sábado, 22 de outubro de 2022

UMA CRISE DE CIÁTICA PODE LEVAR-NOS A VALORIZAR MUITO O SNS

(Foto do Jornal da Bairrada)



No passado fim-de-semana abusei das minhas possibilidades hercúleas. Naquelas situações em que é impossível ficar quedo e ledo, pus-me a carregar móveis como se fosse um rapaz de menos vinte anos. O resultado, como seria de esperar, foi logo na Segunda-feira mal me poder mexer. Uma incontrolável dor ciática tinha assentado arraiais na minha coluna, para mim nada de novo, já que há, mais ou menos, três anos tive a mesma dose de presente medicinal.

Entre umas tomas massivas de Ibuprofen e Voltarene, a dor, como se me estivesse a pôr à prova para me converter ao catolicismo romano, não parava de aumentar. Com a ajuda da minha mulher Ana, que não deixou de fazer tudo para me ter em condições físicas mínimas, incluindo umas massagens na zona atingida com pomada e mais uns banhos quentes localizados, apesar de mal conseguir andar, mesmo assim, ainda fui trabalhar até Quinta-feira. Mas no dia seguinte, na Sexta-feira, já não consegui levantar-me da cama.

Não interessa nada, mas sou daqueles que só tomo medicamentos se for mesmo obrigado, só vou a um hospital se estiver mesmo nas últimas. Quanto a recorrer a uma ambulância, estupidamente, admito, só se estiver prestes a passar para o outro lado.

Ontem, Sexta-feira, com a dor ainda mais incapacitante do que nos últimos dias – para quem nunca teve, é assim como parir um filho – coxo, recoxo, tremente e mais torto que uma cana tocada pelo vento canavial, tive mesmo de decidir procurar apoio hospitalar. Com a ajuda prestimosa e garantística da minha mulher tive mesmo de concordar com ela: eu não poderia continuar a sofrer como uma arrependida Maria Madalena.

Vai daí, por volta das 17h00, fomos direitinhos ao Hospital da Misericórdia da Mealhada. Arrastando a perna esquerda e contorcendo-me em sofrimento atroz, fomos então ao balcão de inscrição, onde, creio, é feita a triagem.

Como uma mulher a apertar a barriga, como se estivesse no fim do tempo e tivesse rebentado o saco das águas, balbuciei que levava comigo uma maléfica dor ciática e, que não aguentando, precisava de ajuda médica com urgência. Foi então que a resposta da funcionária me deixou ainda pior: a urgência estava com um atraso de cerca de duas horas, retorquiu com a maior passividade. Como? Retorqui, no meio de um êxtase furunculoso. Mas eu não aguento duas horas, respondi. “Pois, até pode ser menos, mas o enfermeiro está a coser um acidentado e o melhor apontar para esse espaço de tempo”, replicou a funcionária.

Com a desilusão e fim da esperança de me safar por ali, sem perguntar se havia médico ou não, parti em direcção a Coimbra, ao CHUC, Centro Hospitalar de Coimbra. Como era fim de tarde, o trânsito era caótico, mas como um valente a lutar contra demónios desconhecidos, lá suportei a provação, e a conversão religiosa vai ficar para outra altura.

Transpus a porta de entrada do CHUC às 17h59 e, depois de me ter sido administrada uma injecção de acalma cavalos, já a andar quase normalmente, saí às 18h52.

Posso estar a ser injusto, admito, mas parece-me que algo não vai bem nas urgências do Hospital da Misericórdia da Mealhada. Fica o alerta. Se estiver bem assim, que continue, se não está, que se melhore os serviços. Para mim, confesso, não está. E não fiquei com vontade de voltar. Alguma coisa não bate certo. Seja falta de pessoal médico no atendimento, sei lá.

Por outro lado, e já não é a primeira vez que escrevo sobre o atendimento publico, quando leio que o SNS, o Serviço Nacional de Saúde, está nas últimas, fico indignado.

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