segunda-feira, 27 de junho de 2016

ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS EM EXPOSIÇÃO




EXPOSIÇÃO PRESENTE NO "MUSEU TEMPORÁRIO DE MEMÓRIAS", NA RUA VELHA, UMA PERPENDICULAR À RUA EDUARDO COELHO, COM A COLABORAÇÃO DESTE BLOGUE




TEXTO DE APRESENTAÇÃO DE “ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS”


Desde 2007, altura da criação do Blogue Questões Nacionais, que me preocupei sempre em dar voz aos mais humildes, aqueles que, vestidos de anonimato, com a sua idiossincrasia, calcorreiam as pedras milenares da Baixa de Coimbra e nunca são motivo de atenção pública, nem mesmo no último suspiro. Por que todos temos uma narrativa, falo com eles, ouço os seus lamentos, enalteço as suas virtudes e, romanceando com carinho, conto as suas histórias de vida. Como a justificar a sua existência silenciosa e errante entre nós, talvez com a veleidade de servirem como documento de estudo social comparativo para a posteridade, tento mostrar que são pilares da comunidade –por que, embora pareça que não, de facto, são mesmo sustentáculos. Ainda que subtilmente, a sociedade revê-se em figuras que quebram as normas societárias e alteram as rotinas e, sem dar por isso, acaba a amar os diferentes entre iguais.
A ideia que subjaz a esta iniciativa com o título “ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS” é retirar do silêncio da clandestinidade citadina pessoas que conhecemos a fisionomia mas, para além disso, nada sabemos delas. Amam, sofrem, têm laços familiares, vivem e sobrevivem de quê? Dando-lhes visibilidade, poderemos fazer algo por elas?
A pergunta que poderemos fazer é se os vinte agora sujeitos a escrutínio popular são os mais importantes? De modo nenhum. Uma selecção implica sempre critérios de subjectividade, o que quer dizer que, no caso de outro a apurar, poderiam ser novos eleitos para figurarem nesta galeria de nomeados. De cerca de uma centena de pessoas que na última década passaram no Centro Histórico e, em sua memória intemporal, presentes no blogue –uns ainda estão entre nós e outros não-, sem desprimor para os restantes, foi escolhido este leque de notáveis. Para todos, os que fazem parte e excluídos, o que nos guia neste trabalho é um profundo respeito pela sua passagem e agradecimento por nos fazerem companhia.
Embora a última distinção caiba por inteiro à organização do “Museu Temporário de Memórias”, se posso escrever em nome dos agora representados em foto e com pequena história resumida, pela oportunidade, o meu muito obrigado.
António Luís Fernandes Quintans


ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS


1 - IMAGEM – “MONSIEUR VELHUSTRO

Quando se pensa em antiguidades e velharias é impossível não recordarmos a imagem de Carlos Manuel Dias. Com o seu inesquecível “Velhustro” no Largo do Romal desde 1971, Carlos Dias fez parar o relógio do tempo. Nesta época de correria louca em busca obsessiva de um futuro precoce, obrigou a olhar o passado, pela memória das coisas, como a invisível super-estrutura humana.  Como arqueólogo recuperador de um passado assente em sinais marcados, ele vê à distância o que comum não logra a um palmo. Os objectos, enquanto criação de arte, elaborada, destinada a uma elite, ou vulgaridade, dirigida às massas, são extensões de nós. Por discutível que seja, somos um resultado do que temos ou o que tivemos na vida.

2 - IMAGEM – “CARLITOS PIPI

Em metáfora, as cidades são grandes jardins onde convivem harmoniosamente plantas de toda a espécie floral. A marcar a distinção entre as flores, numa beleza rude e a quebrar o situacionismo edílico, encontramos a rosa brava. O Carlos Alberto dos Santos Duarte, mais conhecido por “Carlitos Pipi” é a rosa brava da Baixa de Coimbra. Por ser diferente da maioria, como se fosse uma criança crescida, é amado e respeitado por todos e terá para sempre um lugar cativo na história da Lusa Atenas.

