terça-feira, 11 de outubro de 2022

REUNIÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE MEALHADA: O CASO DO DIA




A CIUMEIRA DA CONCUBINA


Ontem, Segunda-feira, dia 10 de Outubro, a reunião da Câmara Municipal da Mealhada ficou marcada com um acontecimento inédito. Mas vamos reduzir a velocidade para calmamente contar o que aconteceu de absoluta singularidade.

Já o escrevi antes, para mim, estes encontros quinzenais, pela constante originalidade, são, pelo insólito, um brinde à minha curiosidade. Já vi um pouco de tudo, desde um presidente de junta, que tendo prerrogativas acima do vulgar cidadão, nomeadamente o seu palco próprio na autarquia que dirige e acesso a encontros amiúde com o presidente do município, opta por se queixar publicamente no executivo. Assim como, por exemplo, na Assembleia Municipal já vi acontecer uma cena quase inédita e mais própria dos países de leste: um deputado ameaçar outro com “lá fora dou cabo de ti”.

Agora, o que eu nunca tinha visto é um partido ter um acordo de coligação com o vencedor das eleições, com um vereador eleito a militar e a fazer maioria, e um membro da comissão política local ir acusar o chefe da edilidade de favorecer outros “compadres” mais chegados, assim como numa ciumeira de concubina.

E foi isto mesmo que aconteceu ontem. A reunião até decorria mais ou menos estimulada pelo animador social do costume, monsieur Marqueiro, o mais peculiar líder da oposição visto em terras de cá e além de lá, com trocadilhos culturais de acusações divididas no legal e o ilegal entre este e Gil Ferreira, responsável pelo pelouro da cultura, eis senão, quando o relógio da torre sineira da Igreja Matriz, batendo as 10 badaladas, bem timbradas e a martelar os tímpanos, pareceu anunciar: Alto e pára o baile!

E o maestro da banda, António Jorge Franco, levantando a batuta, contemporizou: “está na hora de ouvir o público. Vamos ouvir o senhor Ângelo Gomes.”

E o senhor Ângelo, do Luso, carregado de muitas folhas datilografadas, durante mais de uma dezena e meia de minutos, zurziu forte e feio no chefe da banda. Com a interpelação dos vereadores, esta intervenção teve um tempo total de 43 minutos, entre perguntas e respostas.

Com várias acusações à mistura, entre outras, de favorecimento implícito ao Clube LusoClássicos, com sede no Luso - cujo presidente, Diogo Ribeiro concorreu como candidato à junta de freguesia de Luso pelo Movimento Mais e Melhor, e cujo município, em Abril deste ano, ter concessionado à entidade de carros antigos o antigo Lavadouro da vila turística, edifício entregue à Câmara Municipal pela Junta de freguesia de Luso por um período de 10 anos renováveis, e ainda um projecto de obra de reabilitação com um custo estimado de 140 mil euros mais IVA.

Mas o senhor Ângelo, ali, não era apenas um simples munícipe lusense a usar da sua prerrogativa de liberdade de expressão. Se o fosse, a coisa até passava desapercebida e nem seria tema desta crónica. Acontece que Ângelo Gomes faz parte da Comissão Política do PSD/Mealhada. E mais, fez questão de o salientar por mais que uma vez antes de explanar totalmente a sua longa exposição.

Relembramos que o PSD detém em permanência Hugo Alves Silva, vereador com pelouro atribuído a tempo inteiro no executivo. De Salientar que, perante tantas acusações ao prefeito, porventura, Hugo Silva não terá manifestado grande surpresa com o que estava a decorrer à sua frente.

Então, em face da peça trágico-cómica, cada um dos presentes, tentando disfarçar a surpresa, interpretou à sua maneira e conforme pode.

Na parede em frente, em retrato institucional, Marcelo Rebelo de Sousa, coisa rara, ficou sem pio.

Franco, atingido em cheio, na alma, sem reacção, deu em pedir demasiadas desculpas inusitadas, o que levou Marqueiro a chamar à colação uma cena do “Perdoa-me” – antigo programa de “baba e ranho” da televisão SIC.

Marqueiro, como se soubesse antecipadamente de tudo, ou não fosse ele mestre na arte adivinhatória, usufruindo cada gota daquele útil deslize teatral, aproveitou o ensejo para declarar que tinha apresentado uma queixa no DIAP, Departamento de Investigação e Ação Penal, sobre a concessão ao LusoClássicos.

Que este acto imprevisível e surpreendente, vindo de um parceiro de coligação, constituiu um cartão amarelo ao presidente da autarquia poucos terão dúvidas.

Que esta intervenção intempestiva vai ter consequências no PSD, presume-se, também não surpreenderá ninguém.

 

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