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Já naquela data li o artigo com atenção e a verdade é que não me provocou reacção. Todos constatamos estas atitudes de mergulho no “individualismo quotidiano autocentrado no interesse individual” no dia-a-dia. Até vou mais longe: afinal, não se passará o mesmo com a sociedade no seu todo?
Recuemos um pouco no tempo. O individualismo como filosofia económica começou no século XVIII, com Adam Smith, ao preconizar um ideal político em que o desenvolvimento assentava na iniciativa privada e o Estado, tendo apenas uma função de árbitro, não deveria se imiscuir na actividade económica. Dando início ao “laissez faire, laissez passez”. Com avanços e recuos, a verdade é que chegámos ao século XXI e o pai da moderna economia, que muito contribuiu para a ciência económica, estava longe de prever que a riqueza mais distribuída, verticalmente, elevando o bem-estar, daria origem a outro movimento, com o mesmo “ismo”: o narcisismo individual, desprovido de qualquer sentimento de solidariedade para com o próximo, o pensamento centrado apenas no individual, na sua própria pessoa. Não deixa de ser paradoxal, porque o ter mais, o viver melhor, deveria, em principio, criar um subsequente desejo de dividir e ajudar o próximo. Mas já se viu que em face da abastança, o homem quanto mais tem mais quer. Assim como, à medida que, obsessivamente, caminha em direcção ao mirífico mundo novo do bem-estar, transversalmente vai perdendo a sua capacidade reivindicativa e, em consequência, cada vez se torna mais apático em relação às causas sociais. O curioso é que o seu desinteresse pelo colectivo, como boomerang, virá, inevitavelmente, a médio prazo, a tocá-lo no (seu) individual. Como especulação, poderemos ser levados a intuir, no limite, que se é no dissenso social que germina a evolução do sociedade, poderemos pensar que o futuro será “muito mais do mesmo”, talvez para pior, e muito menos daquilo que fomos habituados a conquistar, com especial incidência no último século, através da reivindicação e das lutas sociais. Ou seja, a abastança e a fúria desenfreada pelo “ter” a qualquer jeito, sem olhar a meios para atingir os fins, acabou por apagar a chama do “ser”, que assentava num “devir” de transformação, sempre em movimento, sem esquecer a afirmação individual, mas cujo objecto era o político-social, enquanto interveniente no espaço público.
Voltando ao estudo de Elísio Estanque, os estudantes universitários, penso, não serão muito diferentes do homem-sócio-cultural, enquanto resultados de uma cultura social em que estão inseridos. Claro que poderemos afirmar que as revoluções sociais começaram sempre nos jovens, enquanto contestatários a um “status quo” implantada quase autoritariamente e displicentemente pelos mais velhos, normalmente conservadores e alheios a mudanças.
E aqui, inevitavelmente, vou chegar onde queria: pode uma universidade velha, conservadora, como é a Universidade de Coimbra -e não me refiro obviamente à sua vetusta idade, desde 1537 que se instalou de vez em Coimbra- incutir nas gerações mais novas um espírito reivindicativo e de intervenção social?
Evidentemente que tenho a minha opinião e conhecimento de causa, mas deixo isso à especulação alheia.
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