3 - IMAGEM – “A ÚLTIMA BOLEIRA

Até há cerca de dois anos, como relógio suíço a calendarizar o dia, fizesse chuva no nabal ou Sol na eira, impreterivelmente, todos os Sábados encontrávamos a Dona Mercês a percorrer as ruelas e becos da Baixa. À porta dos estabelecimentos comerciais ecoava o seu inconfundível pregão interrogativo “VAI UM BOLINHO DE ANÇÃ, MENINOS?”. Amiúde, por parte dos compradores, era abordada com outra pergunta: “tem cornos, Dona Mercês?”. E a septuagenária respondia: “já não tenho. Agora só dos redondos!”. Provavelmente retirada desta estimável venda ambulante pela elevada idade, a senhora Mercês deixou as ruas do Centro Histórico de Coimbra mais pobres e solitárias.

 4 - IMAGEM – “O BALADEIRO

Os artistas de rua deveriam estar para os governos autárquicos como o mar está para o pescador. Tantas vezes destratados por carregarem o anátema do vadio, não lhes é dado o valor de criadores a que, legitimamente, têm direito. Cantam, encantam, quebram o bucolismo serôdio dos transeuntes ensimesmados e animam as ruas da cidade. O João Torres, em representação excelente de classe, é um deles. Exímio intérprete das baladas de José Afonso, com uma voz potente de tenor, presumivelmente por não ser suficientemente protegido em Coimbra, debandou e procurou novas paragens onde fosse mais acarinhado e reconhecido.

5 - IMAGEM – “O HOMEM DA BICICLETA ÀS CORES

As cidades, na sua diversidade, são uma extensa galeria de arte vária. A maioria de nós não se apercebe das diferenças que subsistem entre os seus elementos. Talvez porque, por um lado, estamos inteiramente afundados nas pessoais preocupações, e, por outro, pela acultura que destrói a sensibilidade individual. Sem querer, acabamos por olhar para tudo e todos como igual e como fazendo parte da mesma massificação. Um destes quadros vivos de expressão surrealista é o Celso Loureiro, o “homem da bicicleta às cores”. Vindo dos arredores da cidade, durante vários dias da semana, faz-nos companhia e enriquece o nosso horizonte existencial.

6 – IMAGEM - “O HOMEM DO(A) CAIS

Por nos cruzarmos diariamente, há pessoas que mesmo sem as conhecermos, nem nunca termos trocado uma palavra, numa psicológica proximidade indescritível, acabamos por nos afeiçoar e, sem darmos conta, fazemos deles apoios existenciais. Aos nossos olhos, num apriorismo enganador, podem ser donos de uma simpatia invulgar ou o contrário. Quando desaparecem da nossa vista, sentindo a sua falta, com eles levam um pouco de nós e, inevitavelmente, surge a culpa de, enquanto nos encontrámos, nunca termos trocado um “bom dia”. A vender a revista Cais, o italiano Giusepe, mais conhecido por Pino, é um afectuoso calcorreante das Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges. Pela sua esmerada educação, humildade e distribuidor de amor ao próximo, por direito próprio, tem um lugar escrito a fogo na história da Baixa.

7 – IMAGEM - “O POPEYE

Até há cerca de um ano, com o seu andar desengonçado, voz esganiçada, roupas coloridas e boné na cabeça, o António Simões da Silva, conhecido por “Tónio Bombeiro”, foi presença assídua na Baixa. Para melhorar o seu bem-estar foi transferido para um lar da Cáritas, ali para os lados Areeiro, e, sem ele o saber, sentimos a sua falta a marcar a rotina. O “Tónio” é um daqueles figurantes carismáticos que pululavam nesta zona velha. Pessoas como ele são uma espécie de flores silvestres que nascem e vivem numa área habitacional. Pela forma desligada, na diferença, em consequência da sua leve demência imprimem uma marca inconfundível e, talvez sem o notarem, são profundamente amados pela colectividade. Tal como a imagem deixa transparecer, todos gostamos muito de ti, António.


