terça-feira, 2 de maio de 2017

BAIXA: ECOS E RUMORES DAS VIELAS E RUAS ESTREITAS






COMÉRCIO TRADICIONAL

Apesar dos últimos dados da Nielsen, uma consultora internacional que analisa o consumo, mostrarem indicativos claros que a preferência do consumo pelas famílias começa, em crescendo, a incidir no comércio tradicional -cuja fatia em percentagem vale 8% do consumo total-, a verdade é que o negócio na Baixa continua anémico. É certo que a duração de um estabelecimento comercial novo, a meu ver, passou de seis meses para nove, mas, mesmo assim, a confiança dos mercadores conimbricenses, em último sopro no futuro, em decadência, prossegue pelas ruas da amargura.
Continua a assistir-se nesta zona a uma viragem nitidamente do comércio para a indústria hoteleira. Tudo dá a entender que pelo fluxo turístico, cujo passante pouco compra nas lojas, o futuro desta parte da cidade velha, fora de muros, nitidamente e tal como a zona do Quebra Costas, passará pelo surgimento de novas casas típicas em que o fado, a canção de Coimbra, marcará presença e identificação estudantil.

A QUEIMA DE ALGUMAS ELEMENTARES NORMAS

A Queima das Fitas, a festa maior dos estudantes, está aí à porta da Lusa Atenas. Recentemente, um grupo de hoteleiros da Baixa manifestou-se na Câmara Municipal de Coimbra contra a proibição de, durante a festa, os estabelecimentos se poderem estenderem e colocar na rua postos de venda de cerveja e outras bebidas. Respeitando outras opiniões contrárias, a edilidade fez muito bem em limitar a bagunça a que se assistiu nos últimos anos. Se os profissionais de hotelaria detêm um espaço físico para venderem os seus produtos, a meu ver, é um contra-senso virem colocar na via pública colunas de cerveja e outros afins. Mas há um porém, esta limitação só faz sentido se a autarquia proibir as marcas cervejeiras de, como em anos anteriores, fazendo concorrência selvagem e em completo desrespeito por quem está, espetando uma lança em África, colocarem postos de venda a esmo e com distribuição anárquica e em contraste com o ordenamento monumental que se espera de uma zona protegida e classificada como Património Mundial.

