arcádia, o café Central, o Café Internacional, a livraria Coimbra Editora. Foram estes ícones da cidade desaparecendo e poucos foram aqueles que levantaram um dedo acusatório sobre o processo de extermínio em curso.
Nos últimos vinte anos, numa indiferença inexplicável, tem sido uma razia. O curioso ou a graça, sem graça alguma, é que mesmo com o desastre que continua à frente dos nossos olhos, ninguém se importa. Vivemos um tempo esquisito onde o que parece ser é a norma e a realidade é para esquecer. Aliás, para quem falar disto ou escrever corre o risco de ser olhado de lado. O que conta é dizer que a Baixa está em franco desenvolvimento comercial. Ler mais ou menos isto nos jornais passou a ser um hábito. Sabemos bem, ou pelo menos imaginamos, quais as razões conducentes a este inapropriado relato.
Por factos mais que provados, assistimos a um desastre comercial iminente na zona histórica. No entanto, pasme-se, os intervenientes, os operadores, que são a parte mais fraca, continuam a assobiar para o alto. E é lógico, se estes, que são verdadeiramente os interessados, não denunciam o seu descontentamento na Praça 8 de Maio, alguém acredita que serão os políticos com assento parlamentar na Câmara Municipal a fazerem alguma coisa? Continuando na mesma cobardia, ou apatia, se preferirem, estes ou os que vierem procederão de igual modo. Só perde quem tem. Só sente quem sofre na pele as agruras da vida.
Há vinte anos que ando a escrever sobre o funeral anunciado do comércio de rua. É incrível mas, pela minha denúncia constante - que se pode constatar nas dezenas largas de crónicas que escrevi ao longo destas duas décadas -, talvez por parecer muito pessimista, fui perdendo o apoio popular – porque, como escrevi, a maioria prefere matar o mensageiro e ignorar a catástrofe que se aproxima. Esta estranha forma comportamental da vizinhança acabou por condicionar a minha forma de ser. Com o tempo, fui escrevendo cada vez menos sobre o comércio. Por se saber ser cada vez maior a precariedade de quem abre portas, deixei de noticiar a inauguração de mais um ou outros mais estabelecimentos. Dos que encerram, já só falo das catedrais aqueles que, com o seu passado de glória, foram a infra-estrutura e contribuíram para o engrandecimento desta zona comercial.
O que está acontecer, é que os velhos, como eu, por um lado, tentando salvar alguma coisa, por outro, porque trabalharam muito e já não têm paciência para aguentar mais humilhação, vão deixando os seus negócios para quem vem de novo. Para estes estreantes comerciantes e hoteleiros, que abrem agora, que se cuidem. Apesar do sol radioso que nos querem impingir, olhemos bem o tempo com atenção, há muitas nuvens cinzentas que estão escondidas.

2 comentários:

Filipe Costa disse...

Isto só demonstra a decadência total de Coimbra,porque não há apoios para manter estás casas abertas, só se vê coisas ao abandono nesta cidade! Realmente choca me ver que ninguém se preocupa com isto!O que era a baixa,e o que é hoje em dia!

Filipe Costa disse...

Isto só demonstra a decadência total de Coimbra,porque não há apoios para manter estás casas abertas, só se vê coisas ao abandono nesta cidade! Realmente choca me ver que ninguém se preocupa com isto!O que era a baixa,e o que é hoje em dia!