O seu local de trabalho, incluindo escritório, loja e oficina, é na Rua da Sofia, ao ar livre. Há várias décadas que, independentemente dos humores de São Pedro, encontramos o Rui Jorge Pereira Almeida ora a plastificar documentos, ora a vender o “Borda D’água” –o verdadeiro, como sublinha com ênfase. Tem noção de que a sua profissão está ameaçada. No tocante aos plastificados, qualquer dia já ninguém passa cartão a ninguém. No referente à popular cartilha do agricultor, se, por um lado, agora é tudo científico, em grande escala, e já ninguém olha para a Lua, por outro, há quem venda gato por lebre, como quem diz, fotocópias, e rebentam-lhe com o negócio. O Rui é um carismático que, pela força da razão, ganhou um lugar entre nós.

9 – IMAGEM – “O EREMITA

Encontramo-lo muitas vezes nas ruas da cidade. Acerca de si, contam-se histórias efabuladas. Dizem que é um homem abastado, dono de grande riqueza, e senhor de grande saber intelectual. Alheio a isso tudo, talvez único nesta sociedade egoísta, renegando a materialidade e não querendo saber da opulência, só o seu coração de ouro parece prevalecer. Por ventura, contrariando os ventos do ter em prol do ser, será um eremita moderno que, com inegável louvor, merece a nossa admiração. Provavelmente sem o saber, causa-nos inveja o seu desprendimento. Por respeito à sua intrínseca forma de ser não o identificamos.

10 – IMAGEM – “A RAINHA

A sua pose formal, estudada e retocada em longas noites de insónia numa modesta casinha de uma rua estreita da Baixa de Coimbra, poderia dar em caso de estudo. Sem se saber bem onde começa a realidade e a ficção, a verdade é que Maria Teresa Pena, a “menina Teresinha” como sempre exigiu ser tratada pelos mais chegados –que os mais afastados não merecem confiança-, conquistou um lugar de relevo no quadro histórico da urbe citadina. Felizmente de boa saúde, está recolhida num lar de repouso para os lados do Norte do país. Pela sua personalidade vincada, onde a fantasia marca a intemporalidade da vida, merece um lugar de destaque.

11 –IMAGEM– “O ARDINA

Dando continuação a uma profissão que resta apenas na memória colectiva, há cerca de cinco anos a vender O Despertar, é hábito, todas as sextas-feiras, ouvirmos o seu pregão ecoar por entre sombras de recantos pitorescos da Baixa: “OLHOOOOÓ… DESPERTAR! É P’RÓ MENINO E P’RÁ MENINA! PRÓ PAI E PARA O AVOZINHO! OLHOOOOÓ… DESPERTAR!”
Victor Manuel Lucas é um “self-made-man”, um faz tudo. Desde pintar uma tela, concertar um relógio até restaurar um par de sapatos, o Victor é o paradigma do português desenrascado, trabalhador nato, e formado na faculdade da vida. Por ser quem é, merece por inteiro figurar nesta galeria de notáveis.

12 – IMAGEM – “O MÚSICO SOUL

Durante os últimos anos demos de chofre com ele a tocar viola acústica e a cantar mornas na Rua Visconde da Luz. Cabo-verdiano de nascimento, Lourenço Pina escolheu Coimbra como cidade de acolhimento. Homem de talento, onde a alma resplandece sem filtro, com a sua voz caninha a registar o compasso, por razões que a razão desconhece, por que nunca lhe foi dada uma oportunidade ou por nunca aproveitar o dom que a Natureza o bafejou, não atingiu os mínimos de artista consagrado. Durante cerca de dois anos integrou a desaparecida “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra”. Pela sua isotérica apresentação e companheiro da vivência da Baixa, como marca registada, o Pina ficará para sempre na nossa memória citadina.

13 –IMAGEM – “O CADACHO

Caminheiro solitário destas pedras gastas pelo tempo, Manuel Cadacho é um vigilante do efémero, do nada. Numa imaterialidade, vazio como alma em busca de um encosto, há no entanto nele algo de tangível que se adivinha. Um pouco de tudo. Uma projecção de todos nós. Já foi criança, já foi homem –no sentido da utilidade societária, porque sem préstimo o humano torna-se coisa-, já foi empregado, já foi patrão, já foi pau-mandado a troco de qualquer coisa. Já foi significado de respeito. Agora, significante de sombras, faz que faz apenas para se manter ocupado sem nada fazer. Agora, normalmente com poiso assente na Praça do Comércio, sem nada pedir, sem nada fazer, procura um simples sorriso que, para quem nada tem, pode constituir um dia de felicidade.

