segunda-feira, 5 de maio de 2014

ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O GRAVADOR



 Naquele sótão velho, em que a ordem reina no meio do caos organizado de milhentas peças, dois baluartes marcam o acanhado espaço. Um, o homem, simbolizando a vontade férrea de contrariar a Natureza, não se deixa abater pela força da idade e do tempo dominador. Outro, o computador, destacando-se no meio de um cenário completamente manual e mecânico, mostrando que é rei e senhor de todas as profissões, veio para ficar, revolucionando tudo o que se julgava conhecer e obrigando o humano a render-se aos seus infinitos poderes.
O homem de quem falo é o meu amigo António da Costa Moura, de 87 anos, e que conheço há várias décadas sempre com a mesma expressão de agilidade e pragmatismo. Na sua oficina, no número 162 e no quarto andar da Rua Ferreira Borges, onde continua a trabalhar diariamente e desde os seus onze anos, faz carimbos e gravações digitalizadas e manuais. Sem margem para dúvida, será o mais antigo gravador em actividade. Como é que consegue, senhor Moura, manter esta frescura toda? Pode dar-me a receita? Interrogo. “É muito simples, tenho algum cuidado a comer; bebo só às refeições e sem exagerar –bebidas brancas não entram no cardápio; para chegar à oficina e voltar, todos os dias subo e desço estes cerca de 170 degraus. Para além disso, todos os domingos faço uma hora de bicicleta. Ainda agora fui ao médico mostrar análises e exames gerais e estavam todos muito bons. Não há milagres, meu caro! Você chegou aqui, depois de subir os 83 degraus, mais cansado do que eu! Olhando a sua barriga, dá para ver que se perde nos petiscos. Faça desporto, homem! Cuide-se, pela sua saúde!”

Sem comentários: