sexta-feira, 27 de setembro de 2013

UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA PRONTA




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: A CAMPANHA DO VALE TUDO":



 Tenho pena que não tenha comentado o forró efectuado pela CDU na Praça 8 de Maio.
Admito que não tenha sabido.
Quanto teria custado a vinda do Vitorino e todo o aparato?
Talvez mais do que uma rosa.
Aí já não interessa o problema dos comerciantes.
E o PSD ou seja a Coligação ?
Procure ser isento.
Concordo consigo ao escrever que vai votar. Dever Cívico.


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NOTA DO EDITOR


 Em primeiro lugar, muito obrigado por ter comentado. Tomara eu que, tal como o senhor, mais o fizessem, meu amigo anónimo mas conhecido.
E agora vamos passar à refutação. O senhor até me conhece relativamente bem, sabe que não pratico política partidária. Os partidos para mim estão como os clubes de futebol. Gosto de todos, enquanto catalisadores de recreio e diversão desportiva. Admito a defesa dos seus interesses corporativos, mas não vou à bola com algum particularmente. Isto é, respeito intrinsecamente a sua idiossincrasia mas não alinho com qualquer um deles. Bem sei que isto é estranho –eu próprio me questiono-, mas é assim. Deve ser um problema disfuncional no cérebro, admito. Pode o amigo até arguir que uma coisa não terá nada a ver com outra. Isto é, futebol é desporto, virado, portanto, para o lazer e ocupação de tempos livres de massas. Já os partidos políticos, enquanto organizações ideológicas que, nas suas ideias, defendem certos princípios programáticos societários, tem mais a ver com a nossa vida diária na polis, nós cidadãos sempre imbricados nessa mesma política da cidade. Contrariamente ao muito que se diz e escreve, tenho para mim que os partidos políticos irão existir enquanto houver democracia. Por outras palavras, são o braço executivo desta mesma escola participativa -não é preciso ser presciente para saber que este sistema está a prazo. Mais tarde ou mais cedo vai cair uma ditadura, de esquerda ou direita. Embora me incline que será de direita. É o eterno retorno à história do nosso País na sua repetição ordenada em contingência. E porquê a emergência desta ditadura? Porque um sistema democrático só persistirá havendo disciplina e cumprimento das partes, povo e governo, no Contrato Social. Ou seja, o povo sabe que terá de confiar desde que a outra parte seja confiável, abstractamente pessoa de bem. Aceita pagar impostos desde que essas mesmas contribuições sejam aplicadas em equidade para o bem comum e, acima de tudo, directamente no seu bem-estar quando for velho, nomeadamente no acesso a um sistema de saúde, ter direito a uma aposentação que lhe permita viver o resto dos seus dias com dignidade e na educação dos seus filhos –SAÚDE, EDUCAÇÃO e JUSTIÇA são o sustentáculo de uma Nação que, pretensamente numa distribuição justa, pretende almejar o bem-estar físico e uma felicidade necessária e comum a todos os seus cidadãos. Um sistema democrático só se arrastará no tempo se haver respeito, entre o Estado e o cidadão, no que se pede e no que se dá. O Estado tem de ser como um grande pai que se admira pela forma como se comporta perante os seus filhos. Impõe a proibição de se fumar, mas não fuma. Obriga a que não se consuma álcool, mas não bebe. Prescreve por igual a obrigação de todos os seus entes contribuírem com trabalho. Se não labutarem não manducam. Ora o que temos assistido nas últimas décadas por parte do Estado? Seguindo as linhas socialistas/comunistas dos antigos países do leste Europeu, com o argumento de dirimir as assimetrias sociais, passou a distribuir aos que nada produzem a riqueza originada pelos que se esfalfam a trabalhar, mesmo sem levar em conta o histórico de cada um. A regra aplicada é: se és pessoa, logo existes, logo tens direitos para que essa tua existência seja garantida. Nada de mais errado. Deveria ser assim: és pessoa. Existes. Tens direitos nesta tua existência se garantires as obrigações que te são consignadas civil e constitucionalmente. Podes trabalhar? Então trabalha. Tens de afiançar o teu auto-sustento e, se tiveres, da tua família.
O trabalho é um direito, apenas e só, enquanto instrumento de rentabilidade e meio de alcançar a dignidade social. O Estado não tem de garantir trabalho a ninguém. O Estado, abonando um mínimo de subsistência humanitária, caucionando que ninguém morre por falta de assistência, deve repartir levando sempre em conta a contraprestação, o que recebeu desse mesmo cidadão. A igualdade social, assente numa patente e clara desigualdade colectiva, só pode ser atingida se todos, tendo em conta as suas diferenças limitativas, partilharem as mesmas obrigações. Passando esta arrogância subjectiva, o cancro deste sistema democrático em que estamos mergulhados assentou em duas metástases (pelo menos a partir de 1910). Uma foi o aproveitamento descarado dos governantes para si para todas as suas clientelas –veja-se a analogia com a queda da ex-URSS. E a segunda, para avençar a sua continuada reeleição, em manipulação política tentando comprar o voto, foi a distribuição a quem nada fez nem nunca apeteceu trabalhar. Há excepções a esta regra? Claro que há. Na floresta negra haverá sempre uma árvore multicolor a contrariar a escuridão.
E chegados aqui, pegando no léxico popular, poderemos interrogar: mas, actualmente, com a maioria absoluta de coligação, e outras anteriores maiorias conquistadas nas urnas, não estamos já numa ditadura de direita? A meu ver não. Estamos a viver um CENTRISMO que emergiu entre o conservadorismo secular e um progressismo fraturado e titubeante –nasceu nas últimas quatro décadas e é um subsistema da democracia republicana. Enquanto máquina tentacular de propaganda, alimenta-se das doutrinas fascistas, socialistas e comunistas. Os seus actos de governance, profundamente egocêntricos, visam essencialmente a salvação das suas famílias e clientelas, garantindo a prossecução do status e linhagem de apelidos e, ao mesmo tempo, criando condições facilitadoras aos prosélitos de seguidismo cego. Os melhores lugares são distribuídos por esta prole de genética aristocrática.
Este Estado, através dos governos enquanto órgãos executivos, prega uma doutrina ao cidadão particular e, em causa própria, faz o que lhe convém e lhe dá mais proveito. Este Estado espalha ao operário para trabalhar mas depois, por linhas travessas, desvalorizando o rendimento do trabalho, retira-lhe todos os proventos desse esforço para alimentar a sua própria máquina pesada, gastadora, sôfrega e parasitária. E pior, depois de o exaurir, depenando-o materialmente e psicologicamente, abandona este proletário à sua sorte e sem se importar que morra à fome após uma vida de esforço e trabalho.
Isto tudo para lhe dizer que, inevitavelmente, a médio-prazo teremos uma revolução. Este sistema é insustentável a curto e médio-prazo. Bem sei que acabei por fugir ao tema. Mas, tenha dó, acusar-me de parcialidade? Pedir-me para ser isento? Não defendo nenhuma força política partidária, meu caro. Enquanto durar este festival, tenho a certeza de que todos são necessários, pequenos e grandes partidos. Apenas foquei intencionalmente os dois maiores candidatos por, alegadamente, serem concorrentes ao lugar de presidente da autarquia.


1 comentário:

João Braga disse...

PARABÉNS. Mais um excelente texto sobre a realidade da nossa sociedade. Só não vê o mesmo quem é cego