domingo, 10 de setembro de 2023

MEALHADA: RESTAURAÇÃO A CONTA-GOTAS

 




Começo com uma declaração de interesses: já trabalhei na restauração, por conta-própria, cerca de uma dúzia de anos. E ressalvo esta passagem da minha vida para mostrar que, uma vez que desapareceu o serviço militar obrigatório, para qualquer cidadão deveria ser necessário prestar serviço cívico, no mínimo, seis meses a servir pessoas num café ou restaurante. Tal como a tropa, é uma experiência formativa existencial única para, por um lado, ajudar a compreender os comportamentos alheios, por outro, para conter os nossos próprios ímpetos de reclamar por tudo e nada.

Eu e a minha mulher, como já somos idosos (com mais de sessenta e cinco anos), e apesar de auferirmos reformas miseráveis por quase meio-século a trabalhar no duro, conseguimos juntar um pequeno pecúlio que, apesar de alguma capital contenção nos gastos, nos permite, por exemplo, a conseguir almoçar fora todos os Domingos em restaurantes com preços médios, na Mealhada.

Depois desta explicação que de modo nenhum pretende a vaidade ou ostentação, não resisto a contar o que nos aconteceu hoje. Como muitas vezes fazemos, fomos ao “self-service” de uma média-superfície. Com uma cozinha de excelência e uma ementa variada, por cerca de quinze euros cada um, habitualmente, comemos muito bem. Pela grande afluência de vários estratos sociais, baptizei esta catedral pantagruélica de “cozinha económica dos remediados”.

Fomos lá hoje para degustar o bacalhau no forno. Com o palato a dançar de contente, este prato, assim como outros, é qualquer coisa de excepcional.

Chegámos por volta das 12h45. Ou seja, mesmo a abrir o período para almoço. Na nossa frente, em fila, várias pessoas esperavam provar o célebre bacalhau, ou o leitão, que é também uma delícia. Debalde, já não havia nem uma nem outra iguaria. Tal como outras pessoas, viemos embora. Ainda ouvimos um comentário disperso de um desistente: “então, estamos na terra do leitão, e vocês deixam acabar?

Pode esgotar? Lá poder pode, mas, logo no início do repasto, não deve.

Onde é que vamos? E não vamos? Vamos ao habitual, no Luso? Não, vamos experimentar uma coisa nova, sugeri à minha consorte.

Lembrei-me de que, há poucos dias (re)abriu um pequeno restaurante panorâmico com uma vista de tirar o chapéu nas poéticas tardes outonais. Encerrado há vários anos, outrora, com uma outra gerência, tinha uma boa cozinha, gostosa e aprazível.

Entrámos e concluímos que o ambiente interior e a paisagem que se avista continuam na maior e a ser um cartão de visita.

Na sala de jantar, umas quatro mesas estavam ocupadas com pessoas a dar ao dente e em redor umas seis esperavam ser ocupadas. Sentámo-nos e esperámos a nossa vez. Veio o servidor e interrogou sobre o que desejávamos. Respondemos em coro: é para almoçar. Quase em recarga, o mestre-de-sala interrogou: “têm reserva? É que nós só trabalhamos com reservas”, enfatizou.

E concluiu: “para sair só temos hamburger, e umas entradas”.

Já há uns tempos nos tinha acontecido algo parecido com outro restaurante da zona. Quase diariamente bombardeados com publicidade no Facebook, fomos experimentar. Passámos a porta de entrada e conchegámo-nos com os joelhos dobrados debaixo da mesa e aguardámos pelo atendimento. Veio o dono e perguntou: “é para almoçar? Já só temos dobrada. Mais nada”.

Sem pretender meter uma foice em seara alheira, era bom que estes empresários pensassem que a sua falta de aprovisionamento pode levar à destruição de um estabelecimento. Posso falar por mim, não haverá repetição.

Tal como muitos Domingos, em continuação, fomos almoçar ao restaurante “Lourenços”, no Luso. Com a reiterada simpatia do pessoal, perante duas saborosas e magníficas postas de vitela à casa, que já conhecemos muito bem, e um bolo de bolacha de comer e chorar por mais, umas maravilhas que recomendamos.

Pagámos cerca de 40 euros, a meu ver, um preço módico pela qualidade.

E saímos abençoando o final de Verão e ovacionando a vida.


1 comentário:

António Anjo disse...

Na verdade ultimamente têm aparecido umas modas esquisitas em algo que é tão simples (tratar os clientes conforme gostam de ser tratados)