14 – IMAGEM – “O MÚSICO CEGO

Na Baixa da cidade passamos sem ver por imensos artistas de rua como ele. O Luís Cortez, em que o talento, como espuma de uma taça de champanhe, transborda abundantemente e se perde escorrendo em fios de displicência, é um Intérprete com maíúscula que faz da música o seu ganha-pão. Sendo invisual, os seus olhos não vêem a luz mas choram em sombras de silêncio. Mais que certo, lacrimejam com lágrimas sentidas e derramadas por um coração que sofre pela exclusão de todos nós. O mais grave é que este ostracismo é fruto, tantas vezes, de uma insensibilidade mesquinha e falta de respeito pela arte criativa que se nos apresenta ao ar livre. Em apriorismo bacoco, dando por acabado que o que é oferecido a troco de uma simples moeda não presta, fechamos nossos sentidos à revelação da verdade e fugimos do performer como o diabo da cruz. Esquecemos que, pela sua parcial eficiência, aquele trabalho é o único meio de almejar um pecúlio que o pode tornar igual a tantos de nós. Descuramos o quanto a sua função laboral é importante para transformar o dia-a-dia da Baixa de Coimbra, e, com a sua música e voz, faz a ponte entre o remanso incomodativo de uma rua vazia e o imaginário bucolismo campestre com o cantar da passarada.
O Cortez, com a sua idiossincrasia, sendo um ícone de reconhecida aptidão musical na Baixa de Coimbra, é um marco distinto na paisagem urbana.

15 – IMAGEM – “O “VAN GOGH” PORTUGUÊS

vila da Parede, Lisboa, foi o seu berço e onde deixou centenas de amigos. A par da Figueira da Foz, o seu refúgio encantado, Coimbra foi a sua segunda cidade-natal. Nestes três lugares portugueses, para além de outros, pintou obras plásticas de inegável beleza que espalharam pelo mundo a sua génese de criação pictórica e artística.
Pedro Duarte da Silva Freitas foi um artista de excelência. Na última década foi um residente do efémero e um dissidente permanente da Lusa Atenas. Homem de extraordinário talento, arrastando-se pelos interstícios da vida e por opção própria, nos últimos dois anos, andou pela Baixa de Coimbra quase sempre aos “caídos”.
Por cá e lá, deixou obras imortais projectadas em tela e aguarela que, para contemplação metafísica, eternamente nos farão companhia e impedirão que o manto do fenecimento apague a sua memória. 
Em Maio de 2016, sem se despedir, precocemente morreu sozinho como sós vivem os grandes artistas na sua clausura necessária e criadora.
Pelo seu fabuloso génio, pelo desprendimento como viveu a vida, trocando a satisfação do presente pela imprevisibilidade do amanhã, pela legitimidade conquistada na idiossincrasia, o Pedro Freitas tem um cantinho assegurado no coração da cidade e de todos quantos com ele conviveram.

16 – IMAGEM – “A ÚLTIMA TREMOCEIRA

O seu lugar reservado no lancil de pedra em frente ao desaparecido Banco Espírito Santo, a vender tremoços, amendoins e pistachos há mais de cinco décadas, está tão habituado à sua presença que um dia, que seja tarde, se lhe faltar a carga vai chorar lágrimas copiosas em amargura solidificada. Mais que certo, saído daquele bloco inerte e frio, vai ouvir-se uma voz saída das suas entranhas: “Adelaide vem cá baixo, meu amor estou aqui, sinto tanto a tua falta, que quero morrer por ti.
Maria Adelaide, uma Padeira de Aljubarrota, uma mulher do povo que, se preciso for, corre os infiéis desavergonhados com grossos impropérios, é uma resistente. Já fez de tudo um pouco, até a vender castanhas assadas na Praça 8 de Maio. Com mais de noventa anos de idade, no seu posto de sempre, ainda agora continua a trabalhar e a driblar o destino que se lhe atravesse para lhe pôr entraves a uma vida sempre a aviar. É mais conhecida na Baixa que o “Conquistador”, Dom Afonso Henriques, que repousa ali ao lado no Panteão Nacional.
Por mérito próprio, conquistado a pulso, é uma emérita representação humana da luta entre o mirrar num sofá e o estrebuchar até ao último suspiro. Gostamos muito de ti, Adelaide!  

