segunda-feira, 17 de outubro de 2022

ENTRE O ABRIR E O FECHO DE PORTAS DE UM ESTABELECIMENTO HÁ TODO UM BALANÇO DE UMA VIDA

   




Assim como qualquer coisa, como se estivesse entalada na garganta e que custasse muito anunciar, a notícia, sem grande alarde, caiu a noite passada nas redes sociais:


Olá a todos,

sentimo-nos na obrigação de fazer este post,

primeiramente para vos agradecer todo o carinho,

a amizade e a confiança depositada em nós

e na nossa equipa ao longo destes 17 anos. E, em seguida,

informar que vamos encerrar o nosso estabelecimento.

DIA 23 DE OUTUBRO DE 2022

O RESTAURANTE O MANEL”


Para os poucos que não saibam, informamos que o reconhecido estabelecimento fica situado à entrada da Lameira de São Geraldo, na margem da estrada 234, que liga a Mealhada ao Luso.

Para os que nunca lá comeram um “bacalhau à casa”, assim uma boa posta com três dedos de altura e frito com revestimento de queijo e fiambre e a fumegar num prato de barro vermelho, têm menos de uma semana para provarem este excepcional pitéu. Porque, sobretudo nos últimos três anos, tive a honra de frequentar este mosteiro pantagruélico, sinto-me à vontade para poder escrever sobre outros magníficos pratos, confeccionados na cozinha, entre o calor saído das brasas do longo assador e os muitos odores que livremente se entranham por quem se avizinha, e sob a batuta da maestrina Fátima Maçãs a dirigir a orquestra.

Facilmente se intui do texto que um sonho que começou há 17 anos termina a sua história no próximo Domingo.

Escrito assim, parece que está tudo dito com o até amanhã e muito obrigado a todos, “agradecemos a vossa compreensão e gostaríamos, mais uma vez, de agradecer a cada um de vocês e a todos os colaboradores que nos acompanham desde sempre, com a certeza que nos voltaremos a cruzar por aí!

Mas não está. Entre o começar de um projecto comercial ou industrial e o bater de portas pela última vez – seja lá por que motivo for – há toda uma vida existencial que, naturalmente, implica todos os colaboradores mas, como ferro em brasa, toca a alma dos seus criadores. Inevitavelmente, vai restar um silêncio marcante na recordação do primeiro cliente, carregado de esperança no futuro, lá longe, e o derradeiro olhar embaciado de nostalgia do último dia, quem sabe acompanhado com uma lágrima furtiva.

Só quem já alguma vez abriu e encerrou uma casa de comércio sabe e sente o que escrevo aqui na ligeireza do correr da tecla.

Mas ainda acrescento mais: e vivêssemos num mundo de utopia, todos deveriam passar por esta experiência única e vivencial. Talvez assim valorizassem mais a iniciativa privada. E, acima de tudo, a vida difícil do “homem do café”. Para a grande maioria, o sujeito que nos serve atrás do balcão é um ser desprovido de vida familiar. É como se, a nosso ver enviesado, ele tivesse nascido sob o anátema do servir para sobreviver. Ninguém se questiona se o homem que nos coloca o prato, ou o café, à frente dorme um sono descansado. Isso não interessa nada… desde que continue a servir os nossos desejos… e todos os dias.

Uma grande salva de palmas para o Carlos Maçãs, toda a família e mais particularmente as melhoras rápidas para a esposa Fátima.


TEXTOS RELACCIONADOS


"Um palito, um copo de água..."
"Elegia ao homem do café (1)"
"Elegia ao homem do café (2)"
"Elegia ao homem do café (3)"

Encerrou um café no meu bairrro"



2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho mesmo muita pena… um beijinho a todos

Anónimo disse...

É uma grande perda para a nossa zona deixar de estar em contacto com uma equipa familiar maravilhosa, não sou muito de ir aos restaurantes porque a vida não permite fazer certos luxos, mas as poucas vezes que fui ao vosso estabelecimento fui sempre recebida com palavras agradáveis e com grande profissionalismo..
Tenho muita tristeza que feche , mas se é para o vosso melhor terão que o fazer, só temos agradecer todo o atendimento maravilhoso.
As melhoras a dona Fátima e um MUITO OBRIGADO A TODOS. Coragem💪🙏