quinta-feira, 21 de maio de 2015

UMA CERTA INSENSIBILIDADE COIMBRÃ QUE IRRITA





Como quase todos os dias, ontem, quarta-feira, à hora do almoço, encontrei o Marco a tocar acordéon na esquina da Coimbra Editora, junto ao Arco da Barbacã. Cumprimentos, palavras de circunstância para aqui e como é que está o saldo para a compra de um acordéon novo para acolá –o Marco, oriundo da Polónia, é músico. Em Março. Último, veio ter comigo para ver se escrevia a sua história e lograva arranjar um acordéon para tocar na rua e conseguir sobreviver. Por um lado, poder ganhar umas moedas para pagar o quarto, por outro, para tentar juntar para comprar um instrumento novo. Escrevi a sua história n’O Despertar, em 23 de Março. Em 3 de Abril um leitor do jornal, e meu amigo, o José João Cardoso, num gesto ímpar, emprestou-lhe um acordéon que tinha em casa e era pertença da família.
Dizia-me então o Marco que, por parte dos transeuntes que contribuem, está correr muito bem. Se continuar assim, de aqui a alguns meses, avança para a compra de um instrumento novinho, a estrear. Porém, estava a ter um problema: no dia anterior, por volta das 16h00, estando acompanhado, levou com uma quantidade de água em cima, que o molhou e salpicou o instrumento musical. Disse que já era a terceira vez que acontecia o mesmo naquele local. O amigo acompanhante, José Manuel Rocha Lopes, corroborou a história. Ambos, apontando para cima, disseram: “a água foi jogada dali, da varanda do edifício da Coimbra Editora. Isto não se faz! Vimos água a escorrer do varandim. Ora, como se vê, lá não há plantas. Isto foi de propósito”. Diz o Marco, "já falei com os funcionários e não me ligaram nada! Estou a tentar ganhar a vida, não faço mal a ninguém! Por que me fazem isto?”
Tomei nota das suas declarações e entrei na loja da Coimbra Editora. Lá dentro uma senhora na caixa e outro fora –que disse ser também funcionário. Expliquei ao que ia e contei a história do Marco. Que o músico de rua estava a tentar safar-se, como eu, como qualquer outro. Que qualquer um de nós, de um momento para o outro, pode cair na miséria. Que sendo uma brincadeira de mau gosto não estava certo o que, alegadamente, estavam a fazer ao homem. Invoquei o facto de escrever num blogue, mas que não era minha intenção usar a escrita de qualquer maneira. Só o faria em último recurso. Preferia não ter de escrever e falar com alguém que assumisse que não se repetia.
A menina da caixa retorquiu que não era nada com ela. E com que é? Estaria alguém da gerência? Interroguei. “Pode vir depois das 14h00. Apontando, “desce aquelas escadas, para a cave, e fala com um colega”. Cerca das 15h00 lá fui. Pedindo licença para ir expor o assunto, desci as escadas mas não estava ninguém. Subi e perguntei porque me mandou descender se não estava ninguém? A resposta foi vaga. Repeti que não pretendia prejudicar fosse quem fosse e muito menos a empresa. Depois de solicitado, deu-me então o número telefónico, geral, da Coimbra Editora, para contactar a administração. Liguei e fui atendido por uma funcionária –que a seu pedido não identifico. Expliquei o que se estava a passar e, mais uma vez, ratifiquei que pretendia somente evitar a repetição e absolutamente mais nada! Por isso mesmo, roguei se me poderia passar a chamada para a alguém da gerência. Do outro lado da linha, foi-me dito pela telefonista que iria apresentar o caso ao administrador e para eu ligar amanhã (hoje).
Hoje, cerca das 15h00, voltei a ligar. Respondeu a funcionária: “o senhor (…), o administrador, não quer falar sobre esse assunto. Portanto, o senhor é que sabe. Faça o que entender!”

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