quinta-feira, 15 de outubro de 2020

MEALHADA: O ENSURDECEDOR SILÊNCIO DA ESCOLA DE MÚSICA

 

(Foto de Igor Alves surripiada do Facebook)


No calor da envolvência pandémica, o encerramento da Escola de Música da Mealhada (EMM), ocorrido em Março por acção do confinamento, passou despercebido à maioria. Estou em crer, o conhecimento do facto saltou para a berlinda quando há cerca de uma semana foi colocada essa eventualidade no grupo “Mealhadenses que amam a sua terra”, no Facebook. Em seguida, perante alguns comentários, surgiu um especial, o de Igor Alves, presidente da associação sem fins lucrativos e também professor de música neste estabelecimento de ensino, que, indicando o seu número de telefone, se prontificava a esclarecer quem o solicitasse.

Por entendermos que todas as instituições ligadas à formação e à cultura, para além de merecerem da nossa parte uma atenção especial, precisam dos apoios institucional e de todos nós enquanto cidadãos, fomos saber o que aconteceu.

Para isso, contactámos Igor Alves e propusemos-lhe responder pessoalmente a uma série de perguntas feitas por nós.

E aqui ficam conforme nos foram transmitidas:



- Blogue Questões Nacionais (QN): Quantos alunos tinha a Escola de Música da Mealhada (EMM) em Março deste ano?

- Igor Alves (IA): Entre oitenta a noventa alunos. Eram eles os associados da associação.

A nossa escola tinha também um quadro de nove professores, todos a

Recibos Verdes, na modalidade de prestação de serviços, e que se

deslocavam à escola consoante a necessidade de haver aulas.


QN: Qual o valor mensal do arrendamento pago pelas instalações

ocupadas pela EMM?

- IA: o arrendamento mensal era de 300.00€.


- QN: Quanto pagava cada aluno, em média, supondo que a propina seria diferenciada?

- IA: Sim, havia duas mensalidades. A média andaria próximo dos 47.00€.


QN: Quais eram os custos de funcionamento mensais da EMM?

-IA: os custos fixos (renda, água, luz, Segurança Social, comunicações, o meu vencimento, que auferia sobre o ordenado mínimo) eram de cerca de 1500.00€.

A partir de Abril deixou de haver receita, porque, devido ao confinamento, deixou de haver parcerias – instituições protocoladas com a EMM.


QN: Escreveu no “Mealhadense” que “durante 10 anos houve duas

esmolas”, nunca houve verdadeiro apoio a não ser aquele que nós

prestávamos aos pedidos de atuação não remunerados... quando realmente precisámos não houve apoio devido, mas houve para quem foi ocupar as nossas instalações”.

Pode explicar melhor?

-IA: É simplesmente isso mesmo. Reitero o que escrevi.


QN: A EMM nasceu em 2012. Ao longo destes oito anos sentiu sempre a falta de apoio da Câmara Municipal da Mealhada (CMM)? Ou foi somente este ano?

IA: Desde que criei o projecto fui sempre pedindo instalações. Nunca foram cedidas. Verdadeiramente nunca senti apoio. O apoio que tinha era a cedência gratuita do Cine-teatro Messias, mas, comparando com as outras que fazem, isso não era nada.


QN: Já que este ano não houve inscrição, qual foi a verba cabimentada pela CMM à escola no ano passado?

- IA: No ano passado recebemos 797.00€.

Em 2018 cerca de 600.00€. Nos anos anteriores nunca recebemos nada, por haver um problema com a inscrição na Segurança Social.

QN: Sente que, em relação a outras associações, pelos valores atribuídos, a EMM foi discriminada?

- IA: Não senti que a EMM fosse discriminada, mas sinto que era pouco valorizada, tendo em conta o espectro cultural no trabalho desenvolvido.


QN: O que esteve na origem da rotura de diálogo com a autarquia?

- IA: Não houve diálogo. Não havia solução por parte da edilidade.

Da nossa parte havia boa-vontade para continuar o projecto.


QN: O confinamento por causa do COVID teve alguma coisa a ver com o corte de apoio por parte da CMM? Ou seja, essencialmente, a pandemia foi factor crítico para o encerramento da EMM?

-IA: O COVID foi o factor crítico para o encerramento da escola. Porque sem receitas não conseguia suportar os custos.


QN: A edilidade impôs alguma condição para continuar a apoiar o projecto?

- IA: Por parte da autarquia, não houve estratégia clara para continuar o projecto.


- QN: A ter havido comparticipação este ano quanto teria sido?

- IA: Se houvesse comparticipação este ano teria sido na ordem dos 300.00€, uma vez que, devido ao Coronavírus, não haveria possibilidade de actividades ao vivo.


QN: Após a sua decisão de encerrar a escola foi contactado por algum político da CMM, presidente ou vereador, a tentar demovê-lo para não desistir?

- IA: Nunca fui contactado por algum político da CMM no sentido de se arranjar uma solução para o problema. O que mais lamento, tendo em conta o meu esforço e a dedicação como me entreguei a este projecto cultural, foi a forma como fui destratado. Foi uma profunda falta de respeito… Mas a vida continua.


E A CÂMARA, VAI OU NÃO EXERCER O CONTRADITÓRIO?


Através do Facebook, na página da “Câmara Comunicação Mealhada”, contactámos o senhor director de comunicação a convidar a edilidade a exercer o contraditório. Escrevi que poderia comentar o assunto para incluir nesta edição, assim como fazê-lo posteriormente, ou ainda, se preferisse, pela igualdade de tratamento, poderia optar por responder a várias perguntas enviadas por e-mail. Até ao momento não recebemos qualquer comunicação.




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