PRAÇA DO COMÉRCIO

Depois de muito se ter escrito sobre o futuro da Praça do Comércio, e há poucos meses uma cidadã ter posto em prática um abaixo-assinado para repor a ordem perdida e acabar de vez com o estacionamento selvagem na antiga praça, eis que, de repente e sem nada o fazer prever, o executivo faz anunciar a reclassificação do nobre largo da Baixa.
Pode parecer que estou contra. Nada disso. É uma necessidade de obra que só peca por tardia. Tendo em conta o virar do milénio, pela ascensão da Coligação por Coimbra em 2001, há 16 anos que, de promessa em promessa, se espera uma alteração que faça renascer das cinzas a dignidade ofuscada do mais antigo mercado da cidade, que já vem do início da Idade Média. Por parte da Câmara Municipal, há um senão que convinha esclarecer e que não foi noticiado aquando da boa-nova: o que vai acontecer aos vendedores ambulantes, instalados há décadas junto à Igreja de Santiago, e à Feira de Velharias, nascida em 1991 e uma das primeiras no país?
Se seguirmos o curso histórico de Coimbra, as mudanças são sempre desastrosas e catastróficas para um ou mais grupos envolvidos. Se é certo que para uns ganharem outros, indubitavelmente, terão de perder, tenho para mim que há uma grande insensibilidade e desrespeito por quem precisa de ganhar a vida. Sendo um pouco pessimista nesta nova alteração, ninguém me tira da cabeça que estamos perante uma medida eleitoralista, sem plano de pormenor que convença, e, pelo formato disruptivo, descontextualizada. Oxalá esteja enganado. Mas se a minha tese estiver certa, esta decisão executiva, com o argumento das obras e “chico-espertismo” de com uma cajadada matar dois coelhos, a coberto das alterações paisagísticas, visa duas intenções maléficas: retirar e transferir os vendedores ambulantes e a Feira de Velharias para o Parque Dr. Manuel Braga. Devendo ser antagónicos pelo princípio político, acabam por ser instrumentos a favor do vazio e da desertificação.
Escusado será dizer que, a ser assim, uns e outra, desterrados para a sombra paradisíaca de um cemitério, sem futuro que se veja, vão desaparecer a curto prazo. É triste se assim acontecer. Mas também é verdade que, no tocante aos vendedores ambulantes, vem trazer à tona, preto no branco, que os executivos social-democratas e socialistas nunca tiveram um pingo de bondade e consideração para quem exerce o seu trabalho de sobrevivência na rua ao vento e à chuva. Uns e outros, PSD e PS, sempre desconsideraram estes resistentes como cardos espinhosos e malvistos numa cidade formatada ao acaso e ao deus dirá e sem atenção pelos vendedores mais carenciados. Sem levarem em conta o passado e a história, em vez de integrar, respeitando a idiossincrasia de todos, excluem por regulamento. É um baralhar e dar de novo.
Já no tocante à Feira de Velharias, se for transferida para o silêncio das acácias em flor, este presidente, Manuel Machado, que esteve na sua fundação, vai ficar com o encargo de escrever o epitáfio no coval em que se vai enterrar o popular certame de coisas antigas e usadas.
Já muito escrevi sobre o colete de forças a que está sujeita esta feira. O seu encolhimento continuado está a matar o seu ideal rejuvenescimento. Não se contesta e até se concorda com o aparecimento de novas esplanadas na Praça do Comércio. O que não se vê com bons olhos é que não se respeite a base genética deste evento. Se nasceu aqui, tendo em conta outros interesses, no mínimo, deve manter-se e estender-se para as ruas largas e ruelas estreitas em redor. Se tivéssemos pessoas responsáveis que amassem a Baixa e estivessem interessadas na prossecução da conveniência de todos, operadores, consumidores e cidadãos em geral, seguindo o exemplo de Aveiro, seria assim que se faria. Acontece que, nem antes nem depois, não temos gente na cultura com visão holística. Como os governantes do país, têm uma vista curta de conveniência para alguns e egoísta do ponto de vista da reeleição.
Só para melhor exemplificar: em Coimbra a ocupação de espaço público para venda na feira é gratuita -claro que se nada se cobra, é óbvio, nada se faz em prol da sua continuidade. Em Aveiro, este ano, o custo por metro quadrado duplicou. Há vendedores a pagarem por ano mais de 200 euros, e a feira continua a estender-se pelo Rossio e com cada vez maior procura. Não era melhor inscrever algumas destas pessoas de Coimbra num curso rápido de economia social?

TRÂNSITO

Depois de cerca de 600 milhões de euros orçamentados para a construção da “rotunda” do Continente, aliás do Arnado, verifica-se que o trânsito na Avenida Fernão de Magalhães, diariamente, está um caos. Entre a Estação Nova e a nova oval, num percurso de um quilómetro, facilmente, a qualquer hora do dia, se pode demorar mais de quinze minutos. Não fazemos ideia se os sinais luminosos já estariam incluídos neste novo projecto. Se não estão, forçosamente, terão de fazer parte e passar a estar.

CANDIDATOS À CÂMARA

Se é certo que já se ouve o troar dos motores, ainda não foram ligadas as máquinas em toda a sua plenitude. Batendo levemente como se chamassem por nós, eleitores, os novos vendedores eleitorais de caça ao voto, com as bíblias debaixo do braço e apregoando a mensagem do Messias, o salvador, todos prometem recuperar a Baixa do atoleiro em que se encontra. De repente, esquecendo a amizade de muitos anos, todos apontam o cano da espingarda ao actual presidente da autarquia acusando-o de muitas malfeitorias. É de supor que Manuel Machado, sem dormir há muitas noites pelos telefonemas desculpabilizantes a horas impróprias dos até aqui amigos, é de imaginar, esteja farto desta campanha que antes de o ser já foi.
Por parte da máquina do recandidato socialista, tendo por objecto o seu principal opositor representante da coligação PSD/CDS/PPM, já começou o recurso ao passado emporcalhado. Como diria o Diácono Remédios, para um e outro: “não havia necessidade!


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