17 – IMAGEM – “O ZÉ DA ANITA

Durante muitos anos arrumou carros junto à Loja do Cidadão. Depois, como as andorinhas em busca de terra quente, partiu e deixou de ser visto. A meio do ano passado, como a dar cumprimento ao eterno retorno, voltou ao seu antigo poiso. Como folha caída no Natal, todo o artista é senhor do mundo e o mundo não o reconhece como seu, aventa-se. Mais velho, mais acabado, não confessa por onde andou.
De voz caninha, levemente rouca e melodiosa, não fosse o caso de ser uma pessoa de fino trato, educado, bem-formado, e servil, poderia ser simplesmente mais um anónimo arrumador perdido nas sombras de todos nós. Com uma graça imanente, pelo seu carisma, pela sua forma de estar, o “Zé da Anita”, como é conhecido entre nós, marca presença vincada onde quer que esteja. Numa função social que não é considerada profissão e poucos lhe dão valor e utilidade, o “” marca a Baixa de Coimbra e este tempo hodierno, que não tendo espaço para a memória dos mais humildes, apaga tudo o que seja socialmente irrelevante.
Se o encontrarmos hoje, amanhã e depois junto à Loja do Cidadão puxemos de uma moeda e lembremo-nos que o “Zé da Anita”, para além de ser uma figura típica, é um de nós.

18 – IMAGEM – “O CRISTO NEGRO DA MARACHA

Até há cerca de meia-dúzia de anos, Anildo Monteiro, cabo-verdiano de nascimento, foi um pária, descalço e andrajoso, que, dia e noite, deambulava pela Baixa. Muito sujo, barba hirsuta e emporcalhada, vagamente se parecia com gente. Dormia num prédio abandonado no Largo da Maracha. Como pingue-pongue entre o Ministério Público e serviços hospitalares, que negavam a sua demência evidente, foram necessários muitos meses para “obrigar” a Câmara Municipal a intervir. Foi internado compulsivamente em estado de saúde degradante no Centro Hospitalar de Coimbra (Covões) onde, alegadamente, viria a falecer. Em nome do inalienável ser pessoa, um caso para reflexão.

19 –IMAGEM – “A VENDEDEIRA DE CASTANHAS

O seu lugar reservado no lancil de pedra em frente ao antigo Banco Espírito Santo, a vender tremoços, amendoins e pistachos há mais de cinco décadas, está tão habituado à sua presença que um dia, que seja tarde, se lhe faltar a carga vai chorar grossas lágrimas em amargura solidificada. Maria Adelaide, uma mulher do povo, uma Padeira de Aljubarrota que, se preciso for, corre os infiéis com impropérios, é uma resistente. Já fez de tudo um pouco, até a vender castanhas assadas na Praça 8 de Maio. Com mais de noventa anos de idade, no seu posto de sempre, ainda agora, continua a trabalhar e a driblar o destino que se lhe atravesse para lhe pôr entraves a uma vida sempre a aviar.


20 - IMAGEM – “A MULHER DO PAIXÃO


Todos os lugares habitados possuem o seu louco de estimação. Figuras típicas perpetuadas em livros e no nosso fado castiço como “loucos da cidade”, são o outro lado do espelho da nossa incomensurável loucura. Coimbra, enquanto urbe de dimensão média, teve e continua a ter os seus vários “figurões”. Adelino Paixão um dos ícones maior marca um tempo. Parceiro de madrugada de outros célebres viandantes como Daniel “Tatonas”, do Pedro e do Carlos Alberto Freire, o “Pirilau”, o Paixão deixou-nos em 2012. Para sempre ficará a sua incontornável rebeldia. Na imagem a companheira do Adelino num momento introspectivo de leitura. Atente-se na posição do dedo a indicar “O que vamos nós fazer de tanto amor?”

1 comentário:

LEP disse...

Conhece este?:

https://archive.org/stream/typosdecoimbra00mont#page/n1/mode/2up

Já fazia falta nova edição, "revista e augmentada.."
Cumprimentos