quarta-feira, 10 de maio de 2017

O(S) SALVADOR(ES) DE TODOS NÓS

(Imagem da Sapo Mag)



Quando há cerca de um ano Portugal foi Campeão Europeu de Futebol ninguém ligou o feito a um milagre dos Pastorinhos de Fátima. Apesar dos últimos Censos de 2011 mostrarem que 75 por cento de portugueses são católicos, a verdade é que, pela não ligação do nexo de causalidade entre o terreno e o metafísico, ao colocar o facto para detrás das costas e a declarar preto no branco que somos maioritariamente cristãos não praticantes, divididos entre o cepticismo e a conveniência, demonstrou-se ao mundo que o país é absolutamente herege. E mais: que é mal agradecido.
Nem mesmo quando os milagres estão à vista de todos e à mão de semear, são poucas as vozes que se levantam em defesa da verdade suprema sem contestação. De pouco vale ver-se um governo socialista, de esquerda e laico, converter-se ao catolicismo apostólico romano. Para esta cambada de fariseus sacrilégios é pouco e não chega. Para quem não acredita e tudo serve para protestar, de pouco interessa o gesto magnânimo e tão cristão do executivo em dar tolerância de ponto aos funcionários públicos na próxima sexta feira para que todos, em conjunto, possam ir ver e rezar com o Papa Francisco.
Mas Fátima, com o seu incomensurável poder temporal, não dorme e está atenta. E para provar que não se brinca com a sua força, deu-nos mais um milagre: levar à final do Festival da Eurovisão uma canção que, não tendo grande rasgo de originalidade -facilmente confundida com uma composição de Rodrigo Leão-, pode muito bem sair vencedora. E mais: não é por acaso que o nome do intérprete é Salvador, Salvador Sobral de seu nome. Se fosse um acaso do destino, está de ver, chamar-se-ia António ou Manuel, que são os nomes identificativos deste país à beira-mar plantado. Levar à final um Salvador é mostrar ao mundo que há sempre um salvador espiritual que nos salva em todas as situações.
Ninguém se admire se, no futuro próximo, assistirmos a outros milagres dos Pastorinhos. Por exemplo em Coimbra, nas próximas eleições autárquicas, que vão decorrer em Outubro, como está tudo ao contrário -e o que parece não é-, é bem possível que Manuel Machado, recandidato pelo PS, se mantenha no cargo mesmo contra a vontade de muitos seus correlegionários que, a ser verdade, vão engolir um frasco de óleo de fígado de bacalhau.
Ninguém se abespinhe contra os santos que vão ser canonizados se não houver surpresas na Praça 8 de Maio e o executivo, em função partidária, se mantiver quadripartido -uma força perderá a sua representação e a sua cadeira será substituída por outra.
Mas haverá muitos mais prodígios por obra e graça dos Santos Pastorinhos. Que ninguém se ria se, nas próximas eleições presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa, o actual Presidente da República, que esteve sempre ligado ao PSD, Partido Social Democrata, e chegou a ser seu secretário-geral, for apoiado pelo PS, Partido Socialista, e o PSD lhe fizer um manguito.
Fátima vela por todos nós, herege povo humilde de Portugal.

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