quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

MANUAL DE MOTIVAÇÃO DO EMPREGADOR LUSO

O presidente de uma IPSS, Instituição Particular de Solidariedade Social, com 13 anos de existência na cidade de Coimbra, cuja função tem sido sobretudo virada para projectos de índole Social, nomeadamente em valências para famílias desestruturadas e crianças em risco, com sede nesta cidade, e com privilegiada articulação com o Centro Distrital de Segurança Social de Coimbra, a 21 de Dezembro último, enviou, como mensagem natalícia, aos seus cerca de uma dúzia de funcionários, entre auxiliares de base e técnicos superiores, em forma de prospecto, entregue de mão em mão, o texto que abaixo reproduzo. Saliento que, por acaso e só por acaso, este senhor presidente desta instituição ocupa um lugar de relevo, como político, numa cidade satélite de Coimbra.
Eis então a pérola, que, pela força motivadora, pode, por um lado fazer doutrina; por outro explicar como vão as relações contratuais no pequeno rectângulo à beira-mar plantado. Saliento que o texto que se segue é a transcrição fiel da mensagem entregue no sapatinho para integrar na árvore natalícia dos funcionários a 21 de Dezembro passado:

LOGOTIPO DA INSTITUIÇÃO

MENSAGEM DE NATAL

Está a chegar ao fim, o ano de 2007.
Tal como tinha dito, no almoço de Natal de 2006, ia ser um ano muito difícil, dado que terminavam projectos, os financiamentos eram escassos e a aprovação de novos Acordos na Segurança Social está cada dia mais difícil.
Apelei na altura a um empenhamento de todos os que ficavam na altura, tentando marcar a diferença pela qualidade, rigor e profissionalismo.
Constato ao fim deste ano de 2007 (apesar de sucessivos apelos), que nem todos adoptaram esta mensagem e esta postura: o horário cumpre-se, mas não se é rigoroso ao nível dos processos dos utentes, dos registos dos giros e das actividades, do envolvimento nas acções, na organização dos Dossiers técnico-pedagógicos,…
Cumpre-se, apenas quando alguém chama a atenção dos prazos e os incumpridores, têm sempre uma desculpa na ponta da língua, para o que não fizeram, mas que deveriam ter feito.
Muitos destes, fomentam a intriga e o “diz que diz”, pensando que assim conseguem subir mais rápido na instituição. Desenganem-se! ! Eu estou muito atento. É mais fácil apanhar um mentiroso, do que um coxo.
Felizmente, encontro alguns (não muitos), funcionários da Instituição que justifique o meu voluntariado e o dos membros dos Corpos Gerentes, na Instituição: estes funcionários são disponíveis, empenhados e são rigorosos. Só é pena que sejam poucos.
No inicio do novo ano de trabalho de 2008, alguns de vocês, não estarão na Instituição: uns por opção própria e outros por opção da Instituição (os tais incumpridores).
Para quem fica, dou o seguinte conselho: Não chega apenas apregoar nos corredores que temos muito trabalho, que a Instituição é muito exigente. É preciso (em tempo de grandes restrições) deixar apenas de apregoar e trabalhar efectivamente –cumprindo com rigor os prazos e com qualidade as tarefas que estão distribuídas a cada um.
Já agora um outro conselho: só está na (…) –nome da Instituição-, quem quer. Quem acha que não está bem, tem um rumo: vá-se embora.
Este ano, não vai haver almoço de Natal da Instituição: não é por dificuldades financeiras, é por opção: assim acaba-se com um espaço de intriga! Ainda não me esqueci do que aconteceu no ano passado. Acabado o Almoço de Natal, algumas pessoas, saíram cheias de pressa, para fazer o seu acto preferido: a intriga –foram telefonar para alguns dos que não estiveram presentes a adulterar as minhas palavras.
Para terminar, um último conselho: continuem assim e um dia destes, não tem Instituição para trabalhar.
Votos de bom Natal e de Bom ano Novo de 2008.

Coimbra, 21 de Dezembro de 2007.

O Presidente da Direcção Nacional.

(segue-se a assinatura e, entre parêntesis, o nome)

4 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns ao autor pelo texto e pela preocupação com estas questões. Muito obrigada.
Se, por um lado, evoluimos significativamente na consciencialização individual dos direitos humanos, por outro, deparamo-nos com um fenómeno que mais parece do século passado e que se denomina de "violência intrainstitucional". A crise que o nosso país enfrenta, o grande número de licenciados e a alta taxa de desemprego origina o fenómeno que percebemos nesta carta e que se caracteriza por um profundo desrespeito e desvalorização do trabalhador (e da pessoa) e a criação de um ambiente pesado, autoritário, com fortes pressões e hierarquias rígidas, onde são veiculadas mensagens mesquinhas contraditórias e inconsistentes. Este fenómeno é visível em várias instituições (e digo-o por experiência própria) criando no trabalhador um ciclo de sentimentos ambivalentes- de angústia/raiva/revolta, frustração, desvalorização pessoal, entre outros e afecta profundamente o bem estar da pessoa.
Como é possível que, à entrada de 2008, este fenómeno aconteça, seja frequente e permitido silenciosamente por todos?

Vítor Ramalho disse...

O homem é dos meus.
A intriga tornou-se uma instituição nacional e os mais activos no mal dizer são normalmente aqueles que nada fazem.

Anónimo disse...

Oh vitor para o tempo que perdes nos blogs tu deves trabalhar que nem um leao!

Vítor Ramalho disse...

Nuca vê no blogue entre as 18 e as 22.
Muitas vezes durante a noite estou a trabalhar e vou passando o tempo no blogue.
Devia era estar calado.
Eu não tenho pais ricos nem fui